Um Diálogo com Kenneth Ring por Christopher M. Bache, Ph.D.
Uma Interpretação Perinatal
de
Uma Interpretação Perinatal
de
Experiências Assustadoras de Quase-Morte (EQM)
RESUMO: Embora esteja de acordo com várias conclusões de Kenneth Ring, proponho uma interpretação mais compreensiva das experiências assustadoras de quase-morte (EQM). Critico a interpretação das EQM sem-sentido e vazias como reações de emergência e argumento que todas as três formas de EQM assustadoras - invertida, infernal, e vazias-sem-sentido - são melhor compreendidas com suas raizes no nível perinatal da consciência. Expando a descrição de resistência do ego à morte como a causa destas EQM, e desenvolvo as implicações gerais de uma leitura perinatal das EQM assustadoras. Finalmente, introduzo e exploro paralelos com a experiência da "noite negra da alma".
Qualquer um familiarizado com o trabalho de Stanislav Grof não pode deixar de se tocar com os paralelos fenomenológicos entre a sintomatologia perinatal (Grof, 1975, 1985, 1988) e experiências de quase-morte assustadoras (EQM) (Atwater, 1992; Grey, 1985; Greyson e Bush, 1992; Irwin e Bramwell, 1988; Rawlings, 1978). Estes extensos paralelos sugerem que o conceito do nivel perinatal de Grof pode conter uma chave importante para o entendimento dessas EQM enigmáticas. Kenneth Ring está ciente destes paralelos e os discute na sua análise das variedades vazias e sem-sentido de EQM neste artigo, "Resolvendo a Questão das Experiências de Quase-Morte Assustadoras" (1994). Sua análise é profunda e produtiva, e acredito que os paralelos com a experiência perinatal são muito mais amplos do que ele reconheceu.
Qualquer um familiarizado com o trabalho de Stanislav Grof não pode deixar de se tocar com os paralelos fenomenológicos entre a sintomatologia perinatal (Grof, 1975, 1985, 1988) e experiências de quase-morte assustadoras (EQM) (Atwater, 1992; Grey, 1985; Greyson e Bush, 1992; Irwin e Bramwell, 1988; Rawlings, 1978). Estes extensos paralelos sugerem que o conceito do nivel perinatal de Grof pode conter uma chave importante para o entendimento dessas EQM enigmáticas. Kenneth Ring está ciente destes paralelos e os discute na sua análise das variedades vazias e sem-sentido de EQM neste artigo, "Resolvendo a Questão das Experiências de Quase-Morte Assustadoras" (1994). Sua análise é profunda e produtiva, e acredito que os paralelos com a experiência perinatal são muito mais amplos do que ele reconheceu.
Os paralelos experienciais sugerem que todas as três formas de experiências de quase-morte assustadoras têm raízes no nível perinatal da consciência. Gostaria de fazer, agora, uma apresentação mais completa dessa proposta. Começarei com uma revisão dos pontos mais importantes da experiência perinatal, segundo a descrição de Grof (1975, 1985, 1988).
Conteúdo Temático Restrito e Universal
Em contraposição à variedade de temas e questões que caracterizam o nível psicodinâmico da consciência, o conteúdo do nível perinatal é bem restrito. Ele se foca nas experiências problemáticas universais e endêmicas da condição humana. Tais temas são: nascimento, dor física, doenças, envelhecimento e morte. É um reservatório que agrega e armazena os reminscentes não-digeridos de tais experiências desafiadoras da nossa existência física e psicológica.
Altamente Condensado
No nível perinatal o inconsciente se organiza em sistemas altamente condensados (sistemas COEX), que armazenam nossas experiências em agregados de temática semelhante, as chamadas Matrizes Perinatais Básicas (MPBs) I até IV.Quando esse nível é ativado, não são apenas as experiências individuais e medos que são acessados, mas padrões altamente sedimentados e comprimidos de memórias e medos, o resíduo destilado de padrões comportamentais de uma vida inteira. Pela energia de um sistema COEX ser a energia cumulativa de todos os seus componentes, tais encontros são extremamente poderosos e arrebatadores.
O Repositório da Ilusão de Existência Separada
Sendo a intersecção entre as dimensões pessoal e transpessoal da consciência, o nível perinatal contém tanto aspectos pessoais quanto transpessoais. Não é apenas o nível fetal da consciência, mas um modo operacional de consciência onde o pessoal e o transpessoal se misturam, juntando seus padrões organizacionais e estruturas. Dada essa natureza híbrida, nossa descrição do perinatal varia se olharmos do ponto de vista pessoal ou do ponto de vista transpessoal da equação.
