Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial: Stanislav Grof

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Matriz Perinatal Básica II - Antagonismo com a mãe

(Contrações em um sistema uterino fechado)

"Não duvidamos que o que está acontecendo é o que as religiões chamam de Inferno - tormentos emocionais e físicos insuportáveis sem qualquer esperança de salvação."
Quando a regressão experiencial alcança a memória do contexto do parto biológico, costumamos nos sentir sendo sugados por um redemoinho gigante, ou engolidos por uma besta mítológica. Também podemos experienciar que o mundo inteiro ou mesmo o cosmos está sendo engolido. Isto está associado com imagem de devoramento ou prisão de monstros arquetípicos, como os leviatãs, dragões, cobras gigantes, tarantulas e polvos. A sensação de ameaça vital iminente pode provocar grande ansiedade e sintomas paranóides. Também podemos sentir uma descida ao mundos subterrâneos, o reino da morte, ou inferno. Como o mitologista Joseph Campbell tão brilhantemente descreveu, isto é um aspecto universal da jornada do herói. (Campbell 1968).



Reviver totalmente o primeiro estágio do parto biológico quando o útero está contraído, mas a cérvice não está aberta (MPB 2), é uma das piores experiências que o ser humano pode ter. Nos sentimos presos em um pesadelo claustrofóbico gigantesco, sofremos dores físicas e emocionais agonizantes, e temos a sensação de total desamparo e falta de esperança. Sentimentos de solidão, culpa, absurdo da vida, e desespero existencial podem alcançar níveis metafísicos. Perdemos a conexão com o tempo linear e nos convencemos que esta situação nunca terminará, e que realmente não existe nenhuma saída. Não duvidamos que o que está acontecendo é o que as religiões chamam de Inferno - tormentos emocionais e físicos insuportáveis sem qualquer esperança de salvação. Pode ser acompanhado de imagens arquetípicas de demônios e paisagens infernais de diferentes culturas.


Quando encaramos a desastrosa situação de não-saída no aperto das contrações uterinas, nos conectamos com sequências do inconsciente coletivo que envolvem pessoas, animais e mesmo seres mitológicos em semelhante situação sem saída. Nos identificamos com prisioneiros em celas, em campos de concentração ou internos em asilos de loucos, e com animais presos em armadilhas. Experienciamos as intoleráveis torturas dos mentirosos no inferno ou de Sísifo rolando sua pedra abaixo da montanha de Hades.

"De uma perspectiva mais ampliada, apesar dos sentimentos de total falta de esperança que isso apresenta, isso é um importante estágio de abertura espiritual."
A nossa dor pode tornar-se a agonia de Cristo perguntando a Deus porquê Ele o abandonou. Sentimos estar frente à danação eterna. Tal estado de escuridão e desespero abismal é conhecido da literatura espiritual como a "Noite Negra da Alma". De uma perspectiva mais ampliada, apesar dos sentimentos de total falta de esperança que isso apresenta, isso é um importante estágio de abertura espiritual. Se for experienciado em toda a sua profundidade, pode ter um efeito liberador e transformador naquele que o experiencia.




... de "Trauma do Nascimento e Suas Relações com Doenças Mentais, Suicídio e Êxtase ("Birth Trauma and Its Relation to Mental Illsness, Suicide and Ecstasy")

A Fenomenologia da MPB 2 em sessões de LSD, assim como a sintomatologia clinica em períodos após as sessões dominadas por esta matriz, mostram as características fundamentais da depressão: inibição motora geral, dor mental agonizante e sofrimento, ansiedade, sentimentos arrebatadores de culpa e inadequação, total falta de interesse, percepção seletivvamente negativa do mundo e da vida do sujeito, percepção em preto-e-branco do mundo, sem cores, e sentimentos de situação de vida inescapável e insuportável, com nenhuma esperança de solução.



As manifestações físicas da depressão também estão de acordo com este conceito: sentimentos de opressão e constrição, perda do apetite e rejeição à comida, retenção da urina e fezes, inibição da libido, dores de cabeça, desconforto cardíaco, dificuldade de respirar a várias reclamações interpretadas ocasionalmente como hipocondria. A ideação suicida de tal condição é uma forma de um desejo de não existir, de cair num sono profundo, esquecer-se de tudo, e não acordar no dia seguinte.


Os sistemas COEX relacionados com a MPB 2, fazendo sua conexão com o ego, estão de acordo com o modelo freudiano de situações de frustração oral na infância, privação emocional na infância e adolescência, a vários eventos traumáticos onde o sujeito esteve no papel de vítima passiva.


Situações familiares opressivas para o indivíduo, onde não permitem nenhuma rebelião também fazem parte desta categoria. Uma parte bem comum dessas COEX são experiências envolvendo ameaças à sobrevivência e à integridade física. Parece que os aspectos psicotraumaticos de doenças graves, machucados, operações e episódios de quase afogamento foram grosseiramente subestimados na dinâmica psiquiátrica de possíveis fatores patogênicos da depressão.

Estrategia De Vida - O Caminho Do Curso D`agua

Trechos do livro "Quando o Impossível Acontece", de Stanislav Grof, pela Editora Heresis, 2007
"O Caminho do Curso D`água" - Pagina 79

 
Uma das características mais impressionantes do trabalho experimental profundo com estados ampliados de consciência é o efeito que tem sobre o nosso modo de vida e sobre a estratégia que usamos para lidar com desafios e projetos.

O modelo oferecido em sociedades tecnológicas, no que se refere a isso, é definir o objetivo que desejamos conquistar e buscá-lo com energia concentrada e determinação inabalável. 

Isto inclui a identificação e remoção de obstáculos que impedem nosso avanço e o combate com potenciais inimigos. A vida de um indivíduo que siga essa receita assemelha-se a uma luta de vale-tudo ou uma competiçao de boxe.

Trabalhei com muitas pessoas que conseguiram entender as forças psicológicas subjacentes a esta estratégia e transcendê-la.

Essas pessoas descobriram que este enfoque à existência reflete o fato de que não superamos a marca deixada pelo trauma do nosso nascimento em nossa psique e estamos separados e alienados do domínio espiritual. 

Nossos esforços para conquistas externas são projeções de um esforço mais profundo e muito mais fundamental para completarmos psicologicamente o processo do nascimento e para fazermos uma conexão espiritual. 

Não há fim para a nossa fome por conquistas externas, porque nunca temos o bastante do que, na verdade, não precisamos ou desejamos. 



A auto-exploração responsável e sistemática pode ajudar-nos a superar o trauma do parto e a fazer uma conexão espiritual profunda. 

Isto nos leva na direção do que os mestres espirituais do tao chamam de wu wei, ou "quietude criativa", que não é ação envolvendo o esforço ambicioso determinado, mas fazer por ser. Isto é chamado, às vezes, de "caminho do curso d`água", porque imita o modo como a água opera na natureza.

Em vez de nos concentrarmos em determinado objetivo pré-fixado, tentamos sentir a direção em que as coisas se movem e como podemos nos ajustar a esse movimento. 

Esta é a estratégia usada nas artes marciais e no surfe, que envolve o foco sobre o processo, em vez de no objetivo e no resultado. 

Quando conseguimos enfocar a vida dessa forma, acabamos por conquistar mais e com menos esforço. 

Além disso, nossas atividades não são egocêntricas, exclusivas e competitivas, como ocorre durante a busca de metas pessoais, mas inclusivas e sinérgicas. 

O resultado não nos traz apenas satisfação, mas serve também a um fim maior da comunidade.

Também observei repetidamente e já senti pessoalmente que, quando operamos nessa moldura taoísta, coincidências benéficas e sincronicidades extraordinárias tendem a ocorrer em apoio ao nosso projeto e nos ajudam em nosso trabalho. Descobrimos "acidentalmente" as informações que precisávamos, as pessoas certas aparecem no momento certo e os fundos necessários nos vêm inesperadamente.

Respiração Consciente: Uma Jornada para Libertar Corpo e Mente

A vida moderna nos desafia diariamente: estresse, ansiedade e a desconexão consigo mesmo tornaram-se companheiros silenciosos. E se existisse uma chave para desbloquear emoções reprimidas, ressignificar traumas e realinhar seu propósito? A Terapia pela Respiração Consciente surge não como uma técnica, mas como uma revolução interior, moldada por três décadas de transformações reais em milhares de vidas.  


A Respiração que Transcende o Óbvio  

Mais do que um ato involuntário, a respiração é um portal para o autoconhecimento. Enquanto a sociedade busca soluções rápidas em pílulas ou apps, nós mergulhamos na raiz: o poder do ar que entra e sai de seus pulmões.  


Na agitação, respiramos rápido e superficial, como em crises de pânico.  

Na apatia, a respiração torna-se lenta e contida, como na depressão.  


Aqui, propomos o oposto: usar a hiperventilação guiada para romper padrões. Ao acelerar conscientemente a respiração, você desativa o piloto automático emocional. É como pressionar um botão de reset no sistema nervoso, permitindo que o corpo libere toxinas emocionais acumuladas há anos.  


Esta terapia não se limita ao físico — ela desperta camadas profundas da sua existência.


