Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial: 07/01/2010 - 08/01/2010

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Qual Tempo Você Segue?

Parece ser tão fácil e tão óbvio perder-se na correria do dia-a-dia, que só quando nos sentimos cansados ou ficamos doentes, esse ritmo acelerado se mostra pouco favorável para a nossa integridade física e emocional.

As férias estão aí, e o seu ritmo continua o mesmo: "Para onde vamos agora? O que temos que fazer hoje?"

Muitas vezes podemos sentir que ainda não chegamos onde deveríamos estar, que o tempo está passando e não conseguimos acompanha-lo bem. Cumprimos uma lista de atividades pendentes, e logo aparecem outras, em pouco tempo. Certas coisas se repetem todos os dias, todo mês, a cada semestre.

É importante nos perguntarmos sobre o motivo (por quê) e o sentido (para quê) de nosso ritmo acelerado, de nossa correria. Será realmente necessário correr o tempo todo? Quem sabe ao correr não estamos fugindo de algo ou alguém? Podemos estar fugindo de nós mesmos, de alguma verdade a nosso respeito, de responsabilidades conosco? Ou estamos correndo atrás de alguma coisa ?

Se estamos correndo por causa do mundo que nos exige isso, estamos condicionados pela pressa e pela falta de tempo. Correr não é um problema. Quando só fazemos isso, e tudo é realizado correndo, mesmo quando não existe uma demanda real, então é só uma questão de tempo, vamos ser obrigados a parar. E depois, recomeçar com um novo ritmo, talvez, mais adequado.

Como é o seu ritmo? É rápido, calmo, na maioria das vezes tem pressa, ou é devagar? Você costuma planejar todos os passos do que vai fazer, ou deixa as coisas seguirem o seu curso? Precisa controlar muitas coisas? São perguntas que ajudam a saber um pouco sobre o seu ritmo de lidar com as coisas.

Conseguimos fazer tudo que precisava naquele dia, ou só uma parte ? Será que não estamos nos iludindo, achando que temos tanta organização assim?

Podemos ter uma exigência grande demais, mais do que podemos. Queremos mostrar aos outros (ou a nós mesmos) que somos capazes de fazer milhares de coisas num mesmo dia, mesmo que isso sacrifique a nossa saúde.

Outra coisa que ajuda, é dar-se conta da velocidade e da quantidade de pensamentos durante o dia. Nossa mente é muito rápida, tem a velocidade da luz, nossa imaginação ultrapassa barreiras. Ficar ligado só na nossa cabeça, nos pensamentos, imaginação, só é bom até certo ponto. Deixando o corpo parado ou mal treinado é um risco, e não reconhecendo os limites físicos, não sabemos quando é hora de parar ou desacelerar.

Muita gente vive numa dualidade, onde ora a mente predomina, ora o corpo predomina. Fica complicado, o corpo faz parte de nós, tem uma sabedoria, não está errado ou atrasado. Ele exige atenção e cuidados, respeito e carinho do proprietário. Ele não é igual à mente, que já está a mil quilômetros de distância dele, ou no momento seguinte dali.

A questão principal é focar a atenção, a consciência, no momento presente, pois é aqui que nos encontramos. No presente temos a pressa, a antecipação do futuro, o coração acelerado, a respiração tensa e curta, as unhas roídas, a preocupação e exigência de nós mesmos.

Consciência do próprio corpo, e não apenas trabalhar o corpo, é o que conta. Não é simplesmente fazer ginástica, trabalhar os músculos, pedalar na ergométrica enquanto lemos o jornal. É preciso usar a percepção que temos de nós mesmos para incluir o corpo, conhecer o seu ritmo, as suas capacidades, os seus limites, o que ele quer nos mostrar. A psicoterapia pode ajudar a fazer essa integração dos sentimentos e sensações físicas à consciência, ela é um caminho. A meditação, buscar relações e interesses novos, ir contra os condicionamentos, evitando seguir sempre o mesmo “caminho” conhecido, entre outras práticas, podem ser bem úteis para que estejamos mais presentes no aqui-agora.

Podemos reconhecer que as situações onde estamos são abertas às nossas escolhas, em todos os momentos, e não somos meros espectadores da vida, nem escravos de uma vida homogênea e estática.

Genocidio Armênio - História

Texto escrito por:
Patrícia R. S. Dichtchekenian,
Estudante de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero.

Segundo a tradição, o território armênio estaria localizado no Jardim de Éden, considerado o berço da civilização, e no lugar onde a Arca de Noé teria encalhado após o Dilúvio. Ao longo de mais de três milênios, o povo armênio padeceu de diversas invasões, de infinitas batalhas e, finalmente, de um grande genocídio no início do século XX, praticado pelos turcos, que desmoronaram suas estruturas e deixaram marcas eternas em sua história. A finalidade do trabalho é mostrar o contexto que originou esse massacre, a sua importância para a História Contemporânea e as suas implicações na atualidade.


