(...) Os paralelos experienciais sugerem que todas as três formas de experiências de quase-morte assustadoras têm raízes no nível perinatal da consciência. Gostaria de fazer, agora, uma apresentação mais completa dessa proposta. Começarei com uma revisão dos pontos mais importantes da experiência perinatal, segundo a descrição de Grof (1975, 1985, 1988).
Conteúdo Temático Restrito e Universal
Em contraposição à variedade de temas e questões que caracterizam o nível psicodinâmico da consciência, o conteúdo do nível perinatal é bem restrito.
Ele se foca nas experiências problemáticas universais e endêmicas da condição humana. Tais temas são: nascimento, dor física, doenças, envelhecimento e morte.
É um reservatório que agrega e armazena os reminescentes não-digeridos de tais experiências desafiadoras da nossa existência física e psicológica.
Altamente Condensado
No nível perinatal o inconsciente se organiza em sistemas altamente condensados (sistemas COEX), que armazenam nossas experiências em agregados de temática semelhante, as chamadas Matrizes Perinatais Básicas (MPBs) I até IV.
Quando esse nível é ativado, não são apenas as experiências individuais e medos que são acessados, mas padrões altamente sedimentados e comprimidos de memórias e medos, o resíduo destilado de padrões comportamentais de uma vida inteira.
Pela energia de um sistema COEX ser a energia cumulativa de todos os seus componentes, tais encontros são extremamente poderosos e arrebatadores.
O Repositório da Ilusão de Existência Separada
Sendo a intersecção entre as dimensões pessoal e transpessoal da consciência, o nível perinatal contém tanto aspectos pessoais quanto transpessoais.
Não é apenas o nível fetal da consciência, mas um modo operacional de consciência onde o pessoal e o transpessoal se misturam, juntando seus padrões organizacionais e estruturas.
Dada essa natureza híbrida, nossa descrição do perinatal varia se olharmos do ponto de vista pessoal ou do ponto de vista transpessoal da equação.
Da perspectiva pessoal, o perinatal parece ser o porão do inconsciente pessoal, onde se armazenam os fragmentos não-digeridos das experiências que mais seriamente ameaçaram a nossa integridade física e psicológica.
É o repositório dos maiores desafios da nossa existência. Pequena maravilha, então, que experiências fetais pareçam tão grandiosas aqui, como derivações de um período do nosso desenvolvimento onde estivemos mais vulneráveis e afetados pelo nosso ambiente.
Da perspectiva transpessoal, entretanto, o domínio perinatal se parece diferente, e aqui descobrimos interessantes pontos em comum com “Um Curso em Milagres”(1975).
Do lado transpessoal, o domínio perinatal se parece com o núcleo residual da insanidade vivida pela existência atomizada.
É o depósito das nossas tentativas individuais e coletivas de viver a mentira da separação, fingir que existimos como seres autônomos, isolados da tapeçaria da exsitência.
Ele representa a maior ignorância filosófica e doença psicoespiritual.
O nível perinatal consolida a identidade de um indivíduo e de uma espécie inteiras, que ainda não usaram suas próprias awareness para penetrar nas raízes da existência, onde se descobriria sua conexão com toda a vida.
Da perspectiva pessoal, as experiências perinatais criam a forma de ser atacado e atacar de volta, de matar e ser morto, até – eventualmente estarmos completa e totalmente destruídos.
Conforme vamos fazendo a transição para a perspectiva transpessoal, entretanto, essas mesmas experiências se descobrem como amorosas tentativas de nos salvar nos nossos esforços inúteis de nos separarmos do imenso fluxo da própria vida.
Ataques impiedosos de uma perspectiva é libertação piedosa sob outra perspectiva. Não estamos sendo mortos de jeito nenhum, mas sendo nascidos para uma realidade que é maior, mais fundamental e mais “real” que a realidade física.
A discussão de Ring sobre “Jacob´s Ladder (Rubin, Lyne, e Marshall 1991) vai direto nessa direção. Aliás, este filme pode ser visto como um roteiro da dimensão perinatal. (...)