1 O Encontro com Sua Essência  

   Quem você é além dos rótulos sociais? A respiração plena revela impulsos genuínos, motivações adormecidas e a voz interior que sussurra: Este é o seu caminho.  


2 A Dança com o Mundo  

   Relacionamentos, cultura, crenças… Tudo isso molda sua percepção, mas também pode aprisionar. Aqui, você reescreve narrativas limitantes, aprendendo a interagir com o externo sem perder sua autenticidade.  


3 A Sintonia com o Invisível 

   Espiritualidade não é dogma; é a consciência de que você faz parte de algo maior. É entender que cada respiro é um diálogo com o universo, um passo na jornada de sua alma.  


O Processo: Do Caos à Clareza  

Realizada em grupos íntimos (até 8 pessoas), a terapia é um mergulho de dois dias, dividido em três atos transformadores:  


1 A Torrente (Hiperventilação)  

Em um ambiente seguro, você entra em estado de fluxo através de respiração rápida e profunda. É um convite para soltar o controle, permitindo que emoções estagnadas subam à superfície e se dissolvam.  


2 O Oásis (Integração)

Após a tempestade, vem a calmaria. Um momento para compartilhar refeições e histórias, onde o grupo se torna espelho — cada relato reflete fragmentos da sua própria jornada.  


3 A Revelação (Compartilhamento Sagrado)  

Aqui, o cognitivo e o emocional se unem. Ao verbalizar experiências, você decifra símbolos internos, identifica padrões e, o mais importante, escolhe quais histórias merecem continuar. O grupo valida, apoia e amplifica sua voz, criando um laço de pertencimento raro em um mundo individualista.  


Por Que Isso Funciona?  

Liberação Fisiológica: A hiperventilação estimula a produção de endorfinas, reduzindo cortisol e reequilibrando o sistema nervoso.  


Cura Coletiva: Compartilhar vulnerabilidades em grupo quebra ilusões de solidão, você percebe que não está sozinho em suas lutas.  


Reescrita Neural: Padrões mentais tóxicos são substituídos por novos scripts, escritos por você, durante estados elevados de consciência.  


Seu Convite para Renascer  

Imagine sair desses dois dias não apenas mais leve, mas com ferramentas concretas para: 

 

- Dissolver ansiedade crônica e fadiga mental.  

- Ativar a resiliência emocional em situações desafiadoras.  

- Redescobrir paixões e motivações que jaziam esquecidas.  


Próxima Edição: Sábado 26/4, das 14h às 18h e Domingo 27/4, das 8h30 às 12h30.  

Vagas limitadas a 4 participantes — garantindo profundidade e atenção individual.  


Faça parte desta revolução silenciosa. 

Respire. Liberte-se. Transforme. 


Informações e Inscrições: 

Antonio Vaszken 

11 99285-4329 Whatsapp 



Nota: Este não é um tratamento médico, mas um complemento terapêutico. Consulte um profissional de saúde para condições específicas.

Sonhos de Parto e Nascimento

 


Quem já não teve sonhos assim? 

Sonhar que está passando por um buraco ou fresta, de alguma maneira claustrofóbica, sendo a única saída disponível.

Sonhar que se está em um labirinto, ou num ambiente de arquitetura labiríntica, podendo ser sem-saída ou com uma saída quase impossível.

Sonhar que se está girando e caindo numa espécie de espiral, sem controle e com muita angústia.

Pois essas situações e sensações são muito parecidas com aquelas vividas num parto normal ou nascimento biológico, e é bem fácil acessar esse tipo de memória sensorial durante um sonho, que é quando a nossa consciência se abre para muitos aspectos inacessíveis no dia-a-dia.

Stanislav Grof, um psiquiatra tcheco, com 81 anos de idade, morando atualmente nos EUA, estudou por mais de 50 anos experiências psicodélicas e estados modificados de consciência sem drogas, em mais de 200.000 indivíduos desde os anos 1960.

Suas pesquisas clínicas demonstraram que reviver o próprio parto em estados modificados de consciência, inclusive em sonhos, tem um grande potencial de cura e transformação da personalidade.

Segundo a medicina tradicional, o nascimento é um evento inacessível à memória cognitiva, devido à falta de uma estrutura completa de neurônios de memória. 

Porém, diversas teorias psicológicas tais como a psicanálise Winnicotiana, a psicologia infantil de Melanie Klein, assim como estudos das fases do desenvolvimento do comportamento humano, atribuem uma significativa influência de problemas da gestação e do parto, nos comportamentos e nos modos de relação do bebê com o mundo, desde a esquizofrenia até distúrbios agressivos. 

Otto Rank foi o primeiro psiquiatra a citar a influência do "trauma do nascimento" na personalidade. Discípulo de Sigmund Freud, encontrou grandes resistências ao defender suas hipóteses sobre o trauma vivido pelo bebê ao perder a segurança da mãe, no momento do nascimento. 

Stanislav Grof, com suas pesquisas clínicas, nos revela que o trauma do nascimento é marcante em todos nós, não apenas quando saímos de dentro do corpo materno, mas desde a gestação até as fases biológicas do trabalho de parto. 

Ele denominou essas quatro fases do nascimento de Matrizes Perinatais. Matrizes, por serem padrões de experiências físicas e simbólicas, que remetem tanto ao nascimento biológico quanto a um renascimento psicológico do adulto, onde ele renova suas referências existenciais de ser-no-mundo com si mesmo e com os outros. Perinatal, por estar ao redor ou próximo (peri) do nascimento (natal). 

O parto é a nossa chegada inicial e marcante ao mundo. E podemos reviver as sensações de estar nascendo ou morrendo (ansiedade, pânico, tontura) quando estamos prestes a uma mudança existencial significativa (crise da adolescência, casamento, novo emprego, perda de situações conhecidas, etc). O parto é ao mesmo tempo uma experiência de morte e renascimento.

Ao reviver o próprio parto, somos adultos regredindo a uma experiência remota, onde a consciência adulta é capaz de atribuir um significado adulto e maduro a uma situação de vulnerabilidade e insegurança, vivida por um bebê.

Ainda que o nascimento biológico exerça uma influência, devemos ser cautelosos para não reduzir todos os problemas de saúde físicos e psicológicos a problemas de gestação ou dificuldades do parto.

As Cinco Forças da Autorrealização Humana

Existem forças ou padrões de experiências que somos capazes de acessar, e que nos conectam com as bases da existência.

Quando chegamos ao mundo, passamos por essas forças durante o nascimento biológico e além dele, na vida adulta.

Posteriormente, repetimos esses mesmos padrões em diversas situações. São as forças que nos movimentam física, mental e espiritualmente.

1a Força - Segurança, concentração e preparação da energia.

Gestação dentro do útero materno. Todas as condições são ideais para a geração do corpo do bebê, alimentação, crescimento e proteção.

Na vida pós-natal e adulta, são situações onde tudo se encontra em equilíbrio ou zona de conforto. Lugar ou situação onde não há necessidade de mudança.

Aspectos positivos: generosidade, otimismo, busca de prazer, abertura para o mundo, espontaneidade.

Aspectos desafiadores: Vulnerabilidade, Ingenuidade, Falta de foco e motivação. 

2a Força - Interiorização e medo

Início do trabalho de parto, a bolsa do útero se rompe, fazendo com que todo o líquido amniótico seja eliminado, junto com o calor e a proteção do estágio anterior.

Contrações uterinas expulsam o bebê do útero, em direção ao canal do parto. A abertura ainda é muito pequena para permitir a passagem do corpo do bebê, então, ele fica entalado e preso.

Desenvolvimento da cautela, amadurecimento e sabedoria. Contato com as profundezas e aspecto espiritual da existência. Continuação da jornada do Herói, descida ao submundo e ao Inferno.

Na vida pós-natal e adulta, relação com todas as situações de vitimização, impotência, medo, incerteza, pânico e sensação de sem-saída.

Sentimentos e sensações relacionados:
Depressão, certeza da finitude, falta de esperança, ausência de futuro, prisões, identificar-se com prisioneiros de campos de concentração, pacientes de hospital psiquiátrico.

3a Força - Determinação e luta pela sobrevivência.

O bebê se encontra dentro do canal de parto, existe uma luz no fim do túnel. Enormes pressões mecânicas são exercidas sobre o seu corpo, despertando forças instintivas de reação e luta pela sobrevivência.

Na vida pós-natal e adulta, é a fase de máxima expansão da energia corporal e mental, raiva, agressividade, contato com outras pessoas. Agitação e dificuldade de ficar parado.

4a Força - Responsabilidade, reconhecimento do esforço e integração das dualidades.

Finalmente, após um grande esforço e, também, entrega e perdas, chegamos ao fim de uma jornada. Saímos de dentro do corpo da mãe, e somos um ser separado dela. Encontramos um novo lar. Dessa vez, reconhecendo a nossa força pessoal e limites.

5a Força - Transcendência e identificação com o Todo.

Somos capazes de ir além do ciclo de morte e renascimento, reconhecendo a transitoriedade e constante transformação que somos, o tempo todo. Podemos nos apegar a algum aspecto que nos defina, mas sempre seremos surpreendidos pela Transcendência.

