Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial: 02/01/2013 - 03/01/2013

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Estrategia De Vida - O Caminho Do Curso D`agua

Trechos do livro "Quando o Impossível Acontece", de Stanislav Grof, pela Editora Heresis, 2007
"O Caminho do Curso D`água" - Pagina 79

 
(...) Uma das características mais impressionantes do trabalho experimental profundo com estados ampliados de consciência é o efeito que tem sobre o nosso modo de vida e sobre a estratégia que usamos para lidar com desafios e projetos. O modelo oferecido em sociedades tecnológicas, no que se refere a isso, é definir o objetivo que desejamos conquistar e buscá-lo com energia concentrada e determinação inabalável. Isto inclui a identificação e remoção de obstáculos que impedem nosso avanço e o combate com potenciais inimigos. A vida de um indivíduo que siga essa receita assemelha-se a uma luta de vale-tudo ou uma competiçao de boxe (...)" . 

(...) Trabalhei com muitas pessoas que conseguiram entender as forças psicológicas subjacentes a esta estratégia e transcendê-la. Essas pessoas descobriram que este enfoque à existência reflete o fato de que não superamos a marca deixada pelo trauma do nosso nascimento em nossa psique e estamos separados e alienados do domínio espiritual. Nossos esforços para conquistas externas são projeções de um esforço mais profundo e muito mais fundamental para completarmos psicologicamente o processo do nascimento e para fazermos uma conexão espiritual. Não há fim para a nossa fome por conquistas externas, porque nunca temos o bastante do que, na verdade, não precisamos ou desejamos (...). 



(...) A auto-exploração responsável e sistemática pode ajudar-nos a superar o trauma do parto e a fazer uma conexão espiritual profunda. Isto nos leva na direção do que os mestres espirituais do tao chamam de wu wei, ou "quietude criativa", que não é ação envolvendo o esforço ambicioso determinado, mas fazer por ser. Isto é chamado, às vezes, de "caminho do curso d`água", porque imita o modo como a água opera na natureza (...).

(...) Em vez de nos concentrarmos em determinado objetivo pré-fixado, tentamos sentir a direção em que as coisas se movem e como podemos nos ajustar a esse movimento. Esta é a estratégia usada nas artes marciais e no surfe, que envolve o foco sobre o processo, em vez de no objetivo e no resultado. Quando conseguimos enfocar a vida dessa forma, acabamos por conquistar mais e com menos esforço. Além disso, nossas atividades não são egocêntricas, exclusivas e competitivas, como ocorre durante a busca de metas pessoais, mas inclusivas e sinérgicas. O resultado não nos traz apenas satisfação, mas serve também a um fim maior da comunidade (...).

(...) Também observei repetidamente e já senti pessoalmente que, quando operamos nessa moldura taoísta, coincidências benéficas e sincronicidades extraordinárias tendem a ocorrer em apoio ao nosso projeto e nos ajudam em nosso trabalho. Descobrimos "acidentalmente" as informações que precisávamos, as pessoas certas aparecem no momento certo e os fundos necessários nos vêm inesperadamente. (...).  

O Mistério da Sincronicidade

Atendendo a pedidos, seguem abaixo trechos exttraídos o livro de Stanislav Grof - "Quando o Impossível Acontece" - Editora Heresis, 2007. Primeira parte - O Mistério da Sincronicidade - páginas 31 a 34
"(...) O cientista responsável por dirigir a atenção dos círculos acadêmicos para o problema de coincidências significativas que desafiam uma explicação racional foi o psiquiatra suíço C.G. Jung. Consciente do fato de que a crença inabalável no determinismo rígido representava o marco da visão científica ocidental, ele hesitou por mais de vinte anos, antes de tornar pública a sua descoberta. Esperando forte descrença e duras críticas de seus colegas, ele quis garantir que poderia apoiar suas asserções hereges com centenas de exemplos. Então, ele finalmente descreveu suas observações revolucionárias em seu famoso ensaio com o título de: "Sincronicidade: um princípio de conexão acausal"(...).



(...) Jung também relatou uma história divertida contada pelo famoso astrônomo francês Flammarion, sobre um certo monsieur Deschamps e um tipo especial de ameixa. Quando menino, Deschamps recebeu uma porção desse pudim raro de um monsieur de Fontgibu. Durante os dez anos seguintes, ele não teve oportunidade de provar aquela delícia, até ver o mesmo pudim no cardápio de um restaurante de Paris. Ao pedir uma porção do pudim ao garçom, teve o desprazer de descobrir que o último pedaço já fora pedido e consumido por monsieur de Fontgibu, que estava no mesmo restaurante naquele momento.Muitos anos depois, monsieur Deschamps foi convidado para uma festa onde este pudim era servido como sobremesa. Enquanto o comia, ele comentou que a única coisa que faltava era monsieur de Fontgibu, que lhe revelara esta delícia e também estivera presente durante seu segundo encontro com o pudim, no restaurante em Paris. Naquele momento, a campainha tocou e um senhor idoso entrou, parecendo muito confuso. Era monsieur de Fongibu, que entrara ali, por engano, porque recebera o endereó errado para o lugar aonde deveria ir.(...)"

"(...) As observações de Jung acrescentaram outra dimensão incrível a este fenômeno já espantoso. Ele descreveu numerosos exemplos do que chamou de `sincronicidade` - coincidências impressionantes, nas quais diversos eventos da realidade consensual estavam ligados de modo significativo com experiências internas, como sonhos ou visões. Ele definiu sincronicidade como "uma ocorrência simultânea de um estado psicológico com um ou mais eventos externos que parecem ser paralelos significativos do estado subjetivo momentâneo". Situações desta espécie mostram que nossa psique pode entrar em uma interação dinâmica com o que parece ser o mundo da matéria. O fato de que algo assim é possível realmente turva os limites entre a realidade subjetiva e objetiva(...)".

"(...) As observações de sincronicidade tiveram um impacto profundo sobre o pensamento e o trabalho de Jung, partticularmente sobre suas idéias envolvendo os arquétipos, imagens primordiais e princípios organizadores do inconsciente coletivo. A descoberta dos arquétipos e de seu papel na psique humana representou a contribuição mais importante de Jung para a psicologia (...)."

"(...) A existência de eventos sincrônicos fez com que Jung percebesse que os arquétipos transcendiam tanto a psique quanto o mundo material, e que eram padrões autônomos de significado, que informavam tanto a psique quanto a matéria. Ele viu que os arquétipos ofereciam uma ponte entre o interno e o externo e sugeriu a existência de uma zona limítrofe entre a matéria e a consciência. Por esta razão, Jung começou a referir-se à qualidade `psicóide` (tipo-psique) dos arquétipos (...)".