Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial: MinhaAutoria

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Sonhos de Parto e Nascimento

 


Quem já não teve sonhos assim? 

Sonhar que está passando por um buraco ou fresta, de alguma maneira claustrofóbica, sendo a única saída disponível.

Sonhar que se está em um labirinto, ou num ambiente de arquitetura labiríntica, podendo ser sem-saída ou com uma saída quase impossível.

Sonhar que se está girando e caindo numa espécie de espiral, sem controle e com muita angústia.

Pois essas situações e sensações são muito parecidas com aquelas vividas num parto normal ou nascimento biológico, e é bem fácil acessar esse tipo de memória sensorial durante um sonho, que é quando a nossa consciência se abre para muitos aspectos inacessíveis no dia-a-dia.

Stanislav Grof, um psiquiatra tcheco, com 81 anos de idade, morando atualmente nos EUA, estudou por mais de 50 anos experiências psicodélicas e estados modificados de consciência sem drogas, em mais de 200.000 indivíduos desde os anos 1960.

Suas pesquisas clínicas demonstraram que reviver o próprio parto em estados modificados de consciência, inclusive em sonhos, tem um grande potencial de cura e transformação da personalidade.

Segundo a medicina tradicional, o nascimento é um evento inacessível à memória cognitiva, devido à falta de uma estrutura completa de neurônios de memória. 

Porém, diversas teorias psicológicas tais como a psicanálise Winnicotiana, a psicologia infantil de Melanie Klein, assim como estudos das fases do desenvolvimento do comportamento humano, atribuem uma significativa influência de problemas da gestação e do parto, nos comportamentos e nos modos de relação do bebê com o mundo, desde a esquizofrenia até distúrbios agressivos. 

Otto Rank foi o primeiro psiquiatra a citar a influência do "trauma do nascimento" na personalidade. Discípulo de Sigmund Freud, encontrou grandes resistências ao defender suas hipóteses sobre o trauma vivido pelo bebê ao perder a segurança da mãe, no momento do nascimento. 

Stanislav Grof, com suas pesquisas clínicas, nos revela que o trauma do nascimento é marcante em todos nós, não apenas quando saímos de dentro do corpo materno, mas desde a gestação até as fases biológicas do trabalho de parto. 

Ele denominou essas quatro fases do nascimento de Matrizes Perinatais. Matrizes, por serem padrões de experiências físicas e simbólicas, que remetem tanto ao nascimento biológico quanto a um renascimento psicológico do adulto, onde ele renova suas referências existenciais de ser-no-mundo com si mesmo e com os outros. Perinatal, por estar ao redor ou próximo (peri) do nascimento (natal). 

O parto é a nossa chegada inicial e marcante ao mundo. E podemos reviver as sensações de estar nascendo ou morrendo (ansiedade, pânico, tontura) quando estamos prestes a uma mudança existencial significativa (crise da adolescência, casamento, novo emprego, perda de situações conhecidas, etc). O parto é ao mesmo tempo uma experiência de morte e renascimento.

Ao reviver o próprio parto, somos adultos regredindo a uma experiência remota, onde a consciência adulta é capaz de atribuir um significado adulto e maduro a uma situação de vulnerabilidade e insegurança, vivida por um bebê.

Ainda que o nascimento biológico exerça uma influência, devemos ser cautelosos para não reduzir todos os problemas de saúde físicos e psicológicos a problemas de gestação ou dificuldades do parto.

As Cinco Forças da Autorrealização Humana

Existem forças ou padrões de experiências que somos capazes de acessar, e que nos conectam com as bases da existência.

Quando chegamos ao mundo, passamos por essas forças durante o nascimento biológico e além dele, na vida adulta.

Posteriormente, repetimos esses mesmos padrões em diversas situações. São as forças que nos movimentam física, mental e espiritualmente.

1a Força - Segurança, concentração e preparação da energia.

Gestação dentro do útero materno. Todas as condições são ideais para a geração do corpo do bebê, alimentação, crescimento e proteção.

Na vida pós-natal e adulta, são situações onde tudo se encontra em equilíbrio ou zona de conforto. Lugar ou situação onde não há necessidade de mudança.

Aspectos positivos: generosidade, otimismo, busca de prazer, abertura para o mundo, espontaneidade.

Aspectos desafiadores: Vulnerabilidade, Ingenuidade, Falta de foco e motivação. 

2a Força - Interiorização e medo

Início do trabalho de parto, a bolsa do útero se rompe, fazendo com que todo o líquido amniótico seja eliminado, junto com o calor e a proteção do estágio anterior.

Contrações uterinas expulsam o bebê do útero, em direção ao canal do parto. A abertura ainda é muito pequena para permitir a passagem do corpo do bebê, então, ele fica entalado e preso.

Desenvolvimento da cautela, amadurecimento e sabedoria. Contato com as profundezas e aspecto espiritual da existência. Continuação da jornada do Herói, descida ao submundo e ao Inferno.

Na vida pós-natal e adulta, relação com todas as situações de vitimização, impotência, medo, incerteza, pânico e sensação de sem-saída.

Sentimentos e sensações relacionados:
Depressão, certeza da finitude, falta de esperança, ausência de futuro, prisões, identificar-se com prisioneiros de campos de concentração, pacientes de hospital psiquiátrico.

3a Força - Determinação e luta pela sobrevivência.

O bebê se encontra dentro do canal de parto, existe uma luz no fim do túnel. Enormes pressões mecânicas são exercidas sobre o seu corpo, despertando forças instintivas de reação e luta pela sobrevivência.

Na vida pós-natal e adulta, é a fase de máxima expansão da energia corporal e mental, raiva, agressividade, contato com outras pessoas. Agitação e dificuldade de ficar parado.

4a Força - Responsabilidade, reconhecimento do esforço e integração das dualidades.

Finalmente, após um grande esforço e, também, entrega e perdas, chegamos ao fim de uma jornada. Saímos de dentro do corpo da mãe, e somos um ser separado dela. Encontramos um novo lar. Dessa vez, reconhecendo a nossa força pessoal e limites.

5a Força - Transcendência e identificação com o Todo.

Somos capazes de ir além do ciclo de morte e renascimento, reconhecendo a transitoriedade e constante transformação que somos, o tempo todo. Podemos nos apegar a algum aspecto que nos defina, mas sempre seremos surpreendidos pela Transcendência.

Autor:
Antonio Vaszken Dichtchekenian - Psicólogo e especialista na teoria de Stanislav Grof. Pesquisador e psicoterapeuta de Renascimento.