Autor:
Antonio Vaszken Dichtchekenian - Psicólogo e especialista na teoria de Stanislav Grof. Pesquisador e psicoterapeuta de Renascimento.

Trecho - Cura Profunda - Stanislav Grof - Cap2

Trecho do livro "Cura Profunda - A Perspectiva Holotrópica" - Stanislav Grof. 2015, Editora Numina.

Capítulo 2 - Psicologia do futuro: lições da pesquisa moderna da consciência. Páginas 59 - 63  

"Relato de uma sessão psicodélica com alta dose, exemplo típico de MPB 1 (vida intrauterina), abrindo em alguns momentos para o nível transpessoal. "

"Tudo o que eu estava experienciando era uma sensação de mal-estar que parecia uma gripe. Eu não podia crer que uma dose alta de LSD, que em minhas sessões anteriores havia provocado mudanças dramáticas - até o ponto de, em certas ocasiões, ficar com medo de que minha sanidade ou mesmo minha vida estivesse em jogo - pudesse evocar uma resposta tão pequena.

Decidi fechar os olhos e observar cuidadosamente o que estava acontecendo. Neste momento, a experiência pareceu se aprofundar, e me dei conta de que o que parecia, com os olhos abertos, ser uma experiência adulta de doença viral, então se transformou numa situação realista de um feto sofrendo insultos tóxicos estranhos em sua existência intrauterina.

Encolhi drasticamente e minha cabeça era desproporcionalmente maior do que o resto do corpo e as extremidades. Estava suspenso em um meio líquido e alguns químicos nocivos estavam sendo canalizados para dentro de meu corpo pela área umbilical. Utilizando alguns receptores desconhecidos, eu detectava essas influências como nocivas e hostis ao meu organismo. Enquanto isso acontecia, estava ciente de que esses 'ataques' tóxicos tinham algo a ver com a condição e a atividade do organismo materno. Ocasionalmente, podia distinguir influências que pareciam ser devidas à ingestão de álcool, comida inapropriada ou fumo, e outras que percebia como mediadores químicos das emoções de minha mãe - ansiedade, nervosismo, raiva, sentimentos conflitantes em relação à gravidez e até mesmo excitação sexual.

Então a sensação de doença e indigestão desapareceram, e comecei a sentir um estado de êxtase que se intensificava cada vez mais. Meu campo visual tornou-se mais claro e brilhante. Era como se múltiplas camadas grossas e sujas de teias de aranha estivessem sendo magicamente rompidas e dissolvidas, ou como se um projetor de filme ou uma televisão de baixa qualidade tivessem o foco ajustado por um técnico cósmico invisível. A cena se abriu e uma quantidade incrível de luz e energia estava me envolvendo e transmitindo vibrações sutis por todo meu corpo.

Em um nível, eu era um feto tendo a experiência de extrema perfeição e felicidade de um bom útero e podia alternar para a experiência de um recém-nascido fusionado com o seio nutridor e provedor de vida da minha mãe.

Em outro nível, estava testemunhando o espetáculo do macrocosmo com inúmeras galáxias pulsantes e vibrantes e, ao mesmo tempo, podia realmente me tornar esse macrocosmo. Essas visões radiantes e de perder o fôlego eram misturadas com experiências do igualmente miraculoso microcosmo, desde a dança dos átomos e moléculas até as origens da vida e do mundo bioquímico de células individuais. Pela primeira vez, experimentava o universo tal como ele é - um mistério insondável, um jogo divino de energia. Tudo nesse universo parecia estar consciente e vivo.

Por algum tempo, eu oscilava entre o estado de um feto sofrido e doente e a existência intrauterina feliz e serena. Às vezes, as influências nocivas assumiam a forma de demônios insidiosos ou criaturas malévolas do mundo dos contos de fada. Durante os episódios sem distúrbios da existência fetal, tive a sensação de identidade e unidade com o universo. Era o Tao, o Além que Está Dentro, o Tat tvam asi (Você é Isso) dos Upanishads. Perdi o senso de individualidade; meu ego disolveu-se e tornei-me toda a existência.

Certas vezes essa experiência era intangível e sem conteúdo, outras vezes era acompanhada de muitas belas visões - imagens arquetípicas do Paraíso, a cornucópia fundamental, a era dourada ou a natureza virginal. Eu me tornei um golfinho brincando no oceano, um peixe nadando em águas cristalinas, uma borboleta sobrevoando vales nas montanhas e uma gaivota deslizando sobre o mar. Eu era o oceano, os animais, as plantas e as nuvens - às vezes todos esses ao mesmo tempo.

Nada de concreto aconteceu depois à tarde e à noite. Passei a maior parte do tempo me sentindo unida à natureza e ao universo, banhada em luz dourada que lentamente perdia sua intensidade."

#stanislavgrof #intrauterina #transpessoal #psicodelia #feto #perinatal

Biografia de Stanislav Grof, M.D., Ph.D.

De: Grof no Brasil
https://m.facebook.com/grofnobrasil

A carreira profissional de Stanislav Grof cobre um período de mais de 50 anos em que seu principal interesse tem sido a investigação do potencial heurístico e terapêutico de estados não-ordinários de consciência. Isto incluiu inicialmente quatro anos de pesquisa de laboratório de psicodélicos - LSD, psilocibina, a mescalina, e derivados de triptamina - (1956-1960) e quatorze anos de pesquisa da psicoterapia psicodélica. Ele passou sete desses anos (1960-1967) como Principal Investigador do programa de pesquisa psicodélica no Instituto de Pesquisa Psiquiátrica em Praga, na antiga Tchecoslováquia. Isto foi seguido de sete anos de pesquisa de psicoterapia psicodélica nos Estados Unidos.

Os dois primeiros desses anos, ele trabalhou como Clinical and Research Fellow na Universidade Johns Hopkins e no Research Unitof the Spring Grove State Hospital em Baltimore, MD. Os cinco anos seguintes, ele ocupou o cargo de Diretor de Pesquisa Psiquiátrica no Maryland Psychiatric Research Center. Nesta função, ele dirigiu por vários anos o último sobrevivente projeto oficial de pesquisa de terapia psicodélica nos EUA.

De 1973 até 1987, ele era Scholar-in-Residence no Instituto Esalen, em Big Sur, Califórnia, onde ele desenvolveu em conjunto com sua esposa Christina uma forma poderosa de auto-exploração e psicoterapia que eles chamam de Respiração Holotrópica, sem uso de droga. Eles utilizaram este método nas oficinas e na formação profissional nas Américas do Norte e do Sul, Europa, Austrália e Ásia. Eles também trabalharam com muitas pessoas passando por episódios espontâneos de estados não-ordinários de consciência, crises psicoespirituais ou "emergências espirituais". Durante esses anos de pesquisa psicoterapêutica, Stan Grof fez as seguintes contribuições:

Desenvolveu a teoria e a prática da psicoterapia psicodélica-assistida e a descreveu em seu livro LSD Psychotherapy, que tem sido até hoje o único tratado global sobre este assunto.

Publicou mais de 150 artigos e 20 livros que discutem as implicações teóricas e práticas de pesquisa moderna da consciência para a psiquiatria, psicologia e psicoterapia.

Criou uma nova cartografia estendida da psique, que inclui, além do nível biográfico rememorativo, dois níveis adicionais ao inconsciente individual freudiano - o perinatal (relacionado com o trauma de nascimento) e o transpessoal (que inclui o ancestral, o racial, o coletivo, o filogenético, o cármico e as matrizes arquetípicas).

Desenvolveu, com sua esposa Christina, a Respiração Holotrópica (um método de psicoterapia que utiliza estados não-ordinários induzidas pela respiração mais rápida e mais profunda, música evocativa e trabalho corporal) e o Grof Transpersonal Training, um extenso programa de treinamento para facilitadores de Respiração Holotrópica que certificou mais de 1.000 profissionais em várias partes do mundo.

Formulou juntamente com Abraham Maslow, Anthony Sutich, Sonya Margulies e Jim Fadiman os princípios básicos da psicologia transpessoal, uma disciplina que explora o todo o espectro da experiência humana e tenta integrar espiritualidade e o novo paradigma da ciência. Ele recebeu da Associação de Psicologia Transpessoal (ATP), por ocasião da sua conferência em Asilomar, CA, ao comemorar o vigésimo quinto aniversário da sua fundação, um prêmio especial por sua contribuição para o desenvolvimento deste campo. A Psicologia Transpessoal teve um rápido crescimento desde a sua criação no final dos anos 1960. No momento, ela está sendo ensinada em várias universidades americanas e escolas conveniadas, tem duas revistas especiais, e simpósios em conferências profissionais. As associações de psicologia transpessoal também existem em muitos países do mundo.

Tentou fornecer uma base teórica sólida para a psicologia transpessoal, explorando em seus escritos a sua relação com vários avanços revolucionários de novas ciências paradigmáticas.

Fundador e ex-presidente da Associação Transpessoal Internacional (ITA). Organizou em parceria com sua esposa Christina nove grandes conferências internacionais desta associação em Boston, MA; Melbourne, Austrália; Bombaim, na Índia; Santa Rosa, CA; Eugene, OR; Atlanta, GA; Praga, Tchecoslováquia; e Manaus, Brasil.

