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Estrategia De Vida - O Caminho Do Curso D`agua

Trechos do livro "Quando o Impossível Acontece", de Stanislav Grof, pela Editora Heresis, 2007
"O Caminho do Curso D`água" - Pagina 79

 
Uma das características mais impressionantes do trabalho experimental profundo com estados ampliados de consciência é o efeito que tem sobre o nosso modo de vida e sobre a estratégia que usamos para lidar com desafios e projetos.

O modelo oferecido em sociedades tecnológicas, no que se refere a isso, é definir o objetivo que desejamos conquistar e buscá-lo com energia concentrada e determinação inabalável. 

Isto inclui a identificação e remoção de obstáculos que impedem nosso avanço e o combate com potenciais inimigos. A vida de um indivíduo que siga essa receita assemelha-se a uma luta de vale-tudo ou uma competiçao de boxe.

Trabalhei com muitas pessoas que conseguiram entender as forças psicológicas subjacentes a esta estratégia e transcendê-la.

Essas pessoas descobriram que este enfoque à existência reflete o fato de que não superamos a marca deixada pelo trauma do nosso nascimento em nossa psique e estamos separados e alienados do domínio espiritual. 

Nossos esforços para conquistas externas são projeções de um esforço mais profundo e muito mais fundamental para completarmos psicologicamente o processo do nascimento e para fazermos uma conexão espiritual. 

Não há fim para a nossa fome por conquistas externas, porque nunca temos o bastante do que, na verdade, não precisamos ou desejamos. 



A auto-exploração responsável e sistemática pode ajudar-nos a superar o trauma do parto e a fazer uma conexão espiritual profunda. 

Isto nos leva na direção do que os mestres espirituais do tao chamam de wu wei, ou "quietude criativa", que não é ação envolvendo o esforço ambicioso determinado, mas fazer por ser. Isto é chamado, às vezes, de "caminho do curso d`água", porque imita o modo como a água opera na natureza.

Em vez de nos concentrarmos em determinado objetivo pré-fixado, tentamos sentir a direção em que as coisas se movem e como podemos nos ajustar a esse movimento. 

Esta é a estratégia usada nas artes marciais e no surfe, que envolve o foco sobre o processo, em vez de no objetivo e no resultado. 

Quando conseguimos enfocar a vida dessa forma, acabamos por conquistar mais e com menos esforço. 

Além disso, nossas atividades não são egocêntricas, exclusivas e competitivas, como ocorre durante a busca de metas pessoais, mas inclusivas e sinérgicas. 

O resultado não nos traz apenas satisfação, mas serve também a um fim maior da comunidade.

Também observei repetidamente e já senti pessoalmente que, quando operamos nessa moldura taoísta, coincidências benéficas e sincronicidades extraordinárias tendem a ocorrer em apoio ao nosso projeto e nos ajudam em nosso trabalho. Descobrimos "acidentalmente" as informações que precisávamos, as pessoas certas aparecem no momento certo e os fundos necessários nos vêm inesperadamente.

Dominio Perinatal do Inconsciente

Perinatal

Introdução: O Que é o Perinatal?

O termo "perinatal" combina o prefixo "peri" (ao redor) e "natal" (nascimento), referindo-se ao período que vai desde a vida intrauterina até o momento do parto. 

Esse domínio do inconsciente funciona como uma ponte entre o inconsciente individual e o transpessoal, revelando emoções, arquétipos e experiências que transcendem a história pessoal, conectando-nos à humanidade e à natureza como um todo.  

Aqui, não se trata apenas de uma regressão ao estado fetal, mas de uma revivência profunda que pode desbloquear traumas, liberar energia estagnada e transformar nossa percepção de mundo. 

Estados ampliados de consciência, como os vividos em experiências holotrópicas, permitem acessar essas memórias, promovendo cura e integração.  

Primeira Matriz Perinatal Básica (MPB-I) - O Universo Amniótico

O feto encontra-se em perfeita simbiose com a mãe. A vida no útero materno é imperturbada, as condições do feto são próximas do ideal. 

Os elementos do estado intra-uterino imperturbado podem ser acompanhados por experiências que compartilham a falta de limites e de obstruções. 

Pode sentir-se no meio do oceano, se identificar com algumas espécies aquáticas, ou com o cosmos, espaço, a galáxia, ou ainda numa nave em órbita. Imagens da natureza no seu melhor aspecto, bonita, segura e incondicionalmente alimentadora (Mãe Natureza). Visões do paraíso.

Caso a gravidez tenha sido de alguma maneira perturbada por doenças maternas, fumo, bebidas, drogas, desequíbrios químicos dentro do útero, a vivência não será tão positiva e alimentadora. Perigos submarinos, poluição de rios, mares ou oceanos, natureza contaminada e inóspita. Identificação com pessoas ou animais envenenados, em câmaras de gás em campos de concentração. Forças metafísicas malignas, influências astrais maléficas. Terror e paranóia.

O principal elemento dessa matriz é a falta de limites, uma vez que não existe diferenciação entre o feto e a mãe. 

Assim, qualquer coisa boa ou ruim será vivenciada como algo amplo, indiferenciado. A paranóia também diz respeito à falta de limites e indiferenciação entre sujeito e objeto.

Quadro I - (do livro "Além do Cérebro", de S. Grof)

Síndromes psicopatológicas: Psicoses esquizofrênicas (sintomatologia paranóide, sentimentos de união mística, encontros com forças maléficas metafísicas); hipocondrialgia (baseada em sensações físicas estranhas e bizarras); alucinações histéricas e devaneios confusos com a realidade.

Atividades correspondentes nas zonas erógenas freudianas:Satisfação libidinal em todas as zonas erógenas; sensações libidinais durante o banho ou balanço; aproximação parcial a esta condição após satisfação oral, anal, uretral ou genital após o parto.

Memórias associadas da vida pós natal:  Situações na vida nas quais todas as necessidades importantes são satisfeitas como: momentos felizes da infância (bons cuidados maternos, brincar com outras crianças, períodos harmoniosos na família,etc.); realização no amor, romances, férias ou viagens para lugares de beleza natural; contato com criações artísticas de alto-nível, natação no oceano ou em lagos límpidos etc.

Fenomenologia da Primeira Matriz: Vida intra-uterina tranquila: lembranças realísticas de experiências do "útero agradável";tipo de êxtase "oceânico", natureza sob seu melhor aspecto (Mãe Natureza);experiências de unidade cósmica;visões de Céu e Paraíso.

Distúrbios da vida intra-uterina: lembranças realísticas do "útero desagradável" (crises fetais, doenças, revolta materna, situação do gêmeo, tentativas de aborto); ameaça universal; idealização paranóide, desagradáveis sensações físicas ("porre", arrepios e espasmos, gostos desagradáveis, desgosto, sensação de evenenamento); encontro com entidades demoníacas e outras formas metafísicas e maléficas.


Segunda Matriz Perinatal Básica (MPB II) - Antagonismo com a mãe



Contrações em um sistema uterino fechado. O inferno sem saída. Neste estágio do parto, a cérvice (o canal vaginal) ainda não está aberta, e o bebê não pode sair, enquanto enormes pressões atuam sobre ele. 

O conforto do estágio anterior não existe mais, a temperatura costuma estar mais fria, a pressão sobre o corpo do bebê pode estar atrapalhando a circulação e o fornecimento de sangue e de calor para ele. 

É uma das piores situações que se pode reviver. Paradoxalmente, a única saída é aceitar completamente e render-se à situação sem saída.
Os sentimentos relacionados são: ausência de saída, ausência de sentido da vida, estar em uma situação sem solução possível, tais como prisioneiros em campos de concentração, internos em hospícios, enterrados vivos, isolamento, solidão existencial, medo, vitimização completa, medo de enlouquecer ou de nunca mais voltar. 

O mito de Sísifo, condenado a levar uma pedra que cairá indefinidamente depois que ele conseguir colocá-la no topo da montanha. 

Identificar-se com Cristo preso à cruz perguntando por que Deus o abandonou. Danação eterna.
Quando se está sobre influência dessa matriz perinatal, a pessoa está seletivamente cega aos aspectos positivos da vida, e tudo lhe parece sem sentido, a vida parece um teatro encenado por atores que não agem com sinceridade. 

A inevitabilidade da morte se revela presente em todos os momentos, tornando a vida sem sentido. Se vivenciado em toda a sua profundidade, pode ser extremamente libertador e promover uma importante abertura espiritual.