Alcoolismo e Drogadicao

"O Pagamento Final" (Carlito´s Way), com Al  Pacino e Sean Penn. Al Pacino é um traficante recém-saído da prisão, em busca de redenção e de abandonar o mundo do crime.

 

Ele continua envolvido nas mesmas relações que o levaram para dentro da prisão. Será que ele consegue?

 

 

"Existem amplas evidências de que por trás do desejo por drogas ou álcool há um desejo, não reconhecido, de transcendência e totalidade. Muitas pessoas em recuperação falam de suas incansáveis buscas por algum elemento ou dimensão que está faltando em suas vidas e descrevem suas procuras frustradas por substâncias, alimentos, relacionamentos, posses ou poder, o que reflete um esforço incansável para saciar esse desejo (Grof, 1993).

A convivência humana não é fácil. As diferenças individuais nem sempre são bem compreendidas, o discurso verbal e a expressão pessoal são coisas altamente valorizadas, mas nem todos se expressam do mesmo modo, ou são recompensados igualmente. Além disso, os problemas cotidianos exercem tanta pressão sobre uma pessoa, que as drogas ou comportamentos repetitivos podem representar uma fuga, ou mais precisamente, um modo próprio de enfrentamento da realidade, tendo em vista os dilemas de difícil ou nenhuma solução, a que cada pessoa está sujeita. 

Se considerarmos que existe um único modo de ser e de se relacionar com o mundo, e que tal modo é o modo "correto" e os outros são apenas desvios em relação a este único modo "normal", somos constantemente apresentados a desafios praticamente intransponíveis .

A experiência de alguém que está sob efeito do álcool ou de uma droga pesada, pode ser muito parecida com aquilo ao que um místico tem acesso: sensação de dissolução das fronteiras individuais, o fim de emoções perturbadoras e a superação dos problemas cotidianos. As semelhanças param por aí, pois faltam outras características que apenas os estados místicos de consciência possuem, tais como serenidade, numinosidade e riqueza de insights filosóficos (Grof, 2000).


Talvez seja por isso que existe uma grande dificuldade em abandonar qualquer vício ou dependência, pois o que move todos esses comportamentos é uma verdadeira ânsia e desejo, de transcendência e de união, com a totalidade. Ainda que seja possível bloquear um comportamento ligado a um vício ilícito, a sua fonte sempre estará presente, de algum modo. 

O sentido e a direção dos comportamentos de dependência são os elementos ou dimensões que estão ausentes na existência daqueles indivíduos - que está na base da sensação de sentir-se conectado à vida e às pessoas. 


Não é difícil encontrar um ex-dependente que se converteu para alguma religião, ou filiou-se a algum grupo especial e deixou de ser um adicto, muito embora o novo comportamento tenha substituído a substância, pois a intensidade e o vínculo aos novos valores, ajudam a manter a pessoa afastada das drogas. Uma investigação mais cuidadosa pode mostrar que a entrada do indivíduo no referido grupo promove os tipos de experiências místicas e de totalidade tanto almejadas por ele. 

Uma alternativa pouco válida para interromper ou impedir o uso de drogas são as crenças e valores negativos ao redor dessas substâncias, como se tal atitude realmente afastasse os possíveis e atuais usuários das mesmas. Frases como "drogas matam" ou "álcool corrói vidas" podem inibir algumas pessoas, por pouco tempo. Mas existem fatores sociais muito mais poderosos e atraentes que facilitam a aproximação dos indivíduos em relação ao álcool, tais como os grupos sociais e familiares. 

Uma possível solução é a educação que tenha em vista os valores necessários a uma existência plena, e que propicie experiências de conexão e valorização da existência, e das relações dos indivíduos com o mundo. 

Também considero fundamental compreender que a consciência humana é capaz de acessar e de se conectar com vários níveis ou estados da realidade. É isso o que ocorre quando alguém ingere ou utiliza algum tipo de substância ou droga que altera o funcionamento da mente. 

Patologizar os outros estados de consciência, e considerar que existe apenas um único modo legítimo de percepção da realidade, o nível cotidiano de vigília, é extremamente limitado e agressivo. Existem outros modos de consciência, diferentes do estado de vigília, que são saudáveis, trazem qualidade de vida à existência, e permitem transformar estratégias de vida, para uma vida mais plena de significado.

Tendo em vista o avanço tecnológico atual, é possível comprovar a existência de diversos estados de consciência, a partir de exames em tempo real do cérebro, em pessoas meditando, lendo livros, imaginando uma situação concreta, ou outra coisa semelhante. 

Pode ocorrer que uma experiência de embriaguez, ou de uso de drogas traga uma ameaça à vida tão grande, que a pessoa "desperte" para o fato de que ela ia morrer naquele momento, e suspenda o uso por um certo período de tempo. Mas se não acontecer um esforço pessoal e consciente de mudança de hábitos e de relacionamentos, afastando-se de vínculos que promovem o vício ou a dependência, e aproximando-se de situações que levam à totalidade e à plenitude - o comportamento da dependência tende a continuar. 

Segundo Carl G. Jung, o termo spiritus em latim cobre dois significados: álcool e espírito. Ele sintetizou seus conceitos sobre vícios na frase "spiritum contra spiritum", explicando que apenas uma experiência espiritual* pode salvar pessoas da devastação do álcool. 

*O termo "espiritual" refere-se à sensação e compreensão de estarmos conectados à existência e ao mundo, como um todo. Essa sensação e compreensão ocorre antes de qualquer pensamento ou racionalização. A espiritualidade não se baseia na participação em nenhum tipo de religião ou seita, muito menos na crença em mundos e seres superiores ou de outras dimensões. A espiritualidade é independente da formação familiar e acadêmica do indivíduo, ainda que tais fatores possam exercer influências sobre a sua visão de mundo. Ela depende das crenças, valores, das experiências vividas e do modo de relação que a pessoa estabelece a todo momento, com a existência, com si mesma e com o outro.

Quer saber mais? Veja também:

Desordens Emocionais e Psicossomáticas - item "Alcoolismo" neste blog


Referências:

Grof, Stanislav, 1931 - Psicologia do Futuro, lições das pesquisas modernas da consciência - Niterói, RJ:Heresis 2000

Grof Transpersonal Training (GTT)- Módulo "Vicios e Apegos", ministrado por Tav Sparks em 2009, em Cotia/SP - Brasil. 