Junto com sua esposa, Christina, eles foram convidados pela Metro Goldwyn Meyer como consultores especiais para o filme de ficção científica, Brainstorm, e mais tarde para o filme Millenium. Actualmente, Stan Grof está interessada em voltar a este trabalho em um projeto que iria usar o melhor dos efeitos especiais disponíveis hoje para retratar vários estados não-ordinários de consciência no contexto de filmes com orientação transpessoal.

Estados Ampliados e Alterados da Consciência

Autor: Antonio Vaszken Dichtchekenian

Este texto apresenta uma visão resumida, fundamentada na Psicologia Transpessoal, a respeito dos estados alterados e ampliados de consciência.

Segundo Stanislav Grof, psiquiatra e um dos fundadores da abordagem Transpessoal, existem cinco tipos de experiências, importantes para este assunto.

Um tipo específico de estados de consciência são os ampliados ou modificados. A consciência encontra-se acordada, sendo capaz de perceber todos os aspectos da situação e da identidade. Não existe desorientação, mas o oposto disso. A pessoa sabe exatamente quem ela é, e o que ocorre.

A ampliação da consciência traz alguns aspectos adicionais além dos cinco sentidos:

- Expansão do senso de identidade: identificar-se com outras pessoas, grupos de pessoas, ancestrais, outros animais e seres da natureza. E´uma experiência de assumir o ponto de vista subjetivo de um outro pessoa, ser ou objeto.

- Expansão do tempo linear: Voltar ao passado até uma experiência remota, em geral, retorno a um período do tempo no qual o individuo ainda estava por nascer ou logo após o próprio nascimento.

- Expansão das referências espaciais: A consciência é transportada a outros locais ou dimensões da existência. Pode ser desde um outro país ou cultura, até uma dimensão sutil ou espiritual.Também é possível voltar o foco totalmente para o corpo físico, e ter consciência precisa de ossos, articulações, tecidos e sistemas orgânicos.

- Experiências de reviver o próprio parto: essas também são um tipo de expansão consciencial. Vão além de uma simples regressão mental e neurológica temporárias, pois mantemos todas as referências de adulto quando realizamos essa volta no tempo. O encontro do adulto com a criança ou feto promove uma transformação em ambos - o adulto renova-se, e a criança amadurece.

- Expansão da consciência corporal. Somos capazes de perceber e utilizar em nosso benefício, os movimentos da bioenergia, os chacras, e centros de energia e vitalidade, que todos possuem.

Por outro lado, os estados alterados, são aqueles encontrados em doenças infeciosas, lesões cerebrais, e também, através da embriaguez alcóolica. Nesses estados alterados ocorre uma desorientação, a pessoa não sabe bem onde ela se encontra, o que está ocorrendo ou quem ela é. No caso da embriaguez, é possível obter algum aprendizado ou uma experiência momentânea de bem-estar, mas os efeitos não são duradouros, e raramente são benéficos.

Bibliografia:
Grof, Stanislav - Cura Profunda: A Perspectiva Holotrópica. Editora Martins Fontes, 2015.

O Mistério da Sincronicidade

Atendendo a pedidos, seguem abaixo trechos exttraídos o livro de Stanislav Grof - "Quando o Impossível Acontece" - Editora Heresis, 2007. Primeira parte - O Mistério da Sincronicidade - páginas 31 a 34
"(...) O cientista responsável por dirigir a atenção dos círculos acadêmicos para o problema de coincidências significativas que desafiam uma explicação racional foi o psiquiatra suíço C.G. Jung. Consciente do fato de que a crença inabalável no determinismo rígido representava o marco da visão científica ocidental, ele hesitou por mais de vinte anos, antes de tornar pública a sua descoberta. Esperando forte descrença e duras críticas de seus colegas, ele quis garantir que poderia apoiar suas asserções hereges com centenas de exemplos. Então, ele finalmente descreveu suas observações revolucionárias em seu famoso ensaio com o título de: "Sincronicidade: um princípio de conexão acausal"(...).



(...) Jung também relatou uma história divertida contada pelo famoso astrônomo francês Flammarion, sobre um certo monsieur Deschamps e um tipo especial de ameixa. Quando menino, Deschamps recebeu uma porção desse pudim raro de um monsieur de Fontgibu. Durante os dez anos seguintes, ele não teve oportunidade de provar aquela delícia, até ver o mesmo pudim no cardápio de um restaurante de Paris. Ao pedir uma porção do pudim ao garçom, teve o desprazer de descobrir que o último pedaço já fora pedido e consumido por monsieur de Fontgibu, que estava no mesmo restaurante naquele momento.Muitos anos depois, monsieur Deschamps foi convidado para uma festa onde este pudim era servido como sobremesa. Enquanto o comia, ele comentou que a única coisa que faltava era monsieur de Fontgibu, que lhe revelara esta delícia e também estivera presente durante seu segundo encontro com o pudim, no restaurante em Paris. Naquele momento, a campainha tocou e um senhor idoso entrou, parecendo muito confuso. Era monsieur de Fongibu, que entrara ali, por engano, porque recebera o endereó errado para o lugar aonde deveria ir.(...)"

"(...) As observações de Jung acrescentaram outra dimensão incrível a este fenômeno já espantoso. Ele descreveu numerosos exemplos do que chamou de `sincronicidade` - coincidências impressionantes, nas quais diversos eventos da realidade consensual estavam ligados de modo significativo com experiências internas, como sonhos ou visões. Ele definiu sincronicidade como "uma ocorrência simultânea de um estado psicológico com um ou mais eventos externos que parecem ser paralelos significativos do estado subjetivo momentâneo". Situações desta espécie mostram que nossa psique pode entrar em uma interação dinâmica com o que parece ser o mundo da matéria. O fato de que algo assim é possível realmente turva os limites entre a realidade subjetiva e objetiva(...)".

"(...) As observações de sincronicidade tiveram um impacto profundo sobre o pensamento e o trabalho de Jung, partticularmente sobre suas idéias envolvendo os arquétipos, imagens primordiais e princípios organizadores do inconsciente coletivo. A descoberta dos arquétipos e de seu papel na psique humana representou a contribuição mais importante de Jung para a psicologia (...)."

"(...) A existência de eventos sincrônicos fez com que Jung percebesse que os arquétipos transcendiam tanto a psique quanto o mundo material, e que eram padrões autônomos de significado, que informavam tanto a psique quanto a matéria. Ele viu que os arquétipos ofereciam uma ponte entre o interno e o externo e sugeriu a existência de uma zona limítrofe entre a matéria e a consciência. Por esta razão, Jung começou a referir-se à qualidade `psicóide` (tipo-psique) dos arquétipos (...)".


Alcoolismo e Drogadicao

"O Pagamento Final" (Carlito´s Way), com Al  Pacino e Sean Penn. Al Pacino é um traficante recém-saído da prisão, em busca de redenção e de abandonar o mundo do crime.

 

Ele continua envolvido nas mesmas relações que o levaram para dentro da prisão. Será que ele consegue?

 

 

"Existem amplas evidências de que por trás do desejo por drogas ou álcool há um desejo, não reconhecido, de transcendência e totalidade. Muitas pessoas em recuperação falam de suas incansáveis buscas por algum elemento ou dimensão que está faltando em suas vidas e descrevem suas procuras frustradas por substâncias, alimentos, relacionamentos, posses ou poder, o que reflete um esforço incansável para saciar esse desejo (Grof, 1993).

A convivência humana não é fácil. As diferenças individuais nem sempre são bem compreendidas, o discurso verbal e a expressão pessoal são coisas altamente valorizadas, mas nem todos se expressam do mesmo modo, ou são recompensados igualmente. Além disso, os problemas cotidianos exercem tanta pressão sobre uma pessoa, que as drogas ou comportamentos repetitivos podem representar uma fuga, ou mais precisamente, um modo próprio de enfrentamento da realidade, tendo em vista os dilemas de difícil ou nenhuma solução, a que cada pessoa está sujeita. 

Se considerarmos que existe um único modo de ser e de se relacionar com o mundo, e que tal modo é o modo "correto" e os outros são apenas desvios em relação a este único modo "normal", somos constantemente apresentados a desafios praticamente intransponíveis .

A experiência de alguém que está sob efeito do álcool ou de uma droga pesada, pode ser muito parecida com aquilo ao que um místico tem acesso: sensação de dissolução das fronteiras individuais, o fim de emoções perturbadoras e a superação dos problemas cotidianos. As semelhanças param por aí, pois faltam outras características que apenas os estados místicos de consciência possuem, tais como serenidade, numinosidade e riqueza de insights filosóficos (Grof, 2000).


Talvez seja por isso que existe uma grande dificuldade em abandonar qualquer vício ou dependência, pois o que move todos esses comportamentos é uma verdadeira ânsia e desejo, de transcendência e de união, com a totalidade. Ainda que seja possível bloquear um comportamento ligado a um vício ilícito, a sua fonte sempre estará presente, de algum modo. 

O sentido e a direção dos comportamentos de dependência são os elementos ou dimensões que estão ausentes na existência daqueles indivíduos - que está na base da sensação de sentir-se conectado à vida e às pessoas. 


