Google+ Transpessoal e Fenomenologia Existencial: 11/01/2007 - 12/01/2007

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O Eu: Processo ou Ilusão? - James F.T. Bugental (trechos)

Em Busca da Própria Identidade
 
Para muitos de nós, a experiência da perda de todos os o que de nossas vidas é equivalente à morte. O que fazemos é a expressão do nosso ser, a qual pode facilmente tornar-se a medida e a soma do nosso ser.
Vou esclarecer este ponto em poucas palavras. O "eu", que é o processo ativo da pessoa, é muito diferente do "me" ou "mim", que se compôe dos atributos que a pessoa possui. Por uma questão de conveniência, referir-me-ei ao Eu-processo, por um lado, e ao Eu-atributo (isto é, "me", "mim" ou "a mim"), por outro lado, que acredito serem aspectos muito distintos de cada um de nós (Bugental, 1965, Capítulos 11 e 12).
O Eu-processo é puro sujeito, puro processo e não tem qualidades substantivas intrínsecas. O eu-processo é o "fazedor" ativo e cônscio. O Eu-atributo é puro objeto, exclusivamente atributivo e substantivo. Não tem consciência, pois trata-se, simplesmente, de um construto por nós criado a partir das nossas experiências. Falamos impensadamente do "eu" e do "mim" como se fossem idênticos. Isto é uma falácia do mesmo tipo que confunde o motorista com seu carro.

Razões Para Distinguir o Eu-Processo do Eu-Atributo

A distinção é de enorme importância por muitas razões. Primeiro, quando as nossas identidades dependem do "mim" ou Eu-Atributo, somos passíveis de acabar vinculados ao passado. Segundo, o quadro objetivo de referência, que é o quadro do Eu-Atributo, é muito vulneável e, portanto, o nosso bem-estar pode correr perigo ou até ser derrubado pelas circunstâncias. Finalmente, a confusão dos aspectos subjetivos e objetivos do nosso ser tende a criar dificuldades nas relações interpessoais e a acarretar sentimentos de autoconfiança e amor-próprio diminuídos. Examinemos cada uma dessas considerações em maior detalhe.
Ao aspecto objetivo da pessoa chamamos o Eu-Atributo (self). Possivelmente, seríamos mais precisos se falássemos de um Eu-conceptual ou eu-Construto. É o Eu tal como o observamos. Assim como acabamos por formar um "conceito de mesa" pelo fato de vermos muitas mesas diferentes, também desenvolvemos um conceito de mim através de muitos anos de observação de eu mesmo.
Formamos gradualmente os nossos conceitos sobre que espécie de pessoa somos e, irrefletidamente, pressupomos ser essa a única maneira em que podemos ser. Assim, estar "dependente" de si mesmo é viver pelo seu passado em vez de viver a sua vida presente. O que é fresco passa despercebido ou, pior, é convertido no que é cediço e rançoso ; o que oferece nova oportunidade só é visto em termos familiares e rotineiros e o que liberta é confundido com mais outra restrição.
Em resumo, o Eu-Atributo é uma espécie de album de recortes onde guardamos tudo o que vimos de nossas vidas. Dota-nos com um sentimento de continuidade. É frequentemente útil quando se procede a escolhas automáticas e sem importância. É certamente bem recompensado pelas pessoas que nos cercam, porquanto constitui a base da coerência de comportamento que nos torna mais estáveis e compreensíveis aos olhos dos outros. (...)

O Eu-Atributo é valioso, mas só tem utilidade quanto a o que é, um registro de o que foi. Quando permitimos que se torne a base de determinação do presente, perdemos a nossa vitalidade e tornamo-nos enfadonhos, sem criatividade. Há um aforismo que diz "A estrutura é a secreção do processo." Eu gostaria de parafraseá-lo dizendo: "O Eu-atributo é a secreção do Eu-processo." (...)
Cumpre-me esclarecer aqui um assunto. Expressamos o nosso ser e as nossas identidades, por certo, através das nossas ações, mas essa expressão não é a mesma coisa que o nosso ser ou identidade. Sou eu quem está escrevendo este capítulo. Entretanto, o que escrevo aqui não é a minha identidade. Sou o processo de escrever - isto é, o processo de pensar, sentir, escrever, rever. Mas não sou apenas essas coisas nem sou o conteúdo específico de qualquer ou todas elas. isto não significa que não tenha responsabilidade pelo conteúdo do que digo. Tenho essa responsabilidade, mas, repito, essa responsabilidade não me define. Assim, se o processo de escrever estas palavras e de ver-me depois diante delas desafia algumas das minhas idéias, como espero que aconteça, poderei escrever algo diferente na próxima semana sem sentir por isso que a minha identidade está ameaçada. A razão reside no fato de eu ser um processo em desenvolvimento constante, não um processo que acontece uma vez e depois se imobiliza numa estrutura.
(trechos retirados do livro: Psicologia Existencial-Humanista - Thomas C. Greening, 1975, Rio de Janeiro, ZAHAR ED.)