Da perspectiva pessoal, o perinatal parece ser o porão do inconsciente pessoal, onde se armazenam os fragmentos não-digeridos das experiências que mais seriamente ameaçaram a nossa integridade física e psicológica. É o repositório dos maiores desafios da nossa existência. Pequena maravilha, então, que experiências fetais pareçam tão grandiosas aqui, como derivações de um período do nosso desenvolvimento onde estivemos mais vulneráveis e afetados pelo nosso ambiente.
Da perspectiva transpessoal, entretanto, o domínio perinatal se parece diferente, e aqui descobrimos interessantes pontos em comum com “Um Curso em Milagres”(1975). Do lado transpessoal, o domínio perinatal se parece com o núcleo residual da insanidade vivida pela existência atomizada. É o depósito das nossas tentativas individuais e coletivas de viver a mentira da separação, fingir que existimos como seres autônomos, isolados da tapeçaria da exsitência. Ele representa a maior ignorância filosófica e doença psicoespiritual. O nível perinatal consolida a identidade de um indivíduo e de uma espécie inteiras, que ainda não usaram suas próprias awareness para penetrar nas raízes da existência, onde se descobriria sua conexão com toda a vida.
Da perspectiva pessoal, as experiências perinatais criam a forma de ser atacado e atacar de volta, de matar e ser morto, até – eventualmente estarmos completa e totalmente destruídos. Conforme vamos fazendo a transição para a perspectiva transpessoal, entretanto, essas mesmas experiências se descobrem como amorosas tentativas de nos salvar nos nossos esforços inúteis de nos separarmos do imenso fluxo da própria vida. Ataques impiedosos de uma perspectiva é libertação piedosa sob outra perspectiva. Não estamos sendo mortos de jeito nenhum, mas sendo nascidos para uma realidade que é maior, mais fundamental e mais “real” que a realidade física. A discussão de Ring sobre “Jacob´s Ladder (Rubin, Lyne, e Marshall 1991) vai direto nessa direção. Aliás, este filme pode ser visto como um roteiro da dimensão perinatal.
(continuação)
Padrões de experiências perinatais
Nas matrizes II até IV, o indivíduo enfrenta as maiores causas ou raízes do desespero existencial, solidão metafísica e sentimentos profundos de culpa e inferioridade ; mas as nuances e o foco dessas confrontações variam em cada fase, e seguem uma sequência de desenvolvimento.
Na Matriz II o sujeito costuma experienciar assaltos arrebatadores à aquilo que ele ou ela são totalmente indefesos. Torturas sem chances de escapatória, ele ou ela são colocados em um grandioso desespero metafísico. A existência parece totalmente sem sentido, e sentimentos de culpa, inferioridade e alienação são vividos com uma distinta qualidade de desesperança. Esta é a primeira matriz que costuma aparecer em contextos terapêuticos.
(Nota do tradutor: antes da matriz II, ainda existe a matriz I, que se refere ao estado inicial do bebê dentro útero antes do início do trabalho de parto. A Matriz II é o primeiro estágio do nascimento, por assim dizer.)
Na Matriz III a maioria dos temas presentes na Matriz anterior estão presentes, mas com uma diferença essencial. Como agora existe uma certa chance de escapatória - a cérvix está dilatada - começa uma luta titânica por sobrevivência. O encontro com o fogo purificador que destrói tudo que é ruim ou corrupto no indivíduo, é uma experiência que costuma aparecer com frequência.
Na Matriz IV, o sujeito pode perder a necessidade de sobrevivência e experienciar uma completa morte-do-ego. O mundo dele ou dela entra em colapso, com a perda total de referências significativas. Depois de morrer como um ego, ele ou ela experienciam renascimento para um modo de consciência trans-individual. Todos os tormentos cessam repentinamente e se seguem experiências de redenção, perdão, e amor profundo. Tais experiências são aprofundadas em uma direção mística, enquanto o indivíduo é tomado por vivências de unidade cósmica, características da Matriz I (Grof, 1975).