Não é difícil encontrar um ex-dependente que se converteu para alguma religião, ou filiou-se a algum grupo especial e deixou de ser um adicto, muito embora o novo comportamento tenha substituído a substância, pois a intensidade e o vínculo aos novos valores, ajudam a manter a pessoa afastada das drogas. Uma investigação mais cuidadosa pode mostrar que a entrada do indivíduo no referido grupo promove os tipos de experiências místicas e de totalidade tanto almejadas por ele. 

Uma alternativa pouco válida para interromper ou impedir o uso de drogas são as crenças e valores negativos ao redor dessas substâncias, como se tal atitude realmente afastasse os possíveis e atuais usuários das mesmas. Frases como "drogas matam" ou "álcool corrói vidas" podem inibir algumas pessoas, por pouco tempo. Mas existem fatores sociais muito mais poderosos e atraentes que facilitam a aproximação dos indivíduos em relação ao álcool, tais como os grupos sociais e familiares. 

Uma possível solução é a educação que tenha em vista os valores necessários a uma existência plena, e que propicie experiências de conexão e valorização da existência, e das relações dos indivíduos com o mundo. 

Também considero fundamental compreender que a consciência humana é capaz de acessar e de se conectar com vários níveis ou estados da realidade. É isso o que ocorre quando alguém ingere ou utiliza algum tipo de substância ou droga que altera o funcionamento da mente. 

Patologizar os outros estados de consciência, e considerar que existe apenas um único modo legítimo de percepção da realidade, o nível cotidiano de vigília, é extremamente limitado e agressivo. Existem outros modos de consciência, diferentes do estado de vigília, que são saudáveis, trazem qualidade de vida à existência, e permitem transformar estratégias de vida, para uma vida mais plena de significado.

Tendo em vista o avanço tecnológico atual, é possível comprovar a existência de diversos estados de consciência, a partir de exames em tempo real do cérebro, em pessoas meditando, lendo livros, imaginando uma situação concreta, ou outra coisa semelhante. 

Pode ocorrer que uma experiência de embriaguez, ou de uso de drogas traga uma ameaça à vida tão grande, que a pessoa "desperte" para o fato de que ela ia morrer naquele momento, e suspenda o uso por um certo período de tempo. Mas se não acontecer um esforço pessoal e consciente de mudança de hábitos e de relacionamentos, afastando-se de vínculos que promovem o vício ou a dependência, e aproximando-se de situações que levam à totalidade e à plenitude - o comportamento da dependência tende a continuar. 

Segundo Carl G. Jung, o termo spiritus em latim cobre dois significados: álcool e espírito. Ele sintetizou seus conceitos sobre vícios na frase "spiritum contra spiritum", explicando que apenas uma experiência espiritual* pode salvar pessoas da devastação do álcool. 

*O termo "espiritual" refere-se à sensação e compreensão de estarmos conectados à existência e ao mundo, como um todo. Essa sensação e compreensão ocorre antes de qualquer pensamento ou racionalização. A espiritualidade não se baseia na participação em nenhum tipo de religião ou seita, muito menos na crença em mundos e seres superiores ou de outras dimensões. A espiritualidade é independente da formação familiar e acadêmica do indivíduo, ainda que tais fatores possam exercer influências sobre a sua visão de mundo. Ela depende das crenças, valores, das experiências vividas e do modo de relação que a pessoa estabelece a todo momento, com a existência, com si mesma e com o outro.

Quer saber mais? Veja também:

Desordens Emocionais e Psicossomáticas - item "Alcoolismo" neste blog


Referências:

Grof, Stanislav, 1931 - Psicologia do Futuro, lições das pesquisas modernas da consciência - Niterói, RJ:Heresis 2000

Grof Transpersonal Training (GTT)- Módulo "Vicios e Apegos", ministrado por Tav Sparks em 2009, em Cotia/SP - Brasil. 

STANISLAV GROF EM SÃO PAULO - 2000


Workshop de Respiração Holotrópica(TM) em 24/09/2000, com a presença especial de Stanislav Grof. 
Facilitadores: Vera Mayer (camisa florida, ao lado do Grof) e Charles Parker (camiseta vermelha, em pé)
Estou à direita na foto, atrás da cadeira da Vera.
(DÊ UM CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIÁ-LA - CLICK ONCE TO VIEW BIG PICTURE)


Olhar Transpessoal - Filme Numero 9 (The Nines)

Número 9 (The Nines, 2007)

Diretor: John August
Roteiro: John August
Elenco: Ryan Reynolds, Melissa McCarthy, Hope Davis, Elle Fanning, Dahlia Salem, Ben Falcone, Octavia Spencer







Assisti a este longa metragem na TV aberta, de madrugada, totalmente sem compromisso e a menor idéia do que ia presenciar. Não se trata de um sucesso de bilheteria, talvez justamente por parecer confuso e sem sentido, se analisado sob uma pespectiva tradicional. 

No filme, somos apresentados a três histórias: Na primeira, Ryan Reinolds é um ator problemático, metido com drogas e álcool, que acaba penalizado com a prisão domiciliar. Nesse período, encontra pistas e suspeitas que sempre levam-no ao número nove, de um modo bastante intrigante. Há duas mulheres na trama, sendo uma assistente (Melissa MC Carthy) e uma vizinha (Hope Davis). Ambas tentam mostrar a ele quem ele realmente é, e o que é o mundo, na verdade. Tudo é meio confuso, e pouco esclarecedor. A vizinha (Melissa Mc Carthy) lhe diz: "Vou tirar-lhe daqui, vou dar um jeito", enquanto a assistente (Hope Davis) lhe diz que ele não é quem pensa ser, extrapolando a sua identidade de ator e homem comum, explicando um possível significado para o "número nove". Chega-se a um clímax, e a trama inicial termina bruscamente, quando ele rompe um limite inicialmente imposto sobre ele. 


Descrevi de maneira pouco detalhada, pois acho importante que você possa assistir ao filme, e se prenda a ele, mesmo após ler esse texto. Enquanto assistia ao filme, pude fazer uma leitura do ponto de vista da Psicologia Transpessoal, relacionada ao conceito de COEX da dependência, e do espectro da consciência. A meu ver, é justamente disso que se trata o filme: da ampliação da consciência a respeito da relação de dependência, em direção a uma independência. Esse processo inevitavelmente inclui a consciência de si mesmo e consciência da realidade. A cada história, vemos a personagem principal de Ryan Reinolds expandir a sua consciência, através do encontro com novas situações e condições, e principalmente, através da relação de inter-dependência com as duas mulheres que estão sempre presentes. 


Na segunda história, Ryan continua no mesmo ambiente do "showbizz", lidando com atores, diretores e produtores, mas agora ele tem mais poder - conversa com a produtora que está interessada em seu roteiro, sugere atores e atrizes para viverem os personagens, classifica a audiência do seu programa em nove tipos (mais uma pista sobre a natureza do número nove na trama...), e percebemos que as pistas encontradas na história anterior são fragmentos de um todo mais complexo, relacionado com o universo de produção, direção e contatos profissionais, que servem para a realização de um projeto pessoal. Surge também uma nova personagem, uma menina que faz o papel de filha, dentro do roteiro escrito pela personagem de Ryan. 


Finalmente, a última trama concentra elementos comuns das duas anteriores. A situação apresentada, agora é distinta, mas, da mesma forma o número nove está presente. Dessa vez o nove tem um significado bem mais complexo do que antes, indicando a definição de um ser com características divinas, de uma força que move toda uma realidade, e continuamente cria um grande jogo envolvendo outros seres, que são as duas mulheres e a criança. O modo de dependência também se apresenta aqui, em um nível mais expandido.

O personagem principal encontra-se em dois lugares simultaneamente: dentro de um filme e no mundo real, uma característica da ampliação da consciência. Ryan Reinolds, dessa vez, é um pai de família que se perde dentro de um parque florestal com a sua esposa e filha (Melissa Mc Carthy e Elle Fanning), e no meio do caminho encontra a personagem de Hope Davis, que no começo do filme havia lhe dito que iria tirá-lo dessa situação, e tenta novamente fazê-lo num nível aparentemente transcendental. A personagem de Ryan fica frente a um dilema que o obriga a realizar escolhas, as quais sempre chegam a outros níveis e tramas, em função da relação de interdependência existente entre todos os personagens.

Do ponto de vista pessoal, o filme trata do tema da dependência. A personagem principal é um dependente afetivo, assim como o são as duas mulheres e a menina, em relação a este. O que varia é a intensidade e a abrangência, desse tipo de comportamento de dependência.

O final do filme revela uma última reviravolta na trama. O desfecho da história também serve aos propósitos "hollywoodianos" de tentar agradar ao público no final, e mostrar um final feliz. 

Por fim, é importante dizer que nem todas as experiências seguem o padrão ou a linha perinatal, o que também é o caso desse filme. A relação estabelecida foi com o sistema de experiências condensadas (COEX), que também é a base das Matrizes Perinatais, mas que no caso deste filme, não se aproxima do domínio perinatal. 

Tendencias

De acordo com a personalidade e o momento de vida pelos quais todas as pessoas passam, podemos dizer que há uma tendência a certos tipos de comportamentos e de visão do mundo. 