Olhar Transpessoal - Filme Numero 9 (The Nines)

Número 9 (The Nines, 2007)

Diretor: John August
Roteiro: John August
Elenco: Ryan Reynolds, Melissa McCarthy, Hope Davis, Elle Fanning, Dahlia Salem, Ben Falcone, Octavia Spencer







Assisti a este longa metragem na TV aberta, de madrugada, totalmente sem compromisso e a menor idéia do que ia presenciar. Não se trata de um sucesso de bilheteria, talvez justamente por parecer confuso e sem sentido, se analisado sob uma pespectiva tradicional. 

No filme, somos apresentados a três histórias: Na primeira, Ryan Reinolds é um ator problemático, metido com drogas e álcool, que acaba penalizado com a prisão domiciliar. Nesse período, encontra pistas e suspeitas que sempre levam-no ao número nove, de um modo bastante intrigante. Há duas mulheres na trama, sendo uma assistente (Melissa MC Carthy) e uma vizinha (Hope Davis). Ambas tentam mostrar a ele quem ele realmente é, e o que é o mundo, na verdade. Tudo é meio confuso, e pouco esclarecedor. A vizinha (Melissa Mc Carthy) lhe diz: "Vou tirar-lhe daqui, vou dar um jeito", enquanto a assistente (Hope Davis) lhe diz que ele não é quem pensa ser, extrapolando a sua identidade de ator e homem comum, explicando um possível significado para o "número nove". Chega-se a um clímax, e a trama inicial termina bruscamente, quando ele rompe um limite inicialmente imposto sobre ele. 


Descrevi de maneira pouco detalhada, pois acho importante que você possa assistir ao filme, e se prenda a ele, mesmo após ler esse texto. Enquanto assistia ao filme, pude fazer uma leitura do ponto de vista da Psicologia Transpessoal, relacionada ao conceito de COEX da dependência, e do espectro da consciência. A meu ver, é justamente disso que se trata o filme: da ampliação da consciência a respeito da relação de dependência, em direção a uma independência. Esse processo inevitavelmente inclui a consciência de si mesmo e consciência da realidade. A cada história, vemos a personagem principal de Ryan Reinolds expandir a sua consciência, através do encontro com novas situações e condições, e principalmente, através da relação de inter-dependência com as duas mulheres que estão sempre presentes. 


Na segunda história, Ryan continua no mesmo ambiente do "showbizz", lidando com atores, diretores e produtores, mas agora ele tem mais poder - conversa com a produtora que está interessada em seu roteiro, sugere atores e atrizes para viverem os personagens, classifica a audiência do seu programa em nove tipos (mais uma pista sobre a natureza do número nove na trama...), e percebemos que as pistas encontradas na história anterior são fragmentos de um todo mais complexo, relacionado com o universo de produção, direção e contatos profissionais, que servem para a realização de um projeto pessoal. Surge também uma nova personagem, uma menina que faz o papel de filha, dentro do roteiro escrito pela personagem de Ryan. 


Finalmente, a última trama concentra elementos comuns das duas anteriores. A situação apresentada, agora é distinta, mas, da mesma forma o número nove está presente. Dessa vez o nove tem um significado bem mais complexo do que antes, indicando a definição de um ser com características divinas, de uma força que move toda uma realidade, e continuamente cria um grande jogo envolvendo outros seres, que são as duas mulheres e a criança. O modo de dependência também se apresenta aqui, em um nível mais expandido.

O personagem principal encontra-se em dois lugares simultaneamente: dentro de um filme e no mundo real, uma característica da ampliação da consciência. Ryan Reinolds, dessa vez, é um pai de família que se perde dentro de um parque florestal com a sua esposa e filha (Melissa Mc Carthy e Elle Fanning), e no meio do caminho encontra a personagem de Hope Davis, que no começo do filme havia lhe dito que iria tirá-lo dessa situação, e tenta novamente fazê-lo num nível aparentemente transcendental. A personagem de Ryan fica frente a um dilema que o obriga a realizar escolhas, as quais sempre chegam a outros níveis e tramas, em função da relação de interdependência existente entre todos os personagens.

Do ponto de vista pessoal, o filme trata do tema da dependência. A personagem principal é um dependente afetivo, assim como o são as duas mulheres e a menina, em relação a este. O que varia é a intensidade e a abrangência, desse tipo de comportamento de dependência.

O final do filme revela uma última reviravolta na trama. O desfecho da história também serve aos propósitos "hollywoodianos" de tentar agradar ao público no final, e mostrar um final feliz. 

Por fim, é importante dizer que nem todas as experiências seguem o padrão ou a linha perinatal, o que também é o caso desse filme. A relação estabelecida foi com o sistema de experiências condensadas (COEX), que também é a base das Matrizes Perinatais, mas que no caso deste filme, não se aproxima do domínio perinatal. 

Tendencias

De acordo com a personalidade e o momento de vida pelos quais todas as pessoas passam, podemos dizer que há uma tendência a certos tipos de comportamentos e de visão do mundo. 

O nascimento biológico é um evento de grande magnitude e importância em nossas vidas, e está registrado em nosso DNA na forma de "matrizes" ou padrões experienciais. O nascimento significa todas as mudanças, transformações e passagens pelas quais nos deparamos em toda a existência. 

Quando nos vemos frente a uma oportunidade nova, do tipo, aprender um novo comportamento, conhecer uma nova pessoa, mudar de hábito, ou de opinião a respeito de algo, alguém ou de nós mesmos - reagimos e nos comportamos de maneiras totalmente distintas, quando comparamos duas pessoas. 

Se Freud dizia que as experiências do inicío da infância colaboram com a formação da personalidade, Stanislav Grof vai um pouco além disso, afirmando que o próprio nascimento biológico carrega um enorme significado para cada um de nós, tanto positiva quanto negativamente. 

O significado do nascimento é tão grande, a ponto de a ciência moderna ser capaz de ignorá-lo, como coadjuvante na formação de problemas psicológicos e psiquiátricos. 

Ao invés disso, atribui causas hereditárias, genéticas e da fisiologia cerebral para explicar distúrbios como a esquizofrenia, depressão, e a bipolaridade. Sem dúvida, existem causas orgânicas nessas condições psiquiátricas, mas elas não são a única maneira de compreendê-las. 

A "mudança de hábito" ou "situação nova" são belos exemplos, para servir como referência, no que diz respeito às tendências descritas abaixo. 

Quando você busca mudar um hábito muito arraigado, ou se depara com uma situação totalmente nova, em sua vida, como você reage ? 


