Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial: 04/01/2015 - 05/01/2015

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Trecho - Cura Profunda - Stanislav Grof - Cap2

Trecho do livro "Cura Profunda - A Perspectiva Holotrópica" - Stanislav Grof. 2015, Editora Numina.

Capítulo 2 - Psicologia do futuro: lições da pesquisa moderna da consciência. Páginas 59 - 63  

"Relato de uma sessão psicodélica com alta dose, exemplo típico de MPB 1 (vida intrauterina), abrindo em alguns momentos para o nível transpessoal. "

"Tudo o que eu estava experienciando era uma sensação de mal-estar que parecia uma gripe. Eu não podia crer que uma dose alta de LSD, que em minhas sessões anteriores havia provocado mudanças dramáticas - até o ponto de, em certas ocasiões, ficar com medo de que minha sanidade ou mesmo minha vida estivesse em jogo - pudesse evocar uma resposta tão pequena.

Decidi fechar os olhos e observar cuidadosamente o que estava acontecendo. Neste momento, a experiência pareceu se aprofundar, e me dei conta de que o que parecia, com os olhos abertos, ser uma experiência adulta de doença viral, então se transformou numa situação realista de um feto sofrendo insultos tóxicos estranhos em sua existência intrauterina.

Encolhi drasticamente e minha cabeça era desproporcionalmente maior do que o resto do corpo e as extremidades. Estava suspenso em um meio líquido e alguns químicos nocivos estavam sendo canalizados para dentro de meu corpo pela área umbilical. Utilizando alguns receptores desconhecidos, eu detectava essas influências como nocivas e hostis ao meu organismo. Enquanto isso acontecia, estava ciente de que esses 'ataques' tóxicos tinham algo a ver com a condição e a atividade do organismo materno. Ocasionalmente, podia distinguir influências que pareciam ser devidas à ingestão de álcool, comida inapropriada ou fumo, e outras que percebia como mediadores químicos das emoções de minha mãe - ansiedade, nervosismo, raiva, sentimentos conflitantes em relação à gravidez e até mesmo excitação sexual.

Então a sensação de doença e indigestão desapareceram, e comecei a sentir um estado de êxtase que se intensificava cada vez mais. Meu campo visual tornou-se mais claro e brilhante. Era como se múltiplas camadas grossas e sujas de teias de aranha estivessem sendo magicamente rompidas e dissolvidas, ou como se um projetor de filme ou uma televisão de baixa qualidade tivessem o foco ajustado por um técnico cósmico invisível. A cena se abriu e uma quantidade incrível de luz e energia estava me envolvendo e transmitindo vibrações sutis por todo meu corpo.

Em um nível, eu era um feto tendo a experiência de extrema perfeição e felicidade de um bom útero e podia alternar para a experiência de um recém-nascido fusionado com o seio nutridor e provedor de vida da minha mãe.

Em outro nível, estava testemunhando o espetáculo do macrocosmo com inúmeras galáxias pulsantes e vibrantes e, ao mesmo tempo, podia realmente me tornar esse macrocosmo. Essas visões radiantes e de perder o fôlego eram misturadas com experiências do igualmente miraculoso microcosmo, desde a dança dos átomos e moléculas até as origens da vida e do mundo bioquímico de células individuais. Pela primeira vez, experimentava o universo tal como ele é - um mistério insondável, um jogo divino de energia. Tudo nesse universo parecia estar consciente e vivo.

Por algum tempo, eu oscilava entre o estado de um feto sofrido e doente e a existência intrauterina feliz e serena. Às vezes, as influências nocivas assumiam a forma de demônios insidiosos ou criaturas malévolas do mundo dos contos de fada. Durante os episódios sem distúrbios da existência fetal, tive a sensação de identidade e unidade com o universo. Era o Tao, o Além que Está Dentro, o Tat tvam asi (Você é Isso) dos Upanishads. Perdi o senso de individualidade; meu ego disolveu-se e tornei-me toda a existência.

Certas vezes essa experiência era intangível e sem conteúdo, outras vezes era acompanhada de muitas belas visões - imagens arquetípicas do Paraíso, a cornucópia fundamental, a era dourada ou a natureza virginal. Eu me tornei um golfinho brincando no oceano, um peixe nadando em águas cristalinas, uma borboleta sobrevoando vales nas montanhas e uma gaivota deslizando sobre o mar. Eu era o oceano, os animais, as plantas e as nuvens - às vezes todos esses ao mesmo tempo.

Nada de concreto aconteceu depois à tarde e à noite. Passei a maior parte do tempo me sentindo unida à natureza e ao universo, banhada em luz dourada que lentamente perdia sua intensidade."

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