O nascimento biológico é um evento de grande magnitude e importância em nossas vidas, e está registrado em nosso DNA na forma de "matrizes" ou padrões experienciais. O nascimento significa todas as mudanças, transformações e passagens pelas quais nos deparamos em toda a existência. 

Quando nos vemos frente a uma oportunidade nova, do tipo, aprender um novo comportamento, conhecer uma nova pessoa, mudar de hábito, ou de opinião a respeito de algo, alguém ou de nós mesmos - reagimos e nos comportamos de maneiras totalmente distintas, quando comparamos duas pessoas. 

Se Freud dizia que as experiências do inicío da infância colaboram com a formação da personalidade, Stanislav Grof vai um pouco além disso, afirmando que o próprio nascimento biológico carrega um enorme significado para cada um de nós, tanto positiva quanto negativamente. 

O significado do nascimento é tão grande, a ponto de a ciência moderna ser capaz de ignorá-lo, como coadjuvante na formação de problemas psicológicos e psiquiátricos. 

Ao invés disso, atribui causas hereditárias, genéticas e da fisiologia cerebral para explicar distúrbios como a esquizofrenia, depressão, e a bipolaridade. Sem dúvida, existem causas orgânicas nessas condições psiquiátricas, mas elas não são a única maneira de compreendê-las. 

A "mudança de hábito" ou "situação nova" são belos exemplos, para servir como referência, no que diz respeito às tendências descritas abaixo. 

Quando você busca mudar um hábito muito arraigado, ou se depara com uma situação totalmente nova, em sua vida, como você reage ? 


Ênfase na MATRIZ I


 - Busca de contato com a água (natação, mar, mergulho, formas de vida aquática)
 - Visão otimista e positiva da existência e da natureza
 - Relação positiva com a "Mãe Natureza", ou com a mãe pessoal
 - Dificuldade de estabelecer limites e impor regras
 - Preguiça ou isolamento, sem necessidade de manter contatos com outros ou com o mundo externo
 - Quando existe ameaça, ela é indefinida e vem de todos os lados
 - Ingenuidade e inocência marcantes, relativos a alguns assuntos
 - Fascinação por barrigas de grávidas





Ênfase na MATRIZ II


 - Relação de vitimização e impotência, tristeza profunda ou estados depressivos
 - Perspectiva fatalista e de aprisionamento na existência (por ex: "A vida é assim mesmo, não tem jeito...")
 - Falta de "tesão" pela vida / baixa libido, ausência de libido, ou culpa em relação à sexualidade
 - Sentimentos negativos a respeito de si e dos outros
 - Percepção de que o tempo não passa, ou que ele passa muito devagar
 - Visão trágica ou melodramática da vida (por exemplo: "Só acontece comigo...")





Ênfase na MATRIZ III


 - Sente que precisa lutar ou estar ativo o tempo todo, pois o "Sistema", os outros ou o mundo, estão contra você. Caso contrário, nada se realizará a seu favor;
- Tendências a intrigas, chantagens e manipulação de situações e pessoas / ou sentir que é vítima das mesmas
- Atração por adrenalina, esportes radicais, direção agressiva e perigosa, viver aventuras, extremamente competitivo(a), tédio se ficar parado por 5 minutos;
- Gosta de, ou tem interesse por filmes de sexo, guerra, terror, vampiros, zumbis, filmes de suspense ou de conspirações maquiavélicas;
- Muitas vezes o seu comportamento chega próximo da auto-destruição ou da falta de controle;
- Hábito por piadas escatológicas, gosto por assuntos relativos a escrementos e fluídos corporais, ou percebe que a vida é uma "merda", cujas adversidades se voltam para você.
- Fascinação por fogo, eletricidade, raios, trovões, tufões, explosões, máquinas e mecanismos gigantes, destruições da natureza, catástrofes e especulações a respeito do fim do mundo.




Ênfase na MATRIZ IV


 - Sentimentos de paz interior, depois de situações resolvidas e escolhas feitas;
 - Compaixão por outras pessoas e outros seres vivos, sem prejuízo próprio ou do outro;
 - Sensação de aceitação de si e dos outros, como são;
 - Capacidade de aproveitar o momento presente, por mais simples que seja;
 - Satisfação com relações pessoais e contato com a natureza;
 - Confiança em si e nos outros, se não existirem motivos contrários a isso;
 - Incapacidade de se preocupar.

Senhor dos Anéis - Herói

A Trilogia "O Senhor dos Aneis" apresenta as 4 matrizes da teoria de Stanislav Grof, de uma maneira bela. Elas apresentam semelhanças com a "Jornada do Herói", descrita por Joseph Campbell.

A Primeira Matriz (MPB I), no filme, refere-se aos momentos em que Frodo está em casa e na sua vila, antes da aventura começar. Tudo é belo, harmonioso e seguro. É o estado inicial e promordial, onde praticamente todas as necessidades são preenchidas.

Refere-se ao estado inicial, onde o herói está em casa, descansando. De um modo experiencial, relaciona-se ao período inicial onde o bebê está dentro do útero, em tranquilidade.


Na nossa vida cotidiana, tem ligações com momentos em que tudo está bem, sem motivos aparentes, e não precisa ser diferente. Essa matriz existe não apenas como memória de um tempo que foi vivido, mas também é um modo de sentir e perceber a existência em vários momentos da vida humana.

Fonte:
http://www.art-wallpaper.net/movie/The-Lord-of-the-Rings
A transição da Primeira para a Segunda Matriz é o momento do "chamado para a aventura". O Herói recebe um chamado para iniciar sua jornada, que tem um prêmio ou dom, a ser encontrado no final da jornada. No filme "Senhor..." trata-se do momento em que Frodo decide ir buscar o anel. 

Experiencialmente, é um momento em que os sinais químicos do útero indicam que o trabalho de parto está começando. A tranquilidade inicial dá lugar a um sentimento de novidade e estranhamento, um tipo de "Ops!"




Video Cassetadas e Comportamentos Repetitivos




Você já parou para ver as "video-cassetadas"? Todo mundo conhece, são vídeos feitos em casa, que incluem momentos constrangedores, na maioria das vezes quedas, escorregões, tombos, entre outras coisas. Hoje em dia, isso passa em vários lugares, não só na televisão aberta, mas nos canais por assinatura e também na internet.

É curioso perceber nossas reações, são as mais variadas possíveis, quando as vemos: Algumas pessoas se deliciam, e riem muito; outras vêem como humilhação; uns aguardam pela próxima cena ansiosos, enfim, cada pessoa reage de maneiras específicas e particulares a esses programas.

No caso das cenas que privilegiem a humilhação, quedas, machucados, e até mesmo violência, e sexualidade, é possível estabelecer uma relação entre o interesse e o prazer de assistir a tais cenas, com o dominio perinatal da teoria Transpessoal.

Antes de entrar nesse assunto, gostaria de mencionar outro elemento importante, que nem sempre é considerado: o fato de saber que se está sendo filmado é capaz de alterar o comportamento dos protagonistas da cena? E também; por quê alguém escolhe não apenas filmar, mas também divulgar, enviar para a televisão ou para a internet as cenas de "video-cassetadas"? O que esses dois comportamentos têm em comum - a exibição de um ato para uma platéia, a dinâmica inseparável do "observado-observador", que também faz parte do domínio perinatal do inconsciente.

O que quero dizer é que assistir, produzir e divulgar essa categoria de videos não se origina apenas das motivações sociais e egocêntricas do campo contingencial, e do ambiente imediatamente observável. Nós não somos uma "tabula rasa" que é totalmente preenchida com os valores parentais e ambientais. Ao nascermos, já temos registros próprios da espécie, da cultura humana e da familia, que exercem influência sobre nosso comportamento e o modo como enxergamos e sentimos o mundo.

Existem aspectos mais fortes e presentes, que são de certa forma, alimentados por conteúdos inconscientes (de natureza perinatal, relativas aos aspectos biológicos e simbólicos do nascimento humano).

Justamente porque esses aspectos nunca encontram uma via autêntica de liberação e vasão, apenas situações incompletas na aparência e nos objetivos, esse tipo de comportamento necessita ser repetido exaustivamente,  pois de alguma forma, a concretização desse sentido não pode ser realizada no cotidiano.


Ainda que alguns desses objetivos sejam benéficos, caso sejam a diversão, expressão pessoal, sentir-se observado e admirado, identificação com outros semelhante, entre outros, eles dificilmente chegam perto da intensidade e da realização plena dos aspectos que os motivam, ou seja, a morte e o renascimento psicoespiritual.

Por isso que muitas pessoas sentem um imenso vazio em suas vidas, muito embora elas possuam tudo que lhes traga felicidade - elas estão realizando apenas uma parte das suas motivações: são reconhecidas socialmente, trabalham honestamente, ganham o quanto podem sem passar necessidade, são ótimos amantes, excelentes profissionais e filhos exemplares.

Quem sabe, elas nunca viveram realmente uma morte psicoespiritual, que é morrer sem a morte física, mas o vazio que elas sentem traz justamente essa sensação de morte, que lhes é necessário para dar u sentido que falta à sua existência. Quando sentem esse vazio, seguem o "script" aprendido de preenchê-lo com o mundo externo: compras, adrenalina, vícios, tudo que lhes distraia e alivie a sensação de vazio. Paradoxalmente, tudo isso acaba trazendo a sensação de morte e vazio, pois no final o saldo continua negativo...