Terceira Matriz Perinatal Básica (MPB III)
Luta de morte-renascimento

Inferno com saída. Nesse estágio do parto ainda existem pressões sobre o bebê, porém o canal de parto encontra-se com alguma abertura. Costumamos dizer "Uma luz no fim do túnel." 

O papel de vítima não é o único presente, mas também o de agressor, assim como o de um terceiro observador que se identifica com os dois outros papéis. Os três papéis são vividos ao mesmo tempo. 

O bebê não é uma mera vítima, presa em um ambiente sem saída como antes, mas agora também se esforça para sobreviver e sair do canal de parto. 

Envolve pressões mecânicas esmagadorasm dores e muitas vezes um alto grau de anoxia e asfixia. Intensa ansiedade é um elemento concomitante natural de tal situação.

Pode haver interrupção da circulação sanguínea em função das contrações uterinas e da compressão das artérias uterinas. 

Pode haver enrolamento do cordão embilical em torno do pescoço ou o cordão pode estar esmagado. A placenta pode se soltar e bloquear a passagem (placenta prévia). Em alguns casos o feto pode inalar vários tipos de materiais biológicos. 

Pode haver a necessidade de intervenção mecânica, como o uso de fórceps ou mesmo cesariana. 

Sentimentos de separação tipo "eu e os outros". Elementos sadomasoquistas (inflingir e receber sofrimento) , escatológicos (tanto fezes e excrementos quanto imagens do fim-do-mundo), comportamento sexual anormal, depressão agitada, desvios sexuais (sadomasoquismo, beber urina e comer fezes). Fogo purificador e consumidor dos aspectos negativos da psique.

Aspecto titânico - face à enormidade de forças mecânicas envolvidas no estágio final do nascimento. É comum experimentarmos correntes de energia, de intensidade avassaladora, precorrendo todo o corpo. Podemos nos identificar com forças da natureza: vulcões, tempestades elétricas, terremotos, ondas gigantes e furacões. Ou também vivenciarmos elementos da tecnologia que envolvam muita energia, tais como tanques, foguetes, bombas atômicas e reatores termonucleares. Batalhas de proporções gigantescas e arquetípicas, entre o Bem e o Mal, Luz e Trevas, anjos e demônios, deuses e os Titâs.

Aspecto agressivo e sadomasoquista - Reflexos da fúria biológica do organismo cuja sobrevivência é ameaçada pela asfixia e pelas contrações uterinas podem ser: crueldades avassaladoras, assassinatos e suicídios violentos (morrer debaixo das rodas de veículos ou com armas de fogo), mutilações e auto-mutilações, massacres variados, tortura, execução, sacrifício, rituais, auto-sacrifício, combates sangrentos homem-a-homem, e prática sadomasoquista. Excitação sexual e extase sexual, em função de um mecanismo fisiológico que converte sofrimento biológico em prazer e excitação. Experiências sexuais no contexto dessa Matriz caracterizam-se por uma enorme intensidade do impulso sexual, qualidade mecânica não seletiva, natureza exploradora, pornográfica e desviada. Cenas de bordéis, submundo sexual, práticas sexuais extravagantes, sequências sadomasoquistas, incesto, abuso sexual ou estupro. Algumas poucas vezes podem aparecer crimes sexuais, como desmembramento, canibalismo e necrofilia. Esse nível da psique é uma base natural para disfunções, variações, desvios e perversões sexuais, em função da combinação de excitação sexual exacerbada conectada e elementos problemáticos, de ameaça à vida, perigo extremo, ansiedade, agressividade, impulsos auto-destrutivos, dor fisica e materiais biológicos.

Aspecto demoníaco - Quando aparece esse aspecto, costuma ser encarado com relutância tanto pelos terapeutas quanto por quem o experimenta. Temas comuns são Sabá das Feiticeiras, orgias satânicas, rituais de Missa Negra, e a tentação por forças malévolas. O encontro com o lado obscuro da nossa personalidade, a Sombra, pode ser encarada como demoníaco ou malévolo. Quando se consegue integrar adequadamente esse aspecto sombrio, o resultado costuma ser muito bom, mas pode ser difícil de se alcançar, dependendo da formação e das crenças de quem encara tais aspectos.

Aspecto escatológico - Tem sua base biológica porque durante o parto o bebê pode entrar em contato com sangue, secreções vaginais, urina e até fezes. Porém a experiência costuma exceder em muito o que o feto realmente experienciou durante o nascimento. Cenas de arrastar-se no lixo, em esgotos, chafurdar em pilhas de escremento, beber sangue ou urina, imagens repulsivas de putrefação. Escatologia também se refere ao fim de alguma coisa. Próximo do término, a experiência fica menos violenta e perturbadora. Imagens de conquistas de novos territórios, caças de animais selvagens, esportes perigosos e aventuras em parques de diversão, ondas de adrenalina, corridas de carro, saltos de pára-quedas ou com elástico, performances perigosas de circo ou mergulhos acrobáticos.

Encontro com o fogo - Logo antes do renascimento espiritual podemos encontrar o elemento fogo, tanto em suua forma comum diária, como em forma arquetípica do fogo do purgatório. Sensações que estamos com o corpo pegando fogo, visões de cidades e florestas em chamas, identificação com vítimas de imolação. O fogo parece queimar tudo o que há de impuro e corrompido em nós, e preparar-nos para o renascimento espiritual. Símbolo clássico é a Fênix, pássaro lendário que morre no fogo e renasce das cinzas.


Desordens emocionais e psicossomáticas relacionadas:

Agorafobia - medo de lugares abertos ou da transição de um para o outro. No nível perinatal está relacionada ao final da Matriz III, quando a liberação repentina, após muitas horas de confinamento extremo, é acompanhada do medo de perder todas as fronteiras, de explodir e de deixar de existir.

Bacilofobia e misofobia - medo patológico de materiais biológicos, odores corporais e sujeira. Medo não apenas de ser contaminado, mas de contaminar os outros também, e isso está estritamente relacionado com a agressividade orientada tanto para dentro quanto para fora, o que é exatamente a situação característica dos últimos estágios do nascimento. Os determinantes biográficos costumam envolver memórias da época do treinamento dos esfíncteres, mas suas raízes vão mais fundo e alcançam os aspectos escatológicos da Matriz III, na conexão que existe entre morte, agressividade, excitação sexual e material biológico.
Medo de viajar de trem ou metrô, medo de avião ou de viajar de carro - A falta de controle parece ser um elemento de grande importância nas fobias que envolvem movimento. A excessiva necessidade de estarem no controle da situação é típica dos indivíduos que estão sob forte influência da Matriz III e sistemas COEX relacionados, enquanto a capacidade de se render ao fluxo dos eventos demonstra forte conexão com as Matrizes I e IV.

A sensação de estar preso e a experiência de forças e energias enormes em movimento, sem ter qualquer controle sobre o processo, são elementos em comum dessas fobias, e tais elementos tem fortes conexões com o nascimento. Passar em túneis e passagens subterrêneas também apresentam similaridades com o processo de nascimento experimentado durante a Matriz III. Para que tais situações desencadeiem a fobia, as memórias perinatais têm de estar facilmente disponíveis à consciência.
Acrofobia ou medo de alturas, quereunofobia ou medo patológico de tempestades, pirofobia ou medo do fogo.

Histeria de conversão - transformação simbólica de conflitos inconscientes e de impulsos instintivos em sintomas físicos.

Neurose Obsessivo-Compulsiva

Depressão Agitada

Quarta Matriz Perinatal Básica 
(MPB IV)
Experiência de morte-renascimento
Essa última matriz está relacionada com os momentos que se sucedem à saída do canal de parto, e aos cuidados imediatamente recebidos pela mãe, por médicos e enfermeiras. Como em todas as matrizes, como existem fortes sentimentos envolvidos, sempre podemos experienciar arquétipos e experiências coletivas concomitantes ao nascimento biológico.

Se o parto real foi sem problemas, sem muita anestesia e os cuidados foram os ideais, então as memórias e experiências arquetípicas associadas são as melhores possíveis: bem-aventurança, sentir-se vitorioso e merecedor da vida, sentir-se amado e querido, sentir-se amado incondicionalmente, sentir-se livre após um grande esforço, sensação de ter deixado tudo o que passou para trás e novo em folha.