Ênfase na MATRIZ I


 - Busca de contato com a água (natação, mar, mergulho, formas de vida aquática)
 - Visão otimista e positiva da existência e da natureza
 - Relação positiva com a "Mãe Natureza", ou com a mãe pessoal
 - Dificuldade de estabelecer limites e impor regras
 - Preguiça ou isolamento, sem necessidade de manter contatos com outros ou com o mundo externo
 - Quando existe ameaça, ela é indefinida e vem de todos os lados
 - Ingenuidade e inocência marcantes, relativos a alguns assuntos
 - Fascinação por barrigas de grávidas





Ênfase na MATRIZ II


 - Relação de vitimização e impotência, tristeza profunda ou estados depressivos
 - Perspectiva fatalista e de aprisionamento na existência (por ex: "A vida é assim mesmo, não tem jeito...")
 - Falta de "tesão" pela vida / baixa libido, ausência de libido, ou culpa em relação à sexualidade
 - Sentimentos negativos a respeito de si e dos outros
 - Percepção de que o tempo não passa, ou que ele passa muito devagar
 - Visão trágica ou melodramática da vida (por exemplo: "Só acontece comigo...")





Ênfase na MATRIZ III


 - Sente que precisa lutar ou estar ativo o tempo todo, pois o "Sistema", os outros ou o mundo, estão contra você. Caso contrário, nada se realizará a seu favor;
- Tendências a intrigas, chantagens e manipulação de situações e pessoas / ou sentir que é vítima das mesmas
- Atração por adrenalina, esportes radicais, direção agressiva e perigosa, viver aventuras, extremamente competitivo(a), tédio se ficar parado por 5 minutos;
- Gosta de, ou tem interesse por filmes de sexo, guerra, terror, vampiros, zumbis, filmes de suspense ou de conspirações maquiavélicas;
- Muitas vezes o seu comportamento chega próximo da auto-destruição ou da falta de controle;
- Hábito por piadas escatológicas, gosto por assuntos relativos a escrementos e fluídos corporais, ou percebe que a vida é uma "merda", cujas adversidades se voltam para você.
- Fascinação por fogo, eletricidade, raios, trovões, tufões, explosões, máquinas e mecanismos gigantes, destruições da natureza, catástrofes e especulações a respeito do fim do mundo.




Ênfase na MATRIZ IV


 - Sentimentos de paz interior, depois de situações resolvidas e escolhas feitas;
 - Compaixão por outras pessoas e outros seres vivos, sem prejuízo próprio ou do outro;
 - Sensação de aceitação de si e dos outros, como são;
 - Capacidade de aproveitar o momento presente, por mais simples que seja;
 - Satisfação com relações pessoais e contato com a natureza;
 - Confiança em si e nos outros, se não existirem motivos contrários a isso;
 - Incapacidade de se preocupar.

Senhor dos Anéis - Herói

A Trilogia "O Senhor dos Aneis" apresenta as 4 matrizes da teoria de Stanislav Grof, de uma maneira bela. Elas apresentam semelhanças com a "Jornada do Herói", descrita por Joseph Campbell.

A Primeira Matriz (MPB I), no filme, refere-se aos momentos em que Frodo está em casa e na sua vila, antes da aventura começar. Tudo é belo, harmonioso e seguro. É o estado inicial e promordial, onde praticamente todas as necessidades são preenchidas.

Refere-se ao estado inicial, onde o herói está em casa, descansando. De um modo experiencial, relaciona-se ao período inicial onde o bebê está dentro do útero, em tranquilidade.


Na nossa vida cotidiana, tem ligações com momentos em que tudo está bem, sem motivos aparentes, e não precisa ser diferente. Essa matriz existe não apenas como memória de um tempo que foi vivido, mas também é um modo de sentir e perceber a existência em vários momentos da vida humana.

Fonte:
http://www.art-wallpaper.net/movie/The-Lord-of-the-Rings
A transição da Primeira para a Segunda Matriz é o momento do "chamado para a aventura". O Herói recebe um chamado para iniciar sua jornada, que tem um prêmio ou dom, a ser encontrado no final da jornada. No filme "Senhor..." trata-se do momento em que Frodo decide ir buscar o anel. 

Experiencialmente, é um momento em que os sinais químicos do útero indicam que o trabalho de parto está começando. A tranquilidade inicial dá lugar a um sentimento de novidade e estranhamento, um tipo de "Ops!"




Video Cassetadas e Comportamentos Repetitivos




Você já parou para ver as "video-cassetadas"? Todo mundo conhece, são vídeos feitos em casa, que incluem momentos constrangedores, na maioria das vezes quedas, escorregões, tombos, entre outras coisas. Hoje em dia, isso passa em vários lugares, não só na televisão aberta, mas nos canais por assinatura e também na internet.

É curioso perceber nossas reações, são as mais variadas possíveis, quando as vemos: Algumas pessoas se deliciam, e riem muito; outras vêem como humilhação; uns aguardam pela próxima cena ansiosos, enfim, cada pessoa reage de maneiras específicas e particulares a esses programas.

No caso das cenas que privilegiem a humilhação, quedas, machucados, e até mesmo violência, e sexualidade, é possível estabelecer uma relação entre o interesse e o prazer de assistir a tais cenas, com o dominio perinatal da teoria Transpessoal.

Antes de entrar nesse assunto, gostaria de mencionar outro elemento importante, que nem sempre é considerado: o fato de saber que se está sendo filmado é capaz de alterar o comportamento dos protagonistas da cena? E também; por quê alguém escolhe não apenas filmar, mas também divulgar, enviar para a televisão ou para a internet as cenas de "video-cassetadas"? O que esses dois comportamentos têm em comum - a exibição de um ato para uma platéia, a dinâmica inseparável do "observado-observador", que também faz parte do domínio perinatal do inconsciente.

O que quero dizer é que assistir, produzir e divulgar essa categoria de videos não se origina apenas das motivações sociais e egocêntricas do campo contingencial, e do ambiente imediatamente observável. Nós não somos uma "tabula rasa" que é totalmente preenchida com os valores parentais e ambientais. Ao nascermos, já temos registros próprios da espécie, da cultura humana e da familia, que exercem influência sobre nosso comportamento e o modo como enxergamos e sentimos o mundo.

Existem aspectos mais fortes e presentes, que são de certa forma, alimentados por conteúdos inconscientes (de natureza perinatal, relativas aos aspectos biológicos e simbólicos do nascimento humano).

Justamente porque esses aspectos nunca encontram uma via autêntica de liberação e vasão, apenas situações incompletas na aparência e nos objetivos, esse tipo de comportamento necessita ser repetido exaustivamente,  pois de alguma forma, a concretização desse sentido não pode ser realizada no cotidiano.