Isso vale para as video-cassetadas, e também para vários comportamentos repetitivos e aparentemente sem sentido, mas que nos dão muito prazer e felicidade na hora, mas no final parecem que não valeram e precisamos repetir.

O domínio perinatal do inconsciente consiste de padrões experienciais, ou matrizes. São assim chamadas "matrizes" com toda a razão, pois são as "fôrmas primordiais" de muitos comportamentos, valores, sentimentos e sensações físicas que vivemos no cotidiano. Foram descobertos a partir de pesquisas controladas de experiências de estados ampliados de consciência.

Tais estados costumam ser alcançados através de meditação, relaxamento profundo, uso de substâncias alucinógenas, rituais indígenas e xamânicos, jejuns prolongados, privação de sono, e até em crises espontâneas. Praticamente todas as filosofias orientais e milenares descrevem algum ou muitos desses padrões experienciais, que fazem parte do registro amplo da humanidade, e portanto, são acessíveis a todas as pessoas de todas as épocas e culturas.

Esse registro amplo foi chamado de "Inconsciente" por Sigmund Freud, e posteriormente, outro psiquiatra chamado Carl Jung chamou-o de "Inconsciente coletivo", por perceber que ele contém todos os padrões experienciais de toda a humanidade, não apenas o registro da vida biográfica individual, como Freud descobrira.

Recentemente, ou seja, em meados dos anos 1960, Stanislav Grof ,outro genial psiquiatra, descobriu que todas as pessoas sujeitas de laboratório para pesquisas psicodélicas, tiveram experiências de regressão ao útero materno e de renascimento psicoespiritual. Após centenas de relatos de casos, constatou que, além de sua compreensão psicanalítica freudiana ser limitada para explicar todas essas experiências embrionárias e relativas ao renascimento psicoespiritual, essas experiências provocavam profundas mudanças na visão de mundo daqueles sujeitos.

Tais mudanças incluiam: resignificação de traumas de tenra infância, de abusos sexuais, de comportamentos suicidas e auto-destrutivos, mudanças de estratégias de vida para uma vida mais simples e menos baseada em medos irracionais, entre outras. Em resumo, muitos casos clínicos considerados com poucas chances de melhora, pois já haviam sido atendido durante longos anos apenas com psicoterapia verbal ou psicanalítica, abordagem muito válida até hoje.

Depois dessa breve história realmente invejável para qualquer interessado no comportamento humano, Stanislav Grof deu continuidade às pesquisas e acabou estabelecendo pontes com outras abordagens que também compartilham de uma visão tanto humanista (que colocam o ser humano no centro do interesse da sobrevivência planetária) quanto multi-dimensional e consciencial (filosofias orientais e conhecimentos da chamada Filosofia Perene). O resultado é constatado e válido até hoje, em sessões de respiração e renascimento, e de terapia vivencial que utilizam abordagem corporal, psicodrama e psicossintese.

A Matriz Perinatal 3, como padrão, relativa a esse tópico de repetição, vazio existencial e video-cassetadas possui os seguintes parâmetros: 


- Identificação com três personagens ao mesmo tempo: agressor, vítima e um terceiro observador


- Sensação de estar numa situação de luta, com a possibilidade de término e vitória


- Aspecto titânico: imensa carga de energia física, voltada para a sobrevivência do feto dentro do canal de parto - resulta em agitação, ansiedade e incapacidade de estar no presente, no mundo cotidiano.


- Dinâmica de antagonismo com a mãe / mundo / outros - sensação de uma "incurável" separação com relação ao mundo, necessidade de estar sempre lutando com adversários na cotidiano


- Elementos sexuais distorcidos, sadomasoquismo, submissão, estupro, contato com elementos biológicos, tais como sangue, urina, fezes, placenta - resulta em dificuldade de estabelecer vínculos amorosos, apenas relações baseadas no prazer imediato e sexual.


- Sensação de que "aqui" não está bom, mas com sacrifício se chegará ao paraíso,que está lá na frente, ou no futuro. Próximo do final, transição para a próxima matriz. - resulta em estratégias perdedoras, baseadas em evitar constantemente a morte do ego, em se estar sempre no controle e em sacrificar o presente para alcançar um objetivo que nunca realmente se concretizará.


Obviamente, nem todos os vídeos tratam de humilhação, agressão ou satirização. São acontecimentos trágicos e inusitados que se manifestam, e ficam em evidência. A questão não é meramente o conteúdo dos vídeos, mas sim o que se faz com eles. Como são exibidos, como aparecem de maneira muitas vezes repetitiva, sem a menor utilidade além de manter espectadores ligados no mundo externo. Qual a atitude de quem exibe e de quem assiste? Qual a filosofia de vida revelada na exposição e na espiação coletiva?

COEX - Aplicada à vida cotidiana

" Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções"

É uma abreviação em inglês para “COndensed EXperiences”. Em português, Experiências Condensadas, refere-se ao conceito utilizado por Stanislav Grof, que define como as memórias são organizadas na consciência.


Todos os conteúdos existentes na consciência, sejam memórias, fantasias, sensações físicas, traumas psicológicos e físicos, auto-imagens, papéis, etc... estão organizados em COEX. Trata-se de um princípio básico que, ao mesmo tempo simplifica, e amplia o olhar para a consciência, e o modo humano de estar no mundo. Os domínios da consciência, o biográfico, matrizes perinatais e o transpessoal têm como base a COEX.



Quando entramos numa psicoterapia experiencial, seja por meio de terapia corporal reichiana ou bioenergética, Psicodrama, Gestalt, Respiração Holotrópica (TM), ou ainda, por meio de meditação profunda, yoga, hipnose, EMDR, sonhos noturnos ou sonhos lúcidos, e substâncias psicodélicas, o sistema COEX é ativado.

Esse sistema está diretamente ligado a um outro princípio intrínseco de cura da consciência, que Grof denomina "Radar Interno". O radar é responsável pela escolha daqueles elementos que serão trazidos à consciência para transformação e cura. 


O sistema COEX é não-linear e holográfico. Quando se entra em contato com o domínio biográfico, ou seja, a história pessoal, os conteúdos trazidos à consciência não aparecem de maneira linear e cronológica. O mesmo ocorre quando acessamos o domínio das matrizes perinatais (do nascimento biológico), e com as experiências transpessoais. A emergência dos conteúdos à consciência ocorrem de acordo com o sistema de radar interno e com as COEX.

O sistema COEX é extremamente pessoal e individual, cada pessoa é única, assim como suas maneiras de estar no mundo, de perceber a si mesma e a realidade.


Durante o dia-a-dia, não nos damos conta desse radar, mas ele também está funcionando, da mesma forma que as COEX. 


Usando um exemplo, uma COEX de culpabilidade contém todas as experiências de vida de uma pessoas nas quais ela se sentiu culpada, no sentido negativo. Assim como todas as fantasias,onde ela também se sente culpada. E as sensações físicas que a culpa desencadeia em seu corpo, como aperto no peito, dores de cabeça, etc. Inclui também experiências do nascimento biológic, e possíveis experiências transpessoais, relacionadas com a COEX.

Essa divisão entre memórias reais e fantasias podem estar misturadas, num grupo geral de situações ou memórias, e isso não tem importância para o reconhecimento da COEX. O fundamental é poder reconhecer os padrões de experiências, sejam elas reais ou imaginárias.

Dessa forma, os nossos problemas ou questões da vida se reduzem em número, e podem ser trabalhadas com mais facilidade. Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções, ou seja, COEXes que regem a nossa vida, nossas escolhas e nosso modo de perceber o mundo, e a nós mesmos.

Psicologia Transpessoal e Stanislav Grof

A Psicologia Transpessoal visa integrar os conceitos da ciência ocidental com as filosofias orientais. Considera a espiritualidade um aspecto fundamental do humano, sem a qual pode-se viver de uma maneira bastante doente, tanto individual quanto coletivamente.

De uma maneira geral, o que a Transpessoal tem a trazer de novo é uma noção de que o ser humano é multi-determinado. Não somos apenas aquilo que a nossa história pessoal nos moldou , nem somos apenas o que o ambiente nos condicionou. Também não somos apenas seres que tem instintos, valores, crenças, razão e emoção, e que vivem numa luta constante em busca de equilíbrio. Somos tudo isso, sem dúvida!

Somos também seres que estão ligados a uma inteligência ou consciência muito maior e mais complexa do que a humana. O que também nos determina ou influencia é uma ligação com essa consciência. Tal conexão não é condicionada por nossa criação ou educação. A ausência de sentimento de tal conexão pode levar uma pessoa a se tornar viciada em substâncias tóxicas, em comportamentos obsessivos, a ser extremamente ansiosa, entre outras coisas.

Fazemos parte de um contexto maior do que o humano. Somos parte de um ecossistema de seres que também são dotados de consciência, como os animais, plantas, processos físicos e químicos dos quais muitas vezes não temos o conhecimento de como ou por quê acontecem. 


