Um programa do Discovery Channel hoje abordava o tema "Invasão Extraterrestre". Mas afinal, qual a relevância disto para nós, brasileiros e trabalhadores em São Paulo? Seremos alvos de invasão de outros mundos? Preparem-se! Temam, tremam, vocês estão em perigo!
Enfim, o programa consiste em teorias a respeito de como seria uma suposta invasão alienígena. Quer isso seja verdade ou não, pouco importa. Se você acredita nessa possibilidade de vida alienígena inteligente, pergunto, por quê você iria invadir e destruir outra civilização?
Primeiro ponto, obviamente, houve por parte dos cientistas muita projeção. Imaginar uma civilização mais avançada nos atacando, com as características selvagens e tirânicas exatamente iguais às da nossa civilização. Esperamos dos outros o pior que existe em nós mesmos.
Mas o problema maior, a meu ver não foi esse. Todas as suposições foram feitas, do ponto de vista tecnológico e bélico. Menos aquela mais importante, a ética e os valores. A maior ameaça para nossa sociedade, como ela está, neste momento histórico não é a tecnologia, mas a ética. O que rege nossas escolhas, quais as prioridades, o que levamos em conta para seguir em frente como grupo humano habitante do planeta Terra?
O que não foi pensado pelo cientistas, foi o caso de os extraterrestres mostrarem uma ética "nobre" e de valorização da vida, totalmente oposta à estratégia atual dominante na cultura ocidental. Quem sabe, uma organização social e "econômica" muito mais eficiente do que a maneira como conhecemos e praticamos. Isto, sim, seria o apocalipse da humanidade e do individualismo. Não duvido que existam formas de inteligência superiores à nossa, não apenas tecnológica, mas principalmente, eticamente falando.
Qual seria a vantagem de uma sociedade onde haja mais sentido e significado, você poderia perguntar? Qual seria o benefício? Do ponto de vista coletivo, provavelmente, menos doenças e desgraças. Do ponto de vista individual, talvez mais equanimidade, equilíbrio entre as pessoas e as situações. O benefício talvez fosse grande, mas não se trata de abdicar de si mesmo, mas pelo contrário, é uma estratégia egoísta, do ponto de vista positivo. Quando valorizar o bem-estar do outro é lógico e faz sentido, pois também me favorece, daí temos tudo a favor desse bem-estar.
Ainda falta muito até descobrirmos como valorizar a sociedade e o individuo ao mesmo tempo. A tecnologia nos conecta, nos interliga, nos informa, nos tornamos mais rápidos e velozes. Ao mesmo tempo, ficamos mais ansiosos, e menos tolerantes para esperar pelas coisas acontecerem no seu próprio ritmo. Para que esperar, se você aprendeu a clicar e receber uma resposta imediata? Tecle, deslize, clique, aproxime e afaste num piscar de olhos. Tudo já está pronto! Será?
O outro passa a ser apenas mais um "número" em nosso "Smartphone", mais um "contato" no nosso Facebook.
Uma ética que valorize os modos próprios das pessoas, e não apenas os classifique como doentes e normais. Práticas e valores que nos ensinem a ouvir a nós mesmos, que não nos considere uma tábula-rasa, um papel em branco totalmente formatado pelo ambiente. Mas um ser com certas características já "instaladas no sistema", e que devem ser respeitadas. E que continuem com a exatidão e os cálculos precisos, mas deixem isso para aquilo que possa e deva ser medido. A meu ver, o ser humano não pode ser mensurado da mesma maneira que um bloco de concreto.
Para que essa ética seja possível, é necessário que haja uma educação voltada para que possamos nos ouvir uns aos outros, e principalmente, a nós mesmos. O que ocorre é que recebemos instruções a respeito de nosso funcionamento, muitas vezes incongruentes com o modo como nos percebemos. Na maioria das vezes, somos treinados a perceber apenas aquilo que é aceitável socialmente, e esses parâmetros chegam a ser pouco tolerantes a desvios, são muito rígidos. Ou então, caímos no extremo oposto, de falta de limites. Mais uma vez, é a necessidade de saber ouvir a si mesmo e ao outro, que está em déficit.
Quanto mais formos capazes de nos ouvirmos, menos dependentes ficamos do ambiente. Continuamos a nos relacionar e a sermos supridos pelo mundo, mas caso hajam diferenças e singularidades, isso pode ser considerado e possivelmente, respeitado.
Somos extremamente valorizados pela forma como pensamos e analisamos o mundo, mas na verdade, isso é apenas uma pequena fração. Isso é justamente valorizado por ser muito controlado e balizado. Quando se trata de ouvir a nós mesmos, nos deparamos com uma lógica que vai bem além da razão e do raciocínio, começamos a perder a capacidade de sermos controlados pelo ambiente.
Deixamos de lado aspectos básicos como agressividade, expressão verbal e corporal, instintos sexuais, porque simplesmente não sabemos lidar com esses aspectos em nós mesmos. Um modo de perceber a realidade própria de cada um é o discurso poético, a imagem poética. Esta não se prende unicamente às regras do raciocínio, mas apresenta uma lógica própria.
Então , cada linguagem serve para um propósito. A linguagem poética serve muito bem para o mundo pessoal e intransferível, mas não se aplica à engenharia ou à medicina. Da mesma forma, a linguagem mecânica e racional não serve totalmente à descrição do modo de ser das pessoas e daquilo que as define, mas serve muito bem aos objetos e ferramentas construídos pelo Homem.