Muitas vezes o parto é feito com uma dose alta de anestesia, ou então, o parto é controlado a tal ponto de postergar ao máximo a saída do bebê até que o médico possa realizar o trabalho, ou ainda o parto é programado e a cesárea é o tipo de parto que se realiza. Muitas variáveis podem interferir. Pode ser necessário o uso de fórceps, o cordão pode estar enrolado no pescoço, a criança pode ter nascido quase-morta, sem conseguir respirar, ou na melhor das hipóteses, muito dopada pela anestesia e desorientada.

Caso tenham existido essas inteferências, a experiência de reviver o próprio nascimento e o contato com os aspectos arquetípicos também são diferentes.

Sabe-se que o parto com cesárea programada costuma facilitar que as crianças tenham um acesso mais imediato à espiritualidade, podendo esta ser tanto manifestada com religião ou espiritualidade sem dogmas. A explicação para isso se deve ao fato de o bebê não entrar em contato com as Matrizes II e III, ou pular apenas a Matriz III e encontrar os aspectos da Matriz IV.

No caso da cesárea de emergência, quando o bebê necessita de ajuda para nascer por alguma complicação física durante o parto, isso pode implicar num parto menos ativo da parte dele, e como consequência, não passar pela Matriz III, que refere-se ao momento de confronto, luta pela sobrevivência e uso da força física.
A tendência de nascidos com parto de emergência, pode ser uma atitude mais passiva frente a dificuldades, e a esperança de uma ajuda superior ou divina, como resultado de um registro biológico de ajuda externa por parte da equipe médica que realizou o parto. 

Curador Interno - Inner Healer




A teoria de Stan Grof é baseada totalmente nas suas pesquisas clínicas de laboratório. 

Estas, realizadas desde os anos 1960, inicialmente com a substãncia recém-sintetizada em laboratório LSD, pela Sandoz na Suíça, e posteriormente, com técnicas de alteração da consciência sem drogas, como a Respiração Holotrópica (tm) e o Renascimento.





Inicialmente nomeada de "Integração Holonômica" e por fim "Respiração Holotrópica", essa técnica utiliza o conceito de "curador interno" (inner healer, em inglês).

Trata-se da capacidade intrínseca de cura da consciência, presente tanto nos estados ampliados, quanto nos estados comuns do dia-a-dia.

Tem a função de trazer à consciência os conteúdos (sensações,imagens, situações, emoções, memórias, insights) para serem reconectados à totalidade da mesma. 


O "Curador Interno" funciona como um "radar", que seleciona conteúdos
de maior relevância para ficarem totalmente conscientes



O "curador interno" está acessível a todas as pessoas, em graus diferentes de manifestação. Recomenda-se atenção e percepção das informações que esse aspecto está sempre disposto a nos mostrar.

Essencialmente, significa que todas as situações da nossa vida são oportunidades de cura de nossos sofrimentos, desde que elas sejam compreendidas como tal, ao invés de castigos ou coincidências que cruzam a nossa existência.

No dia-a-dia, situações que nos provocam reações conhecidas, na verdade, podem nos revelar muito a respeito de nós mesmos, se observarmos nossas reações de um modo "objetivo", sem julgamentos pré-definidos de valor. 

Nossa educação tradicional nos direciona a olhar para os objetos e o mundo externo, e encarar nossas reações como consequências diretas do mundo externo. Além disso, não somos ensinados a observar a nós mesmos de modo semelhante ao que fazemos com os objetos externos, mas isso também é possivel com práticas de meditação, contemplação, relaxamento e hipnose, para citar algumas. 

A meditação permite aprimorar o olhar para dentro de nós mesmos,
e trazer a consciência para o momento presente.


Nas sessões de Respiração Holotrópica (tm) e Renascimento, a percepção do fluxo de consciência fica mais fácil de ser observada, em função da sua ampliação, e da consequente ação de mecanismos de cura, como o "curador interno", que torna-se o centro das atenções, pois o foco da mente está voltado para o mundo interior.

O conceito de "curador interno / inner healer" devolve às pessoas seu poder de auto-realização e autoconhecimento, se promovido num ambiente de respeito e apoio incondicionais ao que cada pessoa revela de si mesma no mundo.

A função do terapeuta é a de facilitador do movimento de cura que já está ocorrendo, até que este processo se complete, e a pessoa seja capaz de existir no mundo sem o acompanhamento do terapeuta.

Desordens Psicossomaticas - Fobias, Depressão - segundo Stanislav Grof

ARQUITETURA DAS DESORDENS PSICOSSOMÁTICAS,
   DE ACORDO COM STANISLAV GROF


A partir das inúmeras pesquisas de estados holotrópicos de consciência (resultantes de: meditação profunda, hipnose, terapia experiencial, substâncias psicodélicas, acidentes, perdas de entes queridos, crises existenciais, e altos níveis de estresse,) percebeu-se uma influência de arquétipos e memórias condensadas (COEX) dos tipos biográfico, perinatal e transpessoal na formação e manutenção das referidas desordens.

Veja explicação dos termos acima em: Glossário de Transpessoal Grofiana

*** Em ordem alfabética ***

Agorafobia medo de lugares abertos, ou da mudança de um lugar aberto para outro totalmente aberto – Raízes perinatais (ligadas ao reviver do nascimento biológico): associado ao estágio final da MPB III (estágio de aprisionamento no canal de parto), onde ocorre uma liberação repentina, que se alterna com grande uma tensão. Essa liberação pode trazer a sensação de perda de controle da situação e de si mesmo. 



Alcoolismo (e outras dependências/vícios) - Esses comportamentos parecem intimamente ligados a depressões e suicídios. No que diz respeito ao uso de drogas intoxicantes, caracteriza-se por um desejo imenso por experiências de bem-aventurada unidade indiferenciada. Períodos imperturbados da vida intrauterina, antes do processo de nascimento representam essa tão desejada indiferenciação. O suicídio não violento, juntamente com o uso de drogas intoxicantes, reflete uma necessidade inconsciente de desfazer o processo de nascimento e voltar ao ventre materno. A busca por tais estados consiste num grande engano por parte daquele que está nesta busca. Pacientes viciados que puderam vivenciar estados "puros" de unidade cósmica em sessões psicodélicas supervisionadas por Stanislav Grof, constataram uma semelhança superficial, porém com diferenças fundamentais entre estados transcendentais e intoxicação por drogas. O álcool e os narcóticos entorpecem e obscurecem os sentidos, interferem com funções intelectuais e produzem anestesia emocional. Ao passo que os estados transcendentais são reconhecidos por grande intensificação de percepção sensória, serenidade, clareza de pensamento, abundância de insights filosóficos e espirituais, e incomum riqueza de emoções. Para um indivíduo sofredor que procura auxílio desesperadamente, e é incapaz de uma discriminação correta, parece haver semelhança suficiente para que ele incorra em sistemático abuso. (Grof, Stanislav in Além do Cérebro - p.193-194 - Ed McGraw-Hill). 

Existe um outro tipo de correlação entre o uso de drogas e o parto, quando este se encontra nos estágios finais, de luta, dentro do canal, também conhecida como Matriz 3 (MPB III). Nesses casos, as mães dos pacientes receberam uma grande quantidade de anestesia geral. Desse modo, a memória que os pacientes têm do nascimento não é a de uma libertação explosiva, mas de um lento despertar de intoxicação por drogas. Eles tendem, então, a escapar do controle doloroso da Matriz 3 (na vida adulta, pode se apresentar por situações de enfrentamento, oposição, desafio pessoal, perda de controle, confiança no outro) e da grande tensão geral, em direção à anestesia induzida quimicamente, seguindo o caminho que lhes foi mostrado pelo obstetra que atendeu seu nascimento. (Grof, Stanislav in Além do Cérebro - p.194 - Ed.McGraw-Hill)



Ansiedade generalizada (TAG) - Entre os sintomas de transtorno de ansiedade generalizada estão: preocupação exagerada crônica, tensão, e irritabilidade, que parecem não ter causa, e que são mais intensos do que a situação justificaria. Sinais físicos: dificuldade para dormir, agitação, dor de cabeça, tremores, espasmos, tensão muscular e sudorese. Se alguém passa pelo menos seis meses preocupado excessivamente por problemas cotidianos, isso pode indicar transtorno de ansiedade generalizada e a pessoa deveria consultar um médico para diagnóstico. Fonte: http://www.copacabanarunners.net/ansiedade-tipos.html

Raizes perinatais: Relaciona-se com sistemas COEX (sistema de memórias condensadas) da Matriz I (estágio inicial, antes do inicio do trabalho de parto), em situações onde o útero está de alguma forma perturbado, por drogas, ou onde a mãe está sob grande tensão emocional. Raízes biográficas: Situações pós-natais de omissão, falta de contato físico nutridor em ocasiões de tensão.