Ainda que alguns desses objetivos sejam benéficos, caso sejam a diversão, expressão pessoal, sentir-se observado e admirado, identificação com outros semelhante, entre outros, eles dificilmente chegam perto da intensidade e da realização plena dos aspectos que os motivam, ou seja, a morte e o renascimento psicoespiritual.

Por isso que muitas pessoas sentem um imenso vazio em suas vidas, muito embora elas possuam tudo que lhes traga felicidade - elas estão realizando apenas uma parte das suas motivações: são reconhecidas socialmente, trabalham honestamente, ganham o quanto podem sem passar necessidade, são ótimos amantes, excelentes profissionais e filhos exemplares.

Quem sabe, elas nunca viveram realmente uma morte psicoespiritual, que é morrer sem a morte física, mas o vazio que elas sentem traz justamente essa sensação de morte, que lhes é necessário para dar u sentido que falta à sua existência. Quando sentem esse vazio, seguem o "script" aprendido de preenchê-lo com o mundo externo: compras, adrenalina, vícios, tudo que lhes distraia e alivie a sensação de vazio. Paradoxalmente, tudo isso acaba trazendo a sensação de morte e vazio, pois no final o saldo continua negativo...

Isso vale para as video-cassetadas, e também para vários comportamentos repetitivos e aparentemente sem sentido, mas que nos dão muito prazer e felicidade na hora, mas no final parecem que não valeram e precisamos repetir.

O domínio perinatal do inconsciente consiste de padrões experienciais, ou matrizes. São assim chamadas "matrizes" com toda a razão, pois são as "fôrmas primordiais" de muitos comportamentos, valores, sentimentos e sensações físicas que vivemos no cotidiano. Foram descobertos a partir de pesquisas controladas de experiências de estados ampliados de consciência.

Tais estados costumam ser alcançados através de meditação, relaxamento profundo, uso de substâncias alucinógenas, rituais indígenas e xamânicos, jejuns prolongados, privação de sono, e até em crises espontâneas. Praticamente todas as filosofias orientais e milenares descrevem algum ou muitos desses padrões experienciais, que fazem parte do registro amplo da humanidade, e portanto, são acessíveis a todas as pessoas de todas as épocas e culturas.

Esse registro amplo foi chamado de "Inconsciente" por Sigmund Freud, e posteriormente, outro psiquiatra chamado Carl Jung chamou-o de "Inconsciente coletivo", por perceber que ele contém todos os padrões experienciais de toda a humanidade, não apenas o registro da vida biográfica individual, como Freud descobrira.

Recentemente, ou seja, em meados dos anos 1960, Stanislav Grof ,outro genial psiquiatra, descobriu que todas as pessoas sujeitas de laboratório para pesquisas psicodélicas, tiveram experiências de regressão ao útero materno e de renascimento psicoespiritual. Após centenas de relatos de casos, constatou que, além de sua compreensão psicanalítica freudiana ser limitada para explicar todas essas experiências embrionárias e relativas ao renascimento psicoespiritual, essas experiências provocavam profundas mudanças na visão de mundo daqueles sujeitos.

Tais mudanças incluiam: resignificação de traumas de tenra infância, de abusos sexuais, de comportamentos suicidas e auto-destrutivos, mudanças de estratégias de vida para uma vida mais simples e menos baseada em medos irracionais, entre outras. Em resumo, muitos casos clínicos considerados com poucas chances de melhora, pois já haviam sido atendido durante longos anos apenas com psicoterapia verbal ou psicanalítica, abordagem muito válida até hoje.

Depois dessa breve história realmente invejável para qualquer interessado no comportamento humano, Stanislav Grof deu continuidade às pesquisas e acabou estabelecendo pontes com outras abordagens que também compartilham de uma visão tanto humanista (que colocam o ser humano no centro do interesse da sobrevivência planetária) quanto multi-dimensional e consciencial (filosofias orientais e conhecimentos da chamada Filosofia Perene). O resultado é constatado e válido até hoje, em sessões de respiração e renascimento, e de terapia vivencial que utilizam abordagem corporal, psicodrama e psicossintese.

A Matriz Perinatal 3, como padrão, relativa a esse tópico de repetição, vazio existencial e video-cassetadas possui os seguintes parâmetros: 


- Identificação com três personagens ao mesmo tempo: agressor, vítima e um terceiro observador


- Sensação de estar numa situação de luta, com a possibilidade de término e vitória


- Aspecto titânico: imensa carga de energia física, voltada para a sobrevivência do feto dentro do canal de parto - resulta em agitação, ansiedade e incapacidade de estar no presente, no mundo cotidiano.


- Dinâmica de antagonismo com a mãe / mundo / outros - sensação de uma "incurável" separação com relação ao mundo, necessidade de estar sempre lutando com adversários na cotidiano


- Elementos sexuais distorcidos, sadomasoquismo, submissão, estupro, contato com elementos biológicos, tais como sangue, urina, fezes, placenta - resulta em dificuldade de estabelecer vínculos amorosos, apenas relações baseadas no prazer imediato e sexual.


- Sensação de que "aqui" não está bom, mas com sacrifício se chegará ao paraíso,que está lá na frente, ou no futuro. Próximo do final, transição para a próxima matriz. - resulta em estratégias perdedoras, baseadas em evitar constantemente a morte do ego, em se estar sempre no controle e em sacrificar o presente para alcançar um objetivo que nunca realmente se concretizará.


Obviamente, nem todos os vídeos tratam de humilhação, agressão ou satirização. São acontecimentos trágicos e inusitados que se manifestam, e ficam em evidência. A questão não é meramente o conteúdo dos vídeos, mas sim o que se faz com eles. Como são exibidos, como aparecem de maneira muitas vezes repetitiva, sem a menor utilidade além de manter espectadores ligados no mundo externo. Qual a atitude de quem exibe e de quem assiste? Qual a filosofia de vida revelada na exposição e na espiação coletiva?

Qual Terapia Funciona Para Você?


O que você acha mais fácil? Relaxar o corpo, e descansar depois de um dia carregado com uma boa noite de sono, uma massagem... Ou relaxar a alma, descansar dos mesmos pensamentos de todos os dias, e ter alguma mudança perceptível sobre você mesmo e a sua própria vida? A alma, neste contexto, não tem nenhum significado metafísico. Trata-se de uma dimensão sensível, que compreende o mundo e dá sentido à sua existência. Quando fazemos alguma atividade física que nos permite relaxar durante uma hora, ou até mais, é possível alterar a nossa relação com os pensamentos e emoções, pois existe uma relação direta entre o corpo e a alma. Aquilo que sentimos e pensamos pode afetar nosso corpo e a saúde orgânica. Da mesma forma, atividades físicas como uma caminhada, yoga, ou uma relação sexual podem modificar os estados emocionais em que nos encontramos.