O processo de morte e renascimento nunca se completa em uma única sessão, e muitas sessões onde as mesmas questões são retomadas, até que todo o conteúdo perinatal esteja esgotado. O padrão usual é que o sujeito trabalhando nesse nível, vai eventualmente experienciar uma crise perinatal cada vez maior, que centraliza todas as fases em uma única fase. Enfrentando e resolvendo a crise, eventualmente vai levar a pessoa para experiências transpessoais positivas como conclusão, mesmo que o conteúdo perinatal possa aparecer em futuras sessões. No estágio final de uma sessão, as pessoas podem experienciar dificuldades de "reentrada" ou de retorno ao nível de consciência cotidiano e não-ampliado, se ficarem empacados em material psicodinâmico ou perinatal não totalmente resolvidos (Grof, 1980). (Este padrão se assemelha às observações de James Linley, Sethyn Bryan a Bob Conley (1981) de que experiências negativas costumam ocorrer no início e no final de E.Q.M.) Se o processo é continuado em múltiplas sessões, uma experiência final de morte-renascimento vai poder consumir todo o material perinatal, e em sessões posteriores o indíviduo vai acessar experiências transpessoais diretamente.
(continuação)
Padrões de experiências perinatais
Nas matrizes II até IV, o indivíduo enfrenta as maiores causas ou raízes do desespero existencial, solidão metafísica e sentimentos profundos de culpa e inferioridade ; mas as nuances e o foco dessas confrontações variam em cada fase, e seguem uma sequência de desenvolvimento.
Na Matriz II o sujeito costuma experienciar assaltos arrebatadores à aquilo que ele ou ela são totalmente indefesos. Torturas sem chances de escapatória, ele ou ela são colocados em um grandioso desespero metafísico. A existência parece totalmente sem sentido, e sentimentos de culpa, inferioridade e alienação são vividos com uma distinta qualidade de desesperança. Esta é a primeira matriz que costuma aparecer em contextos terapêuticos.
(Nota do tradutor: antes da matriz II, ainda existe a matriz I, que se refere ao estado inicial do bebê dentro útero antes do início do trabalho de parto. A Matriz II é o primeiro estágio do nascimento, por assim dizer.)
Na Matriz III a maioria dos temas presentes na Matriz anterior estão presentes, mas com uma diferença essencial. Como agora existe uma certa chance de escapatória - a cérvix está dilatada - começa uma luta titânica por sobrevivência. O encontro com o fogo purificador que destrói tudo que é ruim ou corrupto no indivíduo, é uma experiência que costuma aparecer com frequência.
Na Matriz IV, o sujeito pode perder a necessidade de sobrevivência e experienciar uma completa morte-do-ego. O mundo dele ou dela entra em colapso, com a perda total de referências significativas. Depois de morrer como um ego, ele ou ela experienciam renascimento para um modo de consciência trans-individual. Todos os tormentos cessam repentinamente e se seguem experiências de redenção, perdão, e amor profundo. Tais experiências são aprofundadas em uma direção mística, enquanto o indivíduo é tomado por vivências de unidade cósmica, características da Matriz I (Grof, 1975).
O processo de morte e renascimento nunca se completa em uma única sessão, e muitas sessões onde as mesmas questões são retomadas, até que todo o conteúdo perinatal esteja esgotado. O padrão usual é que o sujeito trabalhando nesse nível, vai eventualmente experienciar uma crise perinatal cada vez maior, que centraliza todas as fases em uma única fase. Enfrentando e resolvendo a crise, eventualmente vai levar a pessoa para experiências transpessoais positivas como conclusão, mesmo que o conteúdo perinatal possa aparecer em futuras sessões. No estágio final de uma sessão, as pessoas podem experienciar dificuldades de "reentrada" ou de retorno ao nível de consciência cotidiano e não-ampliado, se ficarem empacados em material psicodinâmico ou perinatal não totalmente resolvidos (Grof, 1980). (Este padrão se assemelha às observações de James Linley, Sethyn Bryan a Bob Conley (1981) de que experiências negativas costumam ocorrer no início e no final de E.Q.M.) Se o processo é continuado em múltiplas sessões, uma experiência final de morte-renascimento vai poder consumir todo o material perinatal, e em sessões posteriores o indíviduo vai acessar experiências transpessoais diretamente.
(...) Esse foi mais um trecho do texto "A Perinatal interpretation do frightening near-death experiencies: A Dialogue with Kenneth Ring", de Christopher M. Bache.
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BZ - Viagem Alucinante (Jacob´s Ladder) - saiba mais aqui
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