Asma psicogênica - Relacionada às sensações de agonia e sufocação vividas durante o nascimento biológico, e relacionada ao processo de morte-renascimento. Junto com a gagueira e outros cacoetes, a asma psicogênica é uma "conversão pré-genital" (de acordo com a psicanálise freudiana), e tem aspectos obsessivo-compulsivos (necessidade de controle). A terapia experiencial mostra que as conversões pré-genitais são derivadas da Matriz Perinatal 3 (MPB III). Retenção anal relacionada à necessidade de controle, outro aspecto da MPB III, junto com o aspecto obsessivo-compulsivo. Os processos fisiológicos da asma relacionam-se com a dinâmica biológica do nascimento. Experiências biográficas como doenças, acidentes e incidentes que envolvem a respiração e o bloqueio geral da energia, colaboram para o aumento dos sintomas da asma durante a vida.
Fonte da imagem: www.sanitaincifre.it

Auto-estima de "merda” e Compulsão de lavar as mãos e outras partes do corpo  Ambas associadas às neuroses obsessivo-compulsivas. No caso da auto-estima de merda, existe nojo de si mesmo, auto-degradação, e tentativas de melhoria da aparência externa, além de comportamentos obsessivos-compulsivos, também conhecidos por TOC. Sistemas COEX (memórias e fantasias condensadas) associadas com a MPB III (estágio do nascimento onde o feto está preso no canal de parto), onde pode existir contato ou ingestão de material biológico, como as fezes e urina.
Seriado "Monk", retrata um detetive obsessivo-compulsivo,
obcecado por organização e limpeza.

Bacilofobia ou misofobia = medo patológico em materiais biológicos, odores corporais e sujeira. Medo que se contaminem, e de contaminar os outros. Associados a memórias biográficas da época do treinamento de controle dos esfíncteres. Mais profundamente, associação com os aspectos escatológicos (fezes, urina e sangue) do processo perinatal (nascimento biológico). Conexão entre MPB III, morte, agressividade, excitação sexual e material biológico. Medo associado com a agressividade que se expressa tanto para dentro quanto para fora, relacionados aos estágios finais do nascimento.

Johnny Knoxville - criador e astro da série "Jackass",
em uma de suas proezas escatológicas.
Bipolaridade - ver "Episódios maníacos (euforia)" abaixo.

Cancerofobia = semelhança entre o câncer e gravidez. Em muitos aspectos, as células cancerígenas se assemelham às células embrionárias, nos primeiros estágios da gravidez.

Claustrofobia – medos de lugares fechados ou apertados – Raízes perinatais: Influência de um sistema COEX ligado ao início da MPB II, (primeiro estágio do nascimento biológico, após rompimento da bolsa, mas sem possibilidade imediata de saída) , situação sem-saída e de morte iminente.

Cena do filme "Enterrado Vivo", com Ryan Reynolds

Explorador de cavernas no sul da Califórnia (EUA), em esporte nos quais se passa por espaços
bastante apertados, onde só se avança rastejando, muitas vezes no escuro total, e sem saber onde vai dar.
Fonte: http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=112209
Depressão - Os sintomas depressivos de sentir-se restringido, sem saída, enxergar somente os aspectos negativos da existência, bloqueios corporais na região do peito, dificuldade de respirar, angústia, etc. Têm relação com as experiências condensadas (sistemas COEX) associadas com a MPB II (primeiro estágio do parto biológico - a bolsa rompeu mas o feto ainda não consegue sair, encontra-se entalado).



Dermatite alérgica (alergias de pele) - A pele é a barreira que delimita o ser do ambiente. Alergias podem indicar hipersensibilidade ao contato, tentando evitar o contato com o mundo externo. Falta de experiências de contato físico nutridor com a mãe, abandono. No outro extremo, também a hiper-proteção materna pode provocar alergias, pela falta de experiências de confronto do organismo com elementos do ambiente. Situações de insegurança, perdas, onde o limite individual ainda não é bem definido.



Dores de cabeça de enxaqueca - Aspecto do nascimento que envolve agoniante dor e pressão na cabeça, náusea e desconforto gastrointestinal. Quem sofre de enxaqueca tende a procurar lugares que lembrem o ventre materno (lugares escuros, silenciosos, com cobertores e travesseiros macios), com a intenção de desfazer o processo de nascimento e retornar à condição pré-natal. Porém, o que soluciona a dor de cabeça é a estratégia oposta, haja visto em muitos resultados bem-sucedidos de terapia experiencial: a dor deve ser intensificada ao extremo, à dimensões insuportáveis que se assemelhem à dor real sentida no nascimento. Isso trará libertação da enxaqueca, seguida por um estado extático de natureza transcendental.


Episódios Maníacos (Euforia) - A euforia costuma alternar-se com a depressão nos distúrbios bipolares. Relacionados com a transição incompleta da MPB III para a MPB IV.

Reviver a transição da MPB III para a MPB IV é voltar ao momento final do nascimento e da chegada ao mundo, como uma entidade separada da mãe. Podem aparecer diversas sensações e sentimentos: medo e sensação de perda de controle, sensação de uma catástrofe iminente, sensação de mudança brusca de ambiente, expansão do espaço e perda das referências pessoais antigas. 

A vivência da Matriz IV incompleta é exatamente a mesma vivenciada por alguém em episódio maníaco: há uma sensação de poder e de euforia, que não estão de acordo com uma liberação completa de elementos aprisionadores da psique. Stanislav Grof descreve esse estado como "assobiar no escuro", numa clara alusão ao disfarce dos reais sentimentos que estão ocorrendo. Esses sentimentos têm a ver com a morte psicoespiritual do falso ego (necessidade de controle, auto-afirmação, senso de incompatibilidade com o mundo e com os outros).

A Matriz IV completa caracteriza-se por tranquilidade, sensação de equanimidade com o mundo, respeito por si e pelos outros, reconexão com o mundo como sua própria "Casa", etc. 
O filme "Sem Medo de Viver"(Fearless) conta a história de um homem que sobrevive a um acidente de avião, sente-se "imortal", e começa a por a prova sua vida, pois deixa de temer a morte. A transição completa da Matriz 3 para a Matriz 4 envolve trazer à consciência e integrar, os conteúdos do processo de morte-renascimento que ocorrem nos estágios finais do parto, e que ao mesmo tempo, desvelam as condições existenciais de "encarar" a própria morte.
(O título em português poderia ser um pouco melhor...)

Estresse pós-traumático (síndrome do EPT) - Ocorre em indivíduos que se envolveram em catástrofes de grandes proporções, acidentes com muitas pessoas, situações de guerra, ou situações que representam ameaça à sobrevivência ou integridade corporal, como assaltos, sequestros, violência em geral. Essa condição não implica qualquer dano físico ao organismo, mas somente o trauma psicológico associado com a possibilidade do dano. Mesmo assim, a síndrome do EPT envolve tipicamente, manifestações físicas: dores, cãimbras, violentos tremores e paralisias. A emergência aguda que precipita EPT aproxima-se tanto da situação do nascimento que anula o sistema de defesa e liga-se experiencialmente ao próprio âmago da MPB III. Mesmo depois de passado o perigo imediato, a pessoa continua imersa em energias perinatais, contra as quais ele perdeu toda a proteção psicológica.


Fobia de alturas (Acrofobia) – Típica dos estágios finais do nascimento, onde existe a sensação de cair e o medo da destruição. Memórias de nascimento onde o bebê foi largado, sofreu uma queda, indicando o primeiro contato com a gravidade. Não é uma fobia pura, é associada a uma compulsão de se atirar ou pular de um lugar alto – torre, janela, penhasco ou ponte. 

Fonte: http://www.hseconsultores.com/home/images/stories/alturas9.jpg

Fobia de animais grandes, como lobo ou vaca: medo de ser engolido ou incorporado, relacionado com o início da MPB II. Também pode apresentar relação com Aracnofobia (medo de aranhas), pelo motivo de aranhas representar o feminino que aprisiona e devora.