Mas, e quanto ao aspecto emocional e psicológico? Não sei se você já teve a oportunidade de fazer psicoterapia ou alguma outra terapia voltada para os aspectos da personalidade. Talvez você tenha conhecido um psicólogo (ou terapeuta) que pôde ajudar você a compreender os significados e as causas dos seus problemas, pelo menos dos principais que lhe afligiam. Não é preciso tanto: uma pessoa mais experiente dentro do seu círculo de relações (um tio, avó, alguém que você escolheu), que lhe explicavam coisas da vida, e permitiam que você visse tudo com novos olhos!


Tudo depende das experiências que você teve até agora: o autoconhecimento pode ter tido momentos agradáveis, outros razoavelmente difíceis. Se suas mudanças vieram junto com doses de sofrimento e conflitos, isso pode marcar em sua mente um caminho doloroso quando você pensa em transformação pessoal e autoconhecimento. Pare por um momento, e faça uma recapitulação da sua história. Quais acontecimentos lhe marcaram e transformaram a sua vida? Você se sente um protagonista ou um espectador? O que sente pelas pessoas à sua volta, e o que elas sentem por você? Essas perguntas lhe agradam ou incomodam?

Mudar o seu comportamento por conta própria é uma das tarefas mais desafiantes que uma pessoa se propõe a realizar. Quantas vezes já tentou mudar um pensamento ou sentimento incômodo em relação a situações conhecidas? Ou então, desejou se sentir diferente com relação a uma pessoa próxima?


A psicoterapia verbal é um tipo de terapia muito conhecida e valorizada pela ciência. É uma opção, entre muitas outras, mas não serve para todas as pessoas, em todos os momentos de vida. Uma terapia deve atender às necessidades dos pacientes, e não o contrário. É necessário respeitar o jeito que cada pessoa vive o mundo e a si mesma. Porque são as experiências que transformam as pessoas, não apenas uma palavra ou a interpretação de um terapeuta. Essa é uma dentre muitas das razões, pelas quais as pessoas buscam novidades. Elas querem ter experiências que lhes permitam transformar os sentimentos, as crenças e os conceitos a respeito do mundo e delas mesmas.


Partindo deste princípio, as psicoterapias vivenciais são uma modalidade de terapia que, através de recursos diferenciados, além da conversa ou análise, facilita o acesso à nós mesmos. Costumam ter resultados efetivos, que ocorrem em relativamente pouco tempo. Nessas terapias, a conversa se limita ao básico, sem análises ou explicações sobre a experiência. Porque a psicoterapia experiencial tem como foco as experiências, e não as explicações destas. No devido tempo, a compreensão da experiência e os seus efeitos aparecem para a pessoa, sem a necessidade de uma intervenção externa do terapeuta. Você passa por um entrevista inicial, onde são obtidas informações da sua história de vida e saúde física. Antes de iniciar as sessões, são explicados quais são os procedimentos, como por exemplo, deitar, fechar os olhos, respirar desse modo, etc. Se a pessoa quiser, a conversa ajudar a compreender o que foi vivido. Mas não é o único caminho.

Então, existem vários tipos de terapia voltadas para o autoconhecimento, que utilizam ferramentas variadas, além da conversa: respiração consciente, ressignificação de memórias, exercícios e movimentos corporais, terapia através da expressão artística, entre outras. Cabe a você descobrir qual delas funciona melhor para a sua pessoa. Afinal, terapia é sinônimo de sentir-se melhor com você mesmo.

Planeje O Seu Futuro

Você já fez os seus planos para o ano que vem? Não precisa ser exclusivamente o ano novo cristão, pode ser o ano novo do seu aniversário, ou ainda um momento novo que você escolhe realizar por sua conta própria.

Quando eu penso em planos para o futuro, costumo pensar:
- Quero mais disso, menos daquilo...
- Quero ser melhor nessa atividade...
- Quero ganhar mais dinheiro do que agora...ou fazer mais atividades do que agora...

Ou seja, o plano consiste em aspectos comparativos: serei MAIS do que sou, terei MAIS, serei MELHOR nisso do que sou agora, e assim por diante.

O problema é que ISSO NÃO FUNCIONA!
Sabe por quê? Dessa forma, estamos nos comparando NEGATIVAMENTE em relação ao futuro. Como o futuro não existe, é apenas um PLANO, ou PROJETO VIRTUAL, aquilo que é REAL e PRESENTE fica prejudicado.

Então, como fazer? Pense e planeje metas CONCRETAS:

- Quero fazer X por mês no ano que vem...
- Quero conseguir realizar TAL atividade ou projeto específico...
- Vou correr X kilometros por dia no ano que vem..

Assim, pelo menos temos projetos DELIMITADOS e que não fazem parte de um JULGAMENTO ou AVALIAÇÃO do momento PRESENTE.

Como já dizia o B.F. Skinner, o reforço negativo (punição) não funciona. Mesmo assim, somos MESTRES nisso, em relação a nós mesmos... (Essa segunda frase não sei se é dele mesmo)

Vou fazer, e depois lhes conto os resultados.

Seja a chuva que for

" A experiência de ser a chuva pode ser exatamente a mesma para todas as pessoas, independente das suas origens e valores.(...)"

As experiências nos estados ampliados de consciência podem alcançar níveis que vão bem além do domínio da consciência pessoal. É possível sentir que somos uma outra pessoa ou um grupo de pessoas, um animal, uma planta ou até mesmo um processo da natureza. As possibilidade são infinitas, e a finalidade de tais experiências não podem ser totalmente explicadas antes delas acontecerem.

Segundo a Fenomenologia, a experiência pessoal é única e intransferível. Ou seja, o modo de alguém sentir e viver a realidade é particular, e não pode ser generalizado. O modo como cada Homem, cada ser-no-mundo habita o mundo é próprio.

Quando a consciência se expande além dos limites individuais, e acessamos uma experiência de ser-a-chuva, por exemplo, esse modo único de sentir e de ser não pode ser aplicado. Não podemos dizer que aquela pessoa teve uma experiência única de ser a chuva. Pois a chuva não é um ser-no-mundo, não é um Homem. É um ente, um objeto do mundo. Apenas o significado ou o sentido que a pessoa tem pode ser único e próprio, relativo ao seu modo de ser.