Essa visão ampliada está cada vez mais se mostrando verdadeira e cientificamente comprovada, ao mesmo tempo que modifica ligeiramente aquilo que se entende por rigor científico. Aquilo que antes era considerado impossível de ser replicado, atualmente é mais aceito de ser incluído na lista do que se compreende como Ciência. Por exemplo, experiências místicas ou religiosas com potencial curativo, e integrador. Estudos sobre paranormalidade, levando em conta aspectos qualitativos, que ultrapassam e ampliam a zona de normalidade previamente estabelecida.

Espiritualidade não é o mesmo que religião, não segue doutrinas e não necessita de templos. Seus parâmetros de saúde e bem-estar são ampliados, no sentido de ver o ser humano um ser capaz de se auto-realizar e ter acesso a experiências transcendentes, profundas e transformadoras.


A seguir alguns conceitos da visão transpessoal de Stanislav Grof: 
 
A consciência não se restringe ao Ego e ao inconsciente individual, não é restrito as experiências pessoais e fantasias inconscientes. Existem também os Domínios Perinatal e Transpessoal. Todos esses domínios são acessíveis a qualquer pessoa sem o uso de drogas, a partir de técnicas de meditação, de práticas de alteração de consciência. 


Tais domínios não seguem uma ordem linear rígida. Metaforicamente, cada nível representa uma oitava musical de causalidades, daquilo influencia o modo de estar no mundo. Nem todas as causas se restringem ao dominio biográfico, à história pessoal. Existem também causas perinatais e transpessoais, que operam ao mesmo tempo que as causas biográficas, a todo momento na vida das pessoas, não apenas em estados ampliados de consciência. Porém, a transformação e cura da consciência só acontece em estados ampliados da categoria holotrópica.

Há dois modos de consciência: Hilotrópico e o Holotrópico. Ambos são importantes e essenciais, nenhum é preferível em detrimento de outro.

O hilotrópico é o modo orientado para a matéria, a realidade material, tempo e espaço determinados na ordem cronológica, espaço tridimensional, corpo físico biológico. É a realidade vivida no cotidiano.

O modo holotrópico é um modo orientado para a totalidade, transcendência dos limites espaciais, temporais, de identidade individual. É a realidade experimentada nos estados ampliados de consciência, onde pode se vivenciar alteração da temporalidade (alteração da duração do tempo, expansão ou retração, voltar ou avançar no tempo), da espacialidade (expansão ou retração, perda de limites) e da identidade (identificação com outras pessoas, parentes próximos ou distantes, pessoas em outras épocas e lugares, identificação com arquétipos, entidades e seres de outras realidades, identificação com outros seres vivos - animais, vegetais e minerais, identificação com fenômenos da natureza, processos biológicos, consciência dos processos biológicos do próprio corpo de maneira precisa). 

Uma característica dos estados holotrópicos de consciência é que podemos experienciar do ponto de vista subjetivo aquilo que, no estado hilotrópico, são percebidos de maneira objetiva. Por exemplo, somos capazes de termos a experiência de sermos um animal, algum tipo de planta, um membro de outra cultura distante no tempo e no espaço, do ponto de vista deles. Nos tornamos e nos identificamos, sabemos e sentimos exatamente como é ser tal ente do mundo. 



Uma vida exclusivamente holotrópica pode ser um problema, as barreiras individuais podem se mostrar ilusórias, podemos nos identificar com outras coisas e pessoas (que no modo hilotrópico são vistas como objetos, mas no holotrópico são vivenciadas como sujeito), podemos perceber o tempo expandido ou retraído, o espaço alterado, podemos ficar muito mais sensíveis às situações e às outras pessoas. Ficamos incapazes de nos concentrarmos nas preocupações materiais, nas responsabilidades cotidianas, na rotina, até mesmo em nos alimentarmos ou nos lavarmos.

Viver apenas no modo hilotrópico significa viver uma vida sem muito sentido, pois nos vemos como seres que nascem, vivem, se alimentam, relacionam, trabalham e se reproduzem e morrem. Vivemos num mundo exclusivamente material, a consciência é mero produto do cérebro, de reações químicas e alterações de substâncias no corpo. Podemos lembrar do passado com relativa facilidade, planejar e fantasiar sobre o futuro, e estarmos presentes. Mas o tempo costuma ser uma mudança constante: o presente se tornando passado e do futuro se tornando presente. 

O importante é haver um equilíbrio entre os dois modos, saber estar com um pé em cada modo, alternar entre eles. Ficar preso ou estático em apenas um dos modos é estar doente. Estar preocupado apenas com as coisas materiais, possuir, consumir, arrumar, organizar, ganhar e acumular, por exemplo, pode fazer uma pessoa ser extremamente materialista, neurótica e incapaz de ver um sentido na vida sem possuir ou fazer as coisas que existem no mundo. Por outro lado, estar imerso no holotrópico, na dimensão numinosa da vida, sem conseguir lidar com os aspectos práticos da vida é complicado, e dificulta a continuidade da mesma.

Cartografia Ampliada da Psique Humana: Repensando a maneira de compreender o ser humano

Stanislav Grof conduziu pessoalmente mais de 4.000 sessões psicodélicas, e teve acesso a mais de 2.000 sessões conduzidas por colegas seus. Também supervisionou mais de 30.000 sessões holotrópicas, junto com sua esposa Christina Grof, e além disso trabalhou também com pessoas que sofriam de crises psico-espirituais espontâneas.

Diante desta vasta experiência em estados ampliados de consciência, categorizou 3 tipos de experiências disponíveis: as Biográficas-Rememorativas, Perinatais e Transpessoais.
Nivel biográfico-rememorativo: Inclui o inconsciente individual e acontecimentos importantes na sua história individual. É o domínio mais facilmente acessível da psique.

Nivel Perinatal: O prefixo "peri" significa próximo ou ao redor, enquanto que "natal" quer dizer nascimento. Diz respeito ao período que vai desde que o bebê se encontra no útero até a sua saída completa pelo canal de nascimento para o mundo.É um intermediário entre o inconsciente individual e o inconsciente transpessoal ou coletivo. Significa que podemos entrar em contato com emoções, arquétipos, e vivências que ultrapassam o limite do individual, e abrangem toda a humanidade, e até mesmo toda a natureza.

Observa-se que esse tipo de experiência caracteriza-se por uma revivência e regressão a um estado intra-uterino, porém, não se restringe a uma simples regressão ao estado fetal. As matrizes perinatais se relacionam com as memórias do parto biológico, assim como com arquétipos do inconsciente coletivo. Nem sempre uma experiência perinatal é uma regressão ou revivência do próprio parto biológico, mas costuma ser uma experiência arquetípica, ou seja, um padrão ou modelo que contém uma série de emoções, sensações e imagens que são coletivas, e por isso, não fazem parte da história individual.

Através do perinatal é possível acessar toda uma gama de sensações, emoções intensas, reações instintivas que não nos são compreendidas, mas podem ser familiares. Toda essa quantidade de energia que nos permeia, e se mantém em nosso organismo, fica armazenada, influenciando nossa visão de mundo, de nós mesmos e da realidade como um todo.

Os estados ampliados de consciência, mais especificamente, os holotrópicos, tem um enorme potencial heurístico, de cura e de transformação. Assim, quando estamos sentindo e nos conectando com nossa história pessoal, com a história coletiva e transpessoal de uma e de várias emoções, existe um movimento em direção à totalidade (Holo-do grego,Holos=totalidade, e Tropico, do grego trepein=ir em direção, orientar-se à), e um movimento de cura e transformação.
O perinatal pode ser dividido, didáticamente, em 4 etapas ou "Matrizes".
Matriz Perinatal Básica I (MPB I)
Matriz Perinatal Básica II (MPB II)
Matriz Perinatal Básica III (MPB III)
Matriz Perinatal Básica IV (MPB IV)

Nivel Transpessoal: As experiências transpessoais se caracterizam por uma ampliação dos limites usuais e comuns a que estamos acostumados a perceber a nós mesmos na vida cotidiana. Quando entramos em contato com os estados holotrópicos e com experiências transpessoais, percebemos que estamos identificados com uma pequenina parcela daquilo que realmente somos.

O nosso corpo, ego, e consciência individuais são uma pequena parte da nossa identidade maior, transcendente e divina, com os quais estamos tão adaptados e restringidos. Nos sentimos separados de tudo e de todos, as barreiras e limites são bem delimitados, o tempo é linear, o espaço é tridimensional, e a nossa mente se restringe às nossas memórias, fantasias e dados da realidade consensual, tais como dentro é diferente de fora, acima não é o mesmo que abaixo, e etc.

Quando entramos no dominio transpessoal, somos capazes de nos identificarmos com toda a espécie humana, todo um povo, uma determinada cultura, sem que tenhamos conhecimento intelectual prévio. Podemos vir a conhecer em detalhes as características, os modos de vida, de gerações inteiras. Animais, plantas, processos biológicos, minerais, moléculas, átomos, sistemas planetários, o Vazio originário, Deus, a Criação. Pode haver ou não, a perda temporária da identidade pessoal, podemos nos sentir fundidos mas ainda conscientes da nossa própria, podemos sentir que existe uma única consciência que habita todos.