Como a sua localização geográfica – o Cáucaso – é uma área de passagem entre o mundo ocidental e oriental e, portanto, muito disputada entre os conquistadores, desde o início o país sofreu para manter sua integridade territorial: Quando a Armênia se estabeleceu firmemente como Estado no poderoso Reino de Urartu, em 860 a.C, logo enfraqueceu. Houve tentativas de restabelecimento, mas no século IV a.C, as tropas de Alexandre, O grande penetraram e tomaram toda região. Após o colapso do Império de Alexandre, houve novas invasões que duraram até o início do século II a.C., quando surgiu um reino armênio unificado, com o rei Artachés. Entretanto, em virtude de um conflito entre os persas e os romanos em 387, a Armênia foi dividida em duas partes, a Ocidental e a Oriental. Após essa repartição, em 451, ocorreu a famigerada Batalha de Avarair, uma resposta armênia à intolerância e a brutalidade persa. Contudo, a área ainda era suscetível a novos ataques e, em 610, foi o momento em que os Árabes entraram na Armênia Oriental, onde impuseram leis que resultaram no êxodo do povo. O enfraquecimento do Califado Árabe, no entanto, colaborou para a ascensão da família Bagrádita, que proclamou a independência da Grande Armênia, em 886.

As invasões tornavam-se cada vez mais freqüentes. Desestabilizada, a Armênia foi novamente vítima da divisão de dois países em disputa: entre os Turcos Otomanos (que, em 1453, conquistaram Constantinopla e se infiltraram na região, anexando o setor Ocidental) e a Pérsia, que agregou a parte Oriental. Essa divisão permaneceu até o início do século XIX, quando a Rússia se interessou pela área transcaucasiana e os persas foram obrigados a entregar sua porção ao domínio russo por meio de um tratado. A reação armênia foi positiva, afinal, esse controle assegurava sua existência territorial e permitia que o povo mergulhasse em um novo período de desenvolvimento cultural e progresso econômico. Todavia, a condição dos armênios que habitavam a parcela Ocidental piorava com o inflexível autoritarismo turco, gerando um movimento de libertação apoiado pelos russos e pelas nações europeias. Nessa circunstância, no final desse mesmo século, surgiram os primeiros partidos armênios, como o Armenakan e a Federação Revolucionária Armênia, que lutavam para proteger o seu patrimônio e defender a miserável vida da população. Com o intuito de silenciar qualquer protesto, o sultão Abdul Hamid II, iniciou o extermínio de 300 mil armênios ocidentais, entre os anos de 1894 e 1896.

Em 1908, o cenário político turco sofreu profundas transformações: O Comitê da União e Progresso, liderado pelos Jovens Turcos, destronou o sultão, proclamando governo constitucional e igualdade dos direitos civis para todos os cidadãos otomanos. Essa mudança radical deu ao povo armênio uma mísera esperança. Porém, em menos de um ano, os morticínios voltaram a ocorrer e observou-se com tristeza que os novos chefes da administração ainda seguiam a política Hamidiana. Em seguida, o mundo entrou em colapso com o advento da I Guerra Mundial e a Turquia uniu-se aos alemães na Tríplice Aliança. Havia o serviço militar extensivo para todos, mas muitos armênios pagaram sua isenção, pela falta de razões patrióticas para participarem da guerra. Em um determinado dia, contudo, as cidades foram ocupadas por soldados e o governo intimou todos os homens isentos do serviço militar a se identificarem, sob pena de morte. Dessa maneira, o Comitê da União e Progresso finalmente colocou em prática seu projeto de extermínio de toda raça armênia, com o intuito de atingir a total “otomanização” do território.

Tudo começou em 24 de abril de 1915, quando mais de 800 intelectuais armênios foram presos, deportados e assassinados. A partir de então, o massacre consolidou-se e perdurou até os anos seguintes. Foi um procedimento sistemático: ao passo que os homens foram conduzidos para fora das cidades e, em seguida, torturados e assassinados (inclusive os soldados, que primeiramente eram desarmados e depois, mortos), as mulheres, crianças e os mais velhos receberam a ordem imediata de deportação em um prazo de até uma semana. Não obstante serem expulsos de seus lares e entregues a um destino desconhecido, todos os seus bens foram confiscados e transferidos aos turcos. O governo obrigava os grupos, que variavam entre 2 e 5 mil pessoas, a se encaminharem para três principais lugares: Sultanieh, uma aldeia no centro da Anatólia, onde havia um cruel deserto em seu interior; Allepo, na capital do norte da Síria, onde havia pântanos que causavam um verdadeiro choque climático e biológico, afinal, os armênios eram povos montanheses, inadaptados ao clima tropical abafado e à malária; e Der-el-Zor, uma grande cidade no deserto. Após se estabelecerem em terríveis condições, o governo deu-se por satisfeito e sequer se incomodou em fornecer alimentos.