Uma vez que ocorre a expansão da consciência, algumas referências pessoais podem se alterar definitivamente. Crenças a respeito da realidade e a respeito de si mesmo sofrem mudanças, pois houve uma expansão total das referências. Você não vê uma cidade do mesmo jeito depois que a vê de cima de um arranha-céus...


Chuva em São Paulo vista da região da Avenida Paulista (Foto: Glauco Araújo/G1)



A experiência de ser a chuva pode ser exatamente a mesma para todas as pessoas, independente de quem ela seja, das suas origens e valores. Saber como é ser chuva, os pingos e a água toda caindo do céu, de uma maneira extremamente precisa e objetiva. Sendo cada gota e ao mesmo tempo a chuva toda. São informações verdadeiras, que podem servir de base para ampliar conhecimentos técnicos a respeito do fenômeno meteroelógico da chuva, e principalmente, mudar a hierarquia de valores que regem a visão de mundo de uma pessoa.

Tive uma experiência bem próxima desta: De repente, pude saber como é ser a enorme nuvem de chuva que realmente pairava acima do local onde eu me encontrava. Consegui sentir e saber intuitivamente que, do ponto de vista da chuva, ninguém que estava lá embaixo era importante, ou alvo de punição ou recompensa. Se alguém estava atrasado para se locomover até o outro extremo da cidade, isso era totalmente irrelevante frente à imensidão da nuvem de chuva que pairava acima daquelas pessoas.

Pois a chuva não era uma consequência das minhas boas ou más atitudes. Ela simplesmente acontece porque tem que acontecer.

Meu ego ficou diminuído, minhas preocupações individualistas tornaram-se pequenas frente à gigantesca nuvem de chuva que estava sobre São Paulo, às 17 horas daquele dia.

Por isso é que os estados ampliados de consciência são tão poderosos e transformadores: eles permitem que a pessoa se conecte com dados da realidade que não dependem das características individuais daquele que os observa. Isso permite uma mudança na filosofia de vida e nos paradigmas que definem o que é a realidade, o mundo, os outros e a nós mesmos.

Glossário de Transpessoal Grofiana

Tudo o que se pensa a respeito da realidade tem a ver com o paradigma utilizado para compreendê-la. A realidade é complexa demais e não é possível entendê-la totalmente, apenas fragmentos. Um paradigma é um MAPA da realidade, é uma representação possível e mais aproximada do real. Ainda assim, é incompleto, pois não consegue incluir todos os fenômenos existentes.

Acontece que quanto mais usamos um paradigma, passamos a nos acostumar, ao ponto de confundí-lo com a própria realidade. Um paradigma pode definir aquilo que é normal e aquilo que é anormal. Dessa forma, tudo o que não se encaixa na explicação, no modelo existente, que explica a realidade é considerado anormal. E vai além disso, pois consegue definir aquilo que é real ou não. Nem todos os fenômenos podem ser explicados a partir de um único modelo de realidade. Quando aparecem fenômenos que não se encaixam no modelo atual, no paradigma atual, existem duas opções:

1) Os fenômenos são simplesmente ignorados, como falsos ou alucinatórios, produtos de mentes desequilibradas ou de falsas percepções. Por conseguinte, os sujeitos também ficam estigmatizados como desequilibrados ou mal informados a respeito da realidade consensual.

2) Os fenômenos começam a ser estudados com mais atenção, a ponto de serem incluídos no paradigma, chegando a ampliar a definição atual a respeito da realidade. Esse ponto é crítico e costuma ser alvo de muitas críticas, pois questiona todos os fundamentos do paradigma existente, e anunciam a criação de um novo modelo, sob o risco de desvalorizar o paradigma atual.

Os termos a seguir fazem parte de um determinado paradigma, que busca incluir novos fenômenos, e considerá-los reais e humanos. Durante muito tempo, alguns dos fenômenos a seguir descritos eram considerados fantasiosos, alucinatórios, místicos e produtos de mentes infantilizadas ou desequilibradas, sob o ponto de vista de autoridades médicas e psiquiátricas do século XX.

Ainda nos dias atuais, nem todas as linhas de estudo da saúde humana consideram esse paradigma, ele está em fase de transição, porém é mais bem aceito. Essa aceitação se deu graças a possibilidade de maior acesso de um número cada vez maior de pessoas, aos estados de consciência que vão além do estado acordado ou dormindo. E também em função da observação dos resultados práticos observados na percepção da realidade que estas experiências proporcionam.

Não se trata de recreação ou prazer mental. É um empreendimento de autoconhecimento, ao mesmo tempo que promove conhecimento do mundo e das relações existentes no mundo. O modo de percepção da realidade é modificado, de maneira qualitativa e interessante.


COEX - Abreviação de "COndensed EXperiences", ou experiências condensadas. É uma teoria sobre a organização da psique humana. O conteúdo que emerge da consciência (memórias, fantasias) é todo conectado entre si, tendo como ponto em comum uma emoção ou sensação física. O fio que liga cada experiência emergente e cada fantasia, uma à outra, é uma emoção que pertence a todas e a cada uma delas, ao mesmo tempo.

Consciência -  Existem duas perspectivas distintas a respeito da origem da consciência:
A medicina tradicional e a ciência newtoniana-cartesiana consideram que a consciência é um produto da matéria. Desse modo, todas as manifestações são causadas por reações químicas de neuro-transmissores. As emoções, pensamentos e o comportamento dependem do equilíbio químico e eletromagnético do cérebro. Qualquer distúrbio de comportamento é visto como um desequilíbrio químico, e quase não se consideram as influências ambientais. As influências são praticamente genéticas ou hereditárias.

A visão psicológica moderna da consciência considera a consciência um elemento presente em todos os lugares do Universo, e a partir do qual todos os outros existem. A consciência não se restringe ao cérebro, ainda que ela possa ser influenciada por mudanças químicas do mesmo. Ela depende de experiências pessoais para criar um modo de percepção, ou já existem padrões pré-determinados que moldam a maneira como as experiências são registradas no cérebro?

Apenas um exemplo: Observou-se que muitos detentos que cometeram assassinato possuem histórico de abuso sexual ou distúrbios de relacionamento com os pais. Ao mesmo tempo, quantas pessoas possuem um histórico semelhante, de abusos e distúrbios de relacionamento, e nem por isso cometeram crimes ou são considerados perigosos.