Cena do filme: "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei", onde Frodo encontra
uma aranha monstruosa que o envenena, captura com a teia e o prende num casulo.

Fobia de cobras (ofidiofobia) – Relação com o aspecto perinatal, animais que representam ameaça de morte iminente, esmagamento e estrangulamento, que fazem parte do nascimento. Jibóias que engolem suas presas aumentam esse medo, por serem mais parecidas com o processo da gravidez. 



Anaconda de 5 metros (18 pés de comprimento), em Los Llanos, Venezuela
Fobia de gravidez e de parto / Fobia da maternidade – No primeiro caso, dificuldade de aceitar a própria feminilidade e o seu papel de reprodução, em função de estar em contato com as memórias de agonia do seu nascimento, porque ser mãe significa provocar dor e sofrimento, e pode provocar um terror paralisante. No segundo caso, uma situação que costuma aparecer pouco depois do nascimento da criança, envolve não apenas uma fobia, mas elementos obsessivos compulsivos. Impulsos violentos contra a criança, medo e pânico de machucá-la. Fobia de ser mãe está associada a MPB II, quando a mãe e a criança estão em antagonismo biológico, inflingindo dor um ao outro, e trocando enormes quantidades de energia destrutiva, na forma de movimentos da musculatura do útero e da tentativa instintiva da criança de se libertar dessas pressões.


Fobia de viajar de avião/enjôo marítimo – Ambas situações também relacionadas com memórias relativas ao nascimento não-integradas, e tendo em comum a necessidade de se manter no controle da situação, mudar a direção ou parar o movimento - Matriz Perinatal III.



Fobia de viajar de trem ou metrô – Sensações comuns de estar preso, sujeito a enormes quantidades de energia, sem possibilidade de controle do processo (MPB III). Também se incluem, experiências de passar em túneis, passagens subterrâneas e encontro com escuridão (MPB II). Implica que as memórias do processo do nascimento estejam facilmente acessíveis, por serem muito intensas.



Impotência sexual e frigidez, de origem psicossomática - Relacionados com enorme quantidade de energia sexual que não se exprime em estado puro, mas sim energia perinatal colorida sexualmente. Ligados à Terceira Matriz Perinatal (MPB III), pois associam-se a impulsos sadomasoquistas, ansiedade vital, profunda culpa, medo de perder o controle, medo de sufocação, distúrbios cardiovasculares, espasmos dolorosos musculares e intestinais, todos esses sintomas psicossomáticos típicos da MPB III. Todos esses sintomas são, na verdade, uma compreensão incompleta da experiência do nascimento, e estado de ameaça vital em nível orgânico. 



Medo patológico da água – Pode ter relação com memórias do nascimento, pré-natais, da gestação, memórias pós-natais. A água representa a segurança do líquido amniótico,do útero, caso a experiência seja positiva. Inalação de líquido amniótico durante o nascimento, ou acidentes de engolir água do banho podem trazer uma carga extremamente negativa para a imagem da água. Elementos transpessoais também podem estar presentes, como identificação com pessoas ou animais se afogando ou asfixiando, e memórias de vidas passadas.



Medo patológico do fogo – Relacionado com transição entre MPB III e MPB IV. Aproximação da morte do ego provoca visões de fogo; a mãe parturiente tem a sensação de que está queimando quando a cabeça da criança passa pela abertura vaginal. Fogo representa elemento purificador do processo psicoespiritual, que destrói aquilo que precisa ser limpo e renovado. 



Medo patológico de tempestades – Transição da MPB III para MPB IV, morte do ego. O raio representa ligação do céu com a terra, a eletricidade é manifestação física da energia divina. O contato com a luz divina que ocorre no momento do processo da morte-renascimento é simbolizada pela tempestade elétrica. 



Neurastenia - Desenvolve-se em indivíduos expostos a condições exigentes e estressantes, durante um longo tempo, como falta de descanso, de sono e recreação; excesso de trabalho sob grande pressão, ritmo de vida agitado. Características: tensão muscular, tremores, sudorese excessiva, palpitações, distúrbios cardíacos, ansiedade difusa, senso de opressão; fortes dores de cabeça, fraqueza geral, e falta de energia combinadas com fácil irritabilidade. Costuma haver, também impotência, frigidez, mudança do ciclo menstrual e ejaculação precoce. Relação com MPB III, em forma bastante pura, com poucas variações por eventos biográficos. Ou seja, os eventos traumáticos pós-natais exercem pouca influência sobre essa condição. A situação vivida concretamente é absolutamente idêntica àquela vivida ao feto no canal de parto, a ponto de mobilizar toda a energia perinatal à consciência, aguardando uma situação apropriada para ser integrada e resolvida.



Nosofobia – medo patológico de ter ou contrair doença. (Não é o mesmo que hipocondria: Convicção ilusória, não-substanciada de estar sofrendo doença grave). Nosofobia está associada com memórias emergentes de sérias dificuldades fisiológicas do passado. Doenças, operações, lesões e trauma do nascimento.




Obesidade - A gordura corporal serve, em muitos casos, de barreira entre o indivíduo e o mundo, quando este último se torna bastante desagradável e inóspito.
Raízes biográficas e pós-natais: experiências do mundo como desagradável, busca de satisfação oral imediata. Raízes perinatais: MPB II, impotência e sensações de sem-saída, ausência de experiências gratificantes, falta de calor e afeto, perda do paraíso, desejo de desaparecer do mundo.



Tanatofobia – medo patológico da morte, com episódios de ansiedade vital, do tipo ataque cardíaco, um derrame ou asfixia que ameaça a vida – Sistemas COEX relacionados a situações de ameaça à vida, principalmente aquelas que interferem a respiração. Operações, doenças e lesões, e extremos desconforto físico e sensação de catástrofe iminente associados ao trauma do nascimento.




Hipertensão arterial - Relacionada com estresse emocional e físico, em função da necessidade de manter e guardar para si emoções e pensamentos. A imagem mais precisa é a de uma "panela de pressão prestes a explodir". Origens biográficas: experiências de infância punitivas ou repressivas das manifestações físicas e afetivas.



Artigos relacionados:
Dominio perinatal do insconsciente.
 
Uma interpretação perinatal de experiências de quase morte.

Cartografia ampliada da psique humana.

Olhar Transpessoal - Filme Numero 9 (The Nines)

Número 9 (The Nines, 2007)

Diretor: John August
Roteiro: John August
Elenco: Ryan Reynolds, Melissa McCarthy, Hope Davis, Elle Fanning, Dahlia Salem, Ben Falcone, Octavia Spencer







Assisti a este longa metragem na TV aberta, de madrugada, totalmente sem compromisso e a menor idéia do que ia presenciar. Não se trata de um sucesso de bilheteria, talvez justamente por parecer confuso e sem sentido, se analisado sob uma pespectiva tradicional. 

No filme, somos apresentados a três histórias: Na primeira, Ryan Reinolds é um ator problemático, metido com drogas e álcool, que acaba penalizado com a prisão domiciliar. Nesse período, encontra pistas e suspeitas que sempre levam-no ao número nove, de um modo bastante intrigante. Há duas mulheres na trama, sendo uma assistente (Melissa MC Carthy) e uma vizinha (Hope Davis). Ambas tentam mostrar a ele quem ele realmente é, e o que é o mundo, na verdade. Tudo é meio confuso, e pouco esclarecedor. A vizinha (Melissa Mc Carthy) lhe diz: "Vou tirar-lhe daqui, vou dar um jeito", enquanto a assistente (Hope Davis) lhe diz que ele não é quem pensa ser, extrapolando a sua identidade de ator e homem comum, explicando um possível significado para o "número nove". Chega-se a um clímax, e a trama inicial termina bruscamente, quando ele rompe um limite inicialmente imposto sobre ele. 


Descrevi de maneira pouco detalhada, pois acho importante que você possa assistir ao filme, e se prenda a ele, mesmo após ler esse texto. Enquanto assistia ao filme, pude fazer uma leitura do ponto de vista da Psicologia Transpessoal, relacionada ao conceito de COEX da dependência, e do espectro da consciência. A meu ver, é justamente disso que se trata o filme: da ampliação da consciência a respeito da relação de dependência, em direção a uma independência. Esse processo inevitavelmente inclui a consciência de si mesmo e consciência da realidade. A cada história, vemos a personagem principal de Ryan Reinolds expandir a sua consciência, através do encontro com novas situações e condições, e principalmente, através da relação de inter-dependência com as duas mulheres que estão sempre presentes. 


Na segunda história, Ryan continua no mesmo ambiente do "showbizz", lidando com atores, diretores e produtores, mas agora ele tem mais poder - conversa com a produtora que está interessada em seu roteiro, sugere atores e atrizes para viverem os personagens, classifica a audiência do seu programa em nove tipos (mais uma pista sobre a natureza do número nove na trama...), e percebemos que as pistas encontradas na história anterior são fragmentos de um todo mais complexo, relacionado com o universo de produção, direção e contatos profissionais, que servem para a realização de um projeto pessoal. Surge também uma nova personagem, uma menina que faz o papel de filha, dentro do roteiro escrito pela personagem de Ryan. 


Finalmente, a última trama concentra elementos comuns das duas anteriores. A situação apresentada, agora é distinta, mas, da mesma forma o número nove está presente. Dessa vez o nove tem um significado bem mais complexo do que antes, indicando a definição de um ser com características divinas, de uma força que move toda uma realidade, e continuamente cria um grande jogo envolvendo outros seres, que são as duas mulheres e a criança. O modo de dependência também se apresenta aqui, em um nível mais expandido.

O personagem principal encontra-se em dois lugares simultaneamente: dentro de um filme e no mundo real, uma característica da ampliação da consciência. Ryan Reinolds, dessa vez, é um pai de família que se perde dentro de um parque florestal com a sua esposa e filha (Melissa Mc Carthy e Elle Fanning), e no meio do caminho encontra a personagem de Hope Davis, que no começo do filme havia lhe dito que iria tirá-lo dessa situação, e tenta novamente fazê-lo num nível aparentemente transcendental. A personagem de Ryan fica frente a um dilema que o obriga a realizar escolhas, as quais sempre chegam a outros níveis e tramas, em função da relação de interdependência existente entre todos os personagens.

Do ponto de vista pessoal, o filme trata do tema da dependência. A personagem principal é um dependente afetivo, assim como o são as duas mulheres e a menina, em relação a este. O que varia é a intensidade e a abrangência, desse tipo de comportamento de dependência.

O final do filme revela uma última reviravolta na trama. O desfecho da história também serve aos propósitos "hollywoodianos" de tentar agradar ao público no final, e mostrar um final feliz. 

Por fim, é importante dizer que nem todas as experiências seguem o padrão ou a linha perinatal, o que também é o caso desse filme. A relação estabelecida foi com o sistema de experiências condensadas (COEX), que também é a base das Matrizes Perinatais, mas que no caso deste filme, não se aproxima do domínio perinatal. 

Glossário de Transpessoal Grofiana

Tudo o que se pensa a respeito da realidade tem a ver com o paradigma utilizado para compreendê-la. A realidade é complexa demais e não é possível entendê-la totalmente, apenas fragmentos. Um paradigma é um MAPA da realidade, é uma representação possível e mais aproximada do real. Ainda assim, é incompleto, pois não consegue incluir todos os fenômenos existentes.

Acontece que quanto mais usamos um paradigma, passamos a nos acostumar, ao ponto de confundí-lo com a própria realidade. Um paradigma pode definir aquilo que é normal e aquilo que é anormal. Dessa forma, tudo o que não se encaixa na explicação, no modelo existente, que explica a realidade é considerado anormal. E vai além disso, pois consegue definir aquilo que é real ou não. Nem todos os fenômenos podem ser explicados a partir de um único modelo de realidade. Quando aparecem fenômenos que não se encaixam no modelo atual, no paradigma atual, existem duas opções:

1) Os fenômenos são simplesmente ignorados, como falsos ou alucinatórios, produtos de mentes desequilibradas ou de falsas percepções. Por conseguinte, os sujeitos também ficam estigmatizados como desequilibrados ou mal informados a respeito da realidade consensual.

2) Os fenômenos começam a ser estudados com mais atenção, a ponto de serem incluídos no paradigma, chegando a ampliar a definição atual a respeito da realidade. Esse ponto é crítico e costuma ser alvo de muitas críticas, pois questiona todos os fundamentos do paradigma existente, e anunciam a criação de um novo modelo, sob o risco de desvalorizar o paradigma atual.

Os termos a seguir fazem parte de um determinado paradigma, que busca incluir novos fenômenos, e considerá-los reais e humanos. Durante muito tempo, alguns dos fenômenos a seguir descritos eram considerados fantasiosos, alucinatórios, místicos e produtos de mentes infantilizadas ou desequilibradas, sob o ponto de vista de autoridades médicas e psiquiátricas do século XX.

Ainda nos dias atuais, nem todas as linhas de estudo da saúde humana consideram esse paradigma, ele está em fase de transição, porém é mais bem aceito. Essa aceitação se deu graças a possibilidade de maior acesso de um número cada vez maior de pessoas, aos estados de consciência que vão além do estado acordado ou dormindo. E também em função da observação dos resultados práticos observados na percepção da realidade que estas experiências proporcionam.

Não se trata de recreação ou prazer mental. É um empreendimento de autoconhecimento, ao mesmo tempo que promove conhecimento do mundo e das relações existentes no mundo. O modo de percepção da realidade é modificado, de maneira qualitativa e interessante.


COEX - Abreviação de "COndensed EXperiences", ou experiências condensadas. É uma teoria sobre a organização da psique humana. O conteúdo que emerge da consciência (memórias, fantasias) é todo conectado entre si, tendo como ponto em comum uma emoção ou sensação física. O fio que liga cada experiência emergente e cada fantasia, uma à outra, é uma emoção que pertence a todas e a cada uma delas, ao mesmo tempo.

Consciência -  Existem duas perspectivas distintas a respeito da origem da consciência:
A medicina tradicional e a ciência newtoniana-cartesiana consideram que a consciência é um produto da matéria. Desse modo, todas as manifestações são causadas por reações químicas de neuro-transmissores. As emoções, pensamentos e o comportamento dependem do equilíbio químico e eletromagnético do cérebro. Qualquer distúrbio de comportamento é visto como um desequilíbrio químico, e quase não se consideram as influências ambientais. As influências são praticamente genéticas ou hereditárias.

A visão psicológica moderna da consciência considera a consciência um elemento presente em todos os lugares do Universo, e a partir do qual todos os outros existem. A consciência não se restringe ao cérebro, ainda que ela possa ser influenciada por mudanças químicas do mesmo. Ela depende de experiências pessoais para criar um modo de percepção, ou já existem padrões pré-determinados que moldam a maneira como as experiências são registradas no cérebro?

Apenas um exemplo: Observou-se que muitos detentos que cometeram assassinato possuem histórico de abuso sexual ou distúrbios de relacionamento com os pais. Ao mesmo tempo, quantas pessoas possuem um histórico semelhante, de abusos e distúrbios de relacionamento, e nem por isso cometeram crimes ou são considerados perigosos.

Para Stanislav Grof, a consciência pode apresentar vários estados, além da vigília e do sono. Ela se divide em dois modos - o hilotrópico e o holotrópico, sendo que uma pessoa saudável alterna entre ambos. Permanecer apenas em um deles constitui dificuldades de relacionamento com o mundo. Seja com aspectos práticos da realidade, no caso de alguém fica somente no holotrópico, ou com aspectos da espiritualidade genuína, no caso de uma consciência voltada totalmente para o hilotrópico.

Hilotrópico - "Hilo" significa matéria. É o modo de consciência orientado para a matéria, que estamos acostumados a perceber o cotidiano e a realidade material. Existem objetos e entes separados entre si, o tempo se move do presente para o futuro, o espaço é tridimensional e sólido. A consciência de si mesmo é de alguém isolado e separado do mundo e dos outros.

Holotrópico - "Holos" quer dizer totalidade, todo. Nos estados holotrópicos (termo cunhado por Stanislav Grof) a consciência se expande além dos limites temporais e espaciais da realidade cotidiana. Quando se expande até o estado holotrópico, nos percebemos conectados e em relação direta com uma vastidão de imagens, símbolos, arquétipos e experiências, além da nossa compreensão e do nosso controle.

Fenomenologia - Aquilo que se apresenta, sob o ponto de vista do sujeito. Todas as descrições das experiências são relatadas sob o ponto de vista daquele que a experimenta, e não de um observador externo. A fenomenologia de uma matriz perinatal descreve como é estar sob influência dela, do ponto de vista do sujeito.

Perinatal - O domínio perinatal do inconsciente é um intermediário entre o inconsciente individual e o inconsciente transpessoal. É um "imã" de emoções, sensações, imagens relacionadas ao reviver do parto biológico e também do renascimento psicoespiritual. Não nos encontramos em contato apenas com as memórias e fantasias do inconsciente individual, como aquele descrito por Sigmund Freud. Temos acesso a arquétipos, padrões experienciais, através dos quais podemos ultrapassar o limite individual e nos identificar com outros seres, nas mesmas condições que experienciamos. O prefixo "peri" significa próximo ou ao redor, e "natal" quer dizer nascimento. Assim, perinatal diz respeito ao período que vai desde que o feto é concebido, até a sua saída completa pelo canal de parto, para o mundo.

COEX - Aplicada à vida cotidiana

" Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções"

É uma abreviação em inglês para “COndensed EXperiences”. Em português, Experiências Condensadas, refere-se ao conceito utilizado por Stanislav Grof, que define como as memórias são organizadas na consciência.


Todos os conteúdos existentes na consciência, sejam memórias, fantasias, sensações físicas, traumas psicológicos e físicos, auto-imagens, papéis, etc... estão organizados em COEX. Trata-se de um princípio básico que, ao mesmo tempo simplifica, e amplia o olhar para a consciência, e o modo humano de estar no mundo. Os domínios da consciência, o biográfico, matrizes perinatais e o transpessoal têm como base a COEX.



Quando entramos numa psicoterapia experiencial, seja por meio de terapia corporal reichiana ou bioenergética, Psicodrama, Gestalt, Respiração Holotrópica (TM), ou ainda, por meio de meditação profunda, yoga, hipnose, EMDR, sonhos noturnos ou sonhos lúcidos, e substâncias psicodélicas, o sistema COEX é ativado.

Esse sistema está diretamente ligado a um outro princípio intrínseco de cura da consciência, que Grof denomina "Radar Interno". O radar é responsável pela escolha daqueles elementos que serão trazidos à consciência para transformação e cura. 


O sistema COEX é não-linear e holográfico. Quando se entra em contato com o domínio biográfico, ou seja, a história pessoal, os conteúdos trazidos à consciência não aparecem de maneira linear e cronológica. O mesmo ocorre quando acessamos o domínio das matrizes perinatais (do nascimento biológico), e com as experiências transpessoais. A emergência dos conteúdos à consciência ocorrem de acordo com o sistema de radar interno e com as COEX.

O sistema COEX é extremamente pessoal e individual, cada pessoa é única, assim como suas maneiras de estar no mundo, de perceber a si mesma e a realidade.


Durante o dia-a-dia, não nos damos conta desse radar, mas ele também está funcionando, da mesma forma que as COEX. 


Usando um exemplo, uma COEX de culpabilidade contém todas as experiências de vida de uma pessoas nas quais ela se sentiu culpada, no sentido negativo. Assim como todas as fantasias,onde ela também se sente culpada. E as sensações físicas que a culpa desencadeia em seu corpo, como aperto no peito, dores de cabeça, etc. Inclui também experiências do nascimento biológic, e possíveis experiências transpessoais, relacionadas com a COEX.

Essa divisão entre memórias reais e fantasias podem estar misturadas, num grupo geral de situações ou memórias, e isso não tem importância para o reconhecimento da COEX. O fundamental é poder reconhecer os padrões de experiências, sejam elas reais ou imaginárias.

Dessa forma, os nossos problemas ou questões da vida se reduzem em número, e podem ser trabalhadas com mais facilidade. Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções, ou seja, COEXes que regem a nossa vida, nossas escolhas e nosso modo de perceber o mundo, e a nós mesmos.

Psicologia Transpessoal e Stanislav Grof

A Psicologia Transpessoal visa integrar os conceitos da ciência ocidental com as filosofias orientais. Considera a espiritualidade um aspecto fundamental do humano, sem a qual pode-se viver de uma maneira bastante doente, tanto individual quanto coletivamente.

De uma maneira geral, o que a Transpessoal tem a trazer de novo é uma noção de que o ser humano é multi-determinado. Não somos apenas aquilo que a nossa história pessoal nos moldou , nem somos apenas o que o ambiente nos condicionou. Também não somos apenas seres que tem instintos, valores, crenças, razão e emoção, e que vivem numa luta constante em busca de equilíbrio. Somos tudo isso, sem dúvida!

Somos também seres que estão ligados a uma inteligência ou consciência muito maior e mais complexa do que a humana. O que também nos determina ou influencia é uma ligação com essa consciência. Tal conexão não é condicionada por nossa criação ou educação. A ausência de sentimento de tal conexão pode levar uma pessoa a se tornar viciada em substâncias tóxicas, em comportamentos obsessivos, a ser extremamente ansiosa, entre outras coisas.

Fazemos parte de um contexto maior do que o humano. Somos parte de um ecossistema de seres que também são dotados de consciência, como os animais, plantas, processos físicos e químicos dos quais muitas vezes não temos o conhecimento de como ou por quê acontecem. 


Essa visão ampliada está cada vez mais se mostrando verdadeira e cientificamente comprovada, ao mesmo tempo que modifica ligeiramente aquilo que se entende por rigor científico. Aquilo que antes era considerado impossível de ser replicado, atualmente é mais aceito de ser incluído na lista do que se compreende como Ciência. Por exemplo, experiências místicas ou religiosas com potencial curativo, e integrador. Estudos sobre paranormalidade, levando em conta aspectos qualitativos, que ultrapassam e ampliam a zona de normalidade previamente estabelecida.

Espiritualidade não é o mesmo que religião, não segue doutrinas e não necessita de templos. Seus parâmetros de saúde e bem-estar são ampliados, no sentido de ver o ser humano um ser capaz de se auto-realizar e ter acesso a experiências transcendentes, profundas e transformadoras.


A seguir alguns conceitos da visão transpessoal de Stanislav Grof: 
 
A consciência não se restringe ao Ego e ao inconsciente individual, não é restrito as experiências pessoais e fantasias inconscientes. Existem também os Domínios Perinatal e Transpessoal. Todos esses domínios são acessíveis a qualquer pessoa sem o uso de drogas, a partir de técnicas de meditação, de práticas de alteração de consciência. 


Tais domínios não seguem uma ordem linear rígida. Metaforicamente, cada nível representa uma oitava musical de causalidades, daquilo influencia o modo de estar no mundo. Nem todas as causas se restringem ao dominio biográfico, à história pessoal. Existem também causas perinatais e transpessoais, que operam ao mesmo tempo que as causas biográficas, a todo momento na vida das pessoas, não apenas em estados ampliados de consciência. Porém, a transformação e cura da consciência só acontece em estados ampliados da categoria holotrópica.

Há dois modos de consciência: Hilotrópico e o Holotrópico. Ambos são importantes e essenciais, nenhum é preferível em detrimento de outro.

O hilotrópico é o modo orientado para a matéria, a realidade material, tempo e espaço determinados na ordem cronológica, espaço tridimensional, corpo físico biológico. É a realidade vivida no cotidiano.

O modo holotrópico é um modo orientado para a totalidade, transcendência dos limites espaciais, temporais, de identidade individual. É a realidade experimentada nos estados ampliados de consciência, onde pode se vivenciar alteração da temporalidade (alteração da duração do tempo, expansão ou retração, voltar ou avançar no tempo), da espacialidade (expansão ou retração, perda de limites) e da identidade (identificação com outras pessoas, parentes próximos ou distantes, pessoas em outras épocas e lugares, identificação com arquétipos, entidades e seres de outras realidades, identificação com outros seres vivos - animais, vegetais e minerais, identificação com fenômenos da natureza, processos biológicos, consciência dos processos biológicos do próprio corpo de maneira precisa). 

Uma característica dos estados holotrópicos de consciência é que podemos experienciar do ponto de vista subjetivo aquilo que, no estado hilotrópico, são percebidos de maneira objetiva. Por exemplo, somos capazes de termos a experiência de sermos um animal, algum tipo de planta, um membro de outra cultura distante no tempo e no espaço, do ponto de vista deles. Nos tornamos e nos identificamos, sabemos e sentimos exatamente como é ser tal ente do mundo. 



Uma vida exclusivamente holotrópica pode ser um problema, as barreiras individuais podem se mostrar ilusórias, podemos nos identificar com outras coisas e pessoas (que no modo hilotrópico são vistas como objetos, mas no holotrópico são vivenciadas como sujeito), podemos perceber o tempo expandido ou retraído, o espaço alterado, podemos ficar muito mais sensíveis às situações e às outras pessoas. Ficamos incapazes de nos concentrarmos nas preocupações materiais, nas responsabilidades cotidianas, na rotina, até mesmo em nos alimentarmos ou nos lavarmos.

Viver apenas no modo hilotrópico significa viver uma vida sem muito sentido, pois nos vemos como seres que nascem, vivem, se alimentam, relacionam, trabalham e se reproduzem e morrem. Vivemos num mundo exclusivamente material, a consciência é mero produto do cérebro, de reações químicas e alterações de substâncias no corpo. Podemos lembrar do passado com relativa facilidade, planejar e fantasiar sobre o futuro, e estarmos presentes. Mas o tempo costuma ser uma mudança constante: o presente se tornando passado e do futuro se tornando presente. 

O importante é haver um equilíbrio entre os dois modos, saber estar com um pé em cada modo, alternar entre eles. Ficar preso ou estático em apenas um dos modos é estar doente. Estar preocupado apenas com as coisas materiais, possuir, consumir, arrumar, organizar, ganhar e acumular, por exemplo, pode fazer uma pessoa ser extremamente materialista, neurótica e incapaz de ver um sentido na vida sem possuir ou fazer as coisas que existem no mundo. Por outro lado, estar imerso no holotrópico, na dimensão numinosa da vida, sem conseguir lidar com os aspectos práticos da vida é complicado, e dificulta a continuidade da mesma.

Experiências Holotrópicas

O termo "holotrópico" foi criado por Stanislav Grof para diferenciar os estados alterados de consciência comumente conhecidos pela medicina e psiquiatria acadêmicas, dos estados ampliados de consciência. Esses últimos, objetos de suas pesquisas, podem ser denominados holotrópicos, quando apresentam uma alteração qualitativa de consciência, no sentido de disponibilizar conhecimentos intuitivos e de arquétipos do inconsciente coletivo, que proporcionem auto-conhecimento genuíno e transformador.

No modo holotrópico, ao contrário dos estados simplesmente alterados, não ocorre desorientação espaço-temporal. A pessoa sabe exatamente quem ela é, onde está, e além disso tem acesso a conteúdos simbólicos e não-verbais, dos tipos biográficos, perinatais e transpessoais, com riqueza de detalhes, físicos e emocionais. É capaz de reviver as experiências do seu passado ou mesmo se transportar para uma outra dimensão, sem perder o contato com a realidade concensual.
Os estados alterados (tais como embriaguez alcoólica, intoxicação neurológica e/ou química por drogas e doenças degenerativas), nem sempre são estados ampliados de consciência (tais como estados meditativos profundos com o uso ou não de drogas psicoativas, experiências de pico, exp. de quase morte, transes hipnóticos, transes xamânicos, emergências espirituais espontâneas ou provocadas, etc.).
Em função de as experiências e os estados holotrópicos não serem encarados como "normais" pela medicina ortodoxa, muitas vezes são confundidos com psicoses ou surtos. Se faz necessária uma experiência pessoal daquele profissional de saúde que tenha a intenção de compreender e trabalhar com os estados alterados de consciência, para que possa reconhecer e diferenciar imediatamente um surto psicótico de uma experiência holotrópica ou espiritual genuína. Muitas vezes quando mal diagnosticados, tais tipos de experiências holotrópicas ou espirituais, talvez possam se tornar psicoses, caso não se permita a manifestação e vivência plenas dos conteúdos inconscientes.
As experiências holotrópicas em geral, ocorrem em estados alterados de consciência, seguindo uma ordem ou prioridade. Conforme vamos nos aprofundando e avançando no processo de auto-conhecimento, mais nos aproximamos das experiências transpessoais.

Holotrópico vem do grego "holos" e "trepein", que quer dizer em direção à totalidade, orientado à totalidade. É um tipo de alteração de consciência onde se alcança uma ampliação das capacidades de percepção, pensamento, intuição, memória. Através dessa ampliação é possível acessar um modo onde uma sabedoria ou "radar interno" guia um processo de cura pessoal.
De uma maneira resumida e sintética, temos cinco tipos de experiências, a partir de observações de sessões de Respiração Holotrópica (MR):

0. Experiências estéticas e de padrões geométricos, com os olhos abertos ou fechados, visualização de cores. Tais padrões visuais e estéticos não contém nenhum significado ou sentido, servem apenas para sinalizar a entrada da consciência em um estado ampliado.
1. Experiências físicas, vivências de traumas físicos (operações, cirurgias, acidentes), tensões físicas, couraças musculares. O corpo é o meio mais facilmente acessado, em primeiro lugar, através dessa e de outras práticas com a respiração. Através do contato com os traumas, tensões e couraças musculares, ocorre uma auto-consciência corporal, e a partir daí, consciência de si mesmo, das emoções e pensamentos, que se podem (ou não) se manifestar em conjunto com as experiências físicas.

2. Experiências da vida após o nascimento, traumas psicológicos, experiências de infância até os dias atuais, fantasias inconscientes. Não são apenas lembranças, mas revivências, onde todos os dados sensoriais podem ser revividos: sensações físicas (cores, cheiros, gostos, sons), além dos sentimentos e emoções. A revivências dessas experiências permite uma compreensão da totalidade, até então incompleta para o sujeito.

3. Experiências perinatais, relacionadas com a gestação até o nascimento biológico. São alguns dos tipos de experiências mais ricas, intensas e fascinantes que se pode experienciar. Podem ser extremamente agradáveis ou intensamente desagradáveis, ou intermediárias; mexem profundamente com a nossa compreensão a respeito de quem somos, de onde viemos, para onde vamos, e onde estamos, pois lidam com as questões fundamentais da existência (vida, morte, finitude, dor, culpa, sexualidade, agressividade, amor).

Experiências perinatais (peri = ao redor, próximo) e (natal = relativo ao nascimento): revivência do nascimento biológico, sensações, sentimentos, impressões, alterações na percepção do ambiente, do próprio corpo e da realidade. Não limitam-se a uma mera regressão ao estado fetal. Em geral, a identificação com o feto é acompanhada de fortes emoções, muito mais intensas do que aquelas vividas na vida cotidiana, ainda que sejam bem conhecidas. Tais emoções atraem imagens de outras situações, verídicas e/ou fantasiosas, e arquetípicas, onde existe a identificação simultânea com outros grupos, em situações semelhantes às dificuldades enfrentadas pelo feto dentro do canal de parto. Revivendo tais detalhes, sob a nova perspectiva adulta, podemos compreender não só o nosso nascimento e vinda ao mundo, mas também as sensações e sentimentos mais instintivos que não são muito bem compreendidos pela mente racional, por possivelmente serem resquícios daquilo que experienciamos durante o nascimento, e que durante muito tempo ficaram sem o nosso conhecimento. Medo irracional e sem sentido, raiva, ansiedade, são alguns dos sentimentos que podemos reviver. Quando bebês, não temos linguagem para interpretar o que sentimos pela primeira vez durante o nosso parto, mas revivendo esses momentos primitivos, sob a perspectiva adulta, podemos compreender melhor o que sentimos.

4. Experiências transpessoais, de identificação com outras pessoas, outras espécies (animais, vegetais, minerais, processos da natureza), transcendência dos limites temporais e espaciais. Fazem parte do inconsciente coletivo. Não se restringem a imagens individuais ou pessoais, mas a símbolos coletivos, arquétipos, além de acesso a conhecimentos intuitivos a respeito de processos naturais, biológicos, modos de percepção de outras gerações, civilizações, espécies. O acesso a essas experiências não faz com que a pessoa fique permanentemente identificada com o aspecto coletivo, muito menos que ela deixe de ser ela mesma, por assim dizer. A percepção de uma expansão da própria identidade, de um campo mais individual para um campo mais vasto e coletivo, é em geral, muito positivo e libertador.
Pode-se concluir que segundo essa categorização, os traumas psicológicos são menos importantes do que traumas físicos. As experiências de infância, adolescência e da vida adulta são revividas, tanto experiências boas quanto as ruins. Temos uma tendência a focar em experiências ruins e negativas, mas as experiências boas também podem ser revividas, e assim, serem revisitadas sob uma nova perspectiva.