Nesse êxodo, muitos morriam em virtude da fome, de doenças, do abandono e de seu estado deplorável, afinal, caminhavam sem mudas de roupa, sem poder se lavar, sem abrigo e ainda eram roubados. Além disso, sofriam uma série de abusos, eram constantemente espancados e simplesmente eram assassinados por tropas turcas e por mercenários curdos. Durante o trajeto, muitas mulheres foram submetidas a degradações desde o chicoteamento (que nao perdoava, tanto as grávidas, quanto as mulheres com criança de colo) até o estupro, de modo que muitas enlouqueciam e vendiam seus bebês para que eles não padecessem de fome. Deve-se ressaltar que mesmo as pessoas que pertenciam à camada abastada e fina, estavam acostumadas com luxos e comodidades e eram tão civilizadas quanto qualquer outro cidadão europeu ocidental, foram sujeitas a essa agressão moral e física.

Havia três alternativas para driblar as privações do exílio: as crianças com menos de 12 anos poderiam ser entregues a conventos de dervixes, comunidades de fanáticos religiosos, onde recebiam os ensinamentos da fé muçulmana; as mais belas jovens poderiam ser vendidas em praça pública para viverem sob regime de escravidão sexual em casas de prazer; e, em alguns casos, as famílias poderiam sobreviver se aceitassem a conversão total de seus membros ao islamismo. No entanto, a maioria dos armênios estava fadada à deportação. No final das contas, não havia destino algum, senão a longa caminhada até a morte, de modo que muitos começaram a indagar a existência de Deus. Visto que a Armênia foi o primeiro país a oficializar o cristianismo no mundo, em 303, e a sua Igreja teve um papel essencial na manutenção do Estado e na preservação da identidade do povo, questionar a divindade suprema revela que o próprio povo já havia perdido todas as esperanças.

Todavia, a partir de 1918, muitas transformações ocorreram, alterando totalmente o panorama internacional: a Turquia havia perdido a I Guerra Mundial; a Armênia proclamou, em 28 de maio desse mesmo ano, a sua independência e, em julho, foi assinado um Tratado de Paz entre esses dois países, em que os turcos reconheciam a soberania armênia. Mesmo após seis séculos de dominação estrangeira, a I República pouco durou, pois, em setembro de 1920, os turcos invadiram a Armênia que, sem condições de defesa, aliou-se aos comunistas, proclamando-se uma República Soviética, em 29 de dezembro daquele ano. Após todos esses episódios, as autoridades turcas foram acusadas de vitimar 1.500.000 armênios, responsáveis, assim, pelo primeiro genocídio do século XX. Não devemos nos esquecer também de que nao foi apenas um massacre físico:os danos e as perdas que a sua cultura milenar padeceu são incalculáveis, visto que ela não somente se estagnou em 1915, mas também se dispersou junto com os 800 mil armênios que fugiram para sobreviver e ainda sofreu influências da ideologia comunista.

Apesar de ter ocorrido há 95 anos atrás, o genocídio armênio permanece latente mesmo nos dias de hoje. A principal questão refere-se ao fato dos sucessivos governos turcos recusarem o reconhecimento dos crimes cometidos até hoje e eis o maior motivo pelo qual a União Europeia não os aceita como integrante. Não havia uma exaltação muçulmana ou qualquer espécie de fanatismo religioso para justificar o extermínio: era simplesmente a vontade do governo, que afirmava que os armênios eram traidores e que conspiravam para a vitória do inimigo na I Guerra Mundial. Contudo, não havia a menor possibilidade de cooperarem com o exército da Entente, pois os poderes militares estavam inteiramente em mãos turcas. Não há também explicações para o morticínio nas prósperas e independentes cidades Zeitun e Sassoun, além da inveja do governo otomano e dos vizinhos curdos, o que não fundamenta a sua destruição integral. Além de negar, os líderes turcos ainda afirmam que as mortes foram causadas em virtude de uma guerra civil que trouxe doenças e fome, tanto para os armênios, quanto para os turcos. Entretanto, temos a diáspora como a maior prova que evidencia as deportações e a mortandade, afinal, existem comunidades armênias de sobreviventes da tragédia no mundo inteiro.

Atualmente, a Armênia é um país soberano e independente, desde o desmantelamento da URSS, em 1991. Nessa circunstância, o povo armênio se reúne anualmente no dia 24 de abril para relembrar os seus mortos e exigir dos turcos o reconhecimento do massacre. Se a raça armênia não pode ser ressarcida de suas perdas materiais, pelo menos assim recupere a sua dignidade moral e mantenha viva sua herança cultural.

Bibliografia:

- Site da comunidade armênia do Brasil: www.armenia.com.br
- Toynbee, Arnold. Atrocidades turcas na Armênia. Paz e Terra, 2003- São Paulo