Para Stanislav Grof, a consciência pode apresentar vários estados, além da vigília e do sono. Ela se divide em dois modos - o hilotrópico e o holotrópico, sendo que uma pessoa saudável alterna entre ambos. Permanecer apenas em um deles constitui dificuldades de relacionamento com o mundo. Seja com aspectos práticos da realidade, no caso de alguém fica somente no holotrópico, ou com aspectos da espiritualidade genuína, no caso de uma consciência voltada totalmente para o hilotrópico.

Hilotrópico - "Hilo" significa matéria. É o modo de consciência orientado para a matéria, que estamos acostumados a perceber o cotidiano e a realidade material. Existem objetos e entes separados entre si, o tempo se move do presente para o futuro, o espaço é tridimensional e sólido. A consciência de si mesmo é de alguém isolado e separado do mundo e dos outros.

Holotrópico - "Holos" quer dizer totalidade, todo. Nos estados holotrópicos (termo cunhado por Stanislav Grof) a consciência se expande além dos limites temporais e espaciais da realidade cotidiana. Quando se expande até o estado holotrópico, nos percebemos conectados e em relação direta com uma vastidão de imagens, símbolos, arquétipos e experiências, além da nossa compreensão e do nosso controle.

Fenomenologia - Aquilo que se apresenta, sob o ponto de vista do sujeito. Todas as descrições das experiências são relatadas sob o ponto de vista daquele que a experimenta, e não de um observador externo. A fenomenologia de uma matriz perinatal descreve como é estar sob influência dela, do ponto de vista do sujeito.

Perinatal - O domínio perinatal do inconsciente é um intermediário entre o inconsciente individual e o inconsciente transpessoal. É um "imã" de emoções, sensações, imagens relacionadas ao reviver do parto biológico e também do renascimento psicoespiritual. Não nos encontramos em contato apenas com as memórias e fantasias do inconsciente individual, como aquele descrito por Sigmund Freud. Temos acesso a arquétipos, padrões experienciais, através dos quais podemos ultrapassar o limite individual e nos identificar com outros seres, nas mesmas condições que experienciamos. O prefixo "peri" significa próximo ou ao redor, e "natal" quer dizer nascimento. Assim, perinatal diz respeito ao período que vai desde que o feto é concebido, até a sua saída completa pelo canal de parto, para o mundo.

COEX - Aplicada à vida cotidiana

" Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções"

É uma abreviação em inglês para “COndensed EXperiences”. Em português, Experiências Condensadas, refere-se ao conceito utilizado por Stanislav Grof, que define como as memórias são organizadas na consciência.


Todos os conteúdos existentes na consciência, sejam memórias, fantasias, sensações físicas, traumas psicológicos e físicos, auto-imagens, papéis, etc... estão organizados em COEX. Trata-se de um princípio básico que, ao mesmo tempo simplifica, e amplia o olhar para a consciência, e o modo humano de estar no mundo. Os domínios da consciência, o biográfico, matrizes perinatais e o transpessoal têm como base a COEX.



Quando entramos numa psicoterapia experiencial, seja por meio de terapia corporal reichiana ou bioenergética, Psicodrama, Gestalt, Respiração Holotrópica (TM), ou ainda, por meio de meditação profunda, yoga, hipnose, EMDR, sonhos noturnos ou sonhos lúcidos, e substâncias psicodélicas, o sistema COEX é ativado.

Esse sistema está diretamente ligado a um outro princípio intrínseco de cura da consciência, que Grof denomina "Radar Interno". O radar é responsável pela escolha daqueles elementos que serão trazidos à consciência para transformação e cura. 


O sistema COEX é não-linear e holográfico. Quando se entra em contato com o domínio biográfico, ou seja, a história pessoal, os conteúdos trazidos à consciência não aparecem de maneira linear e cronológica. O mesmo ocorre quando acessamos o domínio das matrizes perinatais (do nascimento biológico), e com as experiências transpessoais. A emergência dos conteúdos à consciência ocorrem de acordo com o sistema de radar interno e com as COEX.

O sistema COEX é extremamente pessoal e individual, cada pessoa é única, assim como suas maneiras de estar no mundo, de perceber a si mesma e a realidade.


Durante o dia-a-dia, não nos damos conta desse radar, mas ele também está funcionando, da mesma forma que as COEX. 


Usando um exemplo, uma COEX de culpabilidade contém todas as experiências de vida de uma pessoas nas quais ela se sentiu culpada, no sentido negativo. Assim como todas as fantasias,onde ela também se sente culpada. E as sensações físicas que a culpa desencadeia em seu corpo, como aperto no peito, dores de cabeça, etc. Inclui também experiências do nascimento biológic, e possíveis experiências transpessoais, relacionadas com a COEX.

Essa divisão entre memórias reais e fantasias podem estar misturadas, num grupo geral de situações ou memórias, e isso não tem importância para o reconhecimento da COEX. O fundamental é poder reconhecer os padrões de experiências, sejam elas reais ou imaginárias.

Dessa forma, os nossos problemas ou questões da vida se reduzem em número, e podem ser trabalhadas com mais facilidade. Ao invés de dizer que temos 59 questões e dificuldades na vida, somos capazes de reconhecer que existem 5 ou 6 padrões de emoções, ou seja, COEXes que regem a nossa vida, nossas escolhas e nosso modo de perceber o mundo, e a nós mesmos.

Qual Tempo Você Segue?

Parece ser tão fácil e tão óbvio perder-se na correria do dia-a-dia, que só quando nos sentimos cansados ou ficamos doentes, esse ritmo acelerado se mostra pouco favorável para a nossa integridade física e emocional.

As férias estão aí, e o seu ritmo continua o mesmo: "Para onde vamos agora? O que temos que fazer hoje?"

Muitas vezes podemos sentir que ainda não chegamos onde deveríamos estar, que o tempo está passando e não conseguimos acompanha-lo bem. Cumprimos uma lista de atividades pendentes, e logo aparecem outras, em pouco tempo. Certas coisas se repetem todos os dias, todo mês, a cada semestre.

É importante nos perguntarmos sobre o motivo (por quê) e o sentido (para quê) de nosso ritmo acelerado, de nossa correria. Será realmente necessário correr o tempo todo? Quem sabe ao correr não estamos fugindo de algo ou alguém? Podemos estar fugindo de nós mesmos, de alguma verdade a nosso respeito, de responsabilidades conosco? Ou estamos correndo atrás de alguma coisa ?

Se estamos correndo por causa do mundo que nos exige isso, estamos condicionados pela pressa e pela falta de tempo. Correr não é um problema. Quando só fazemos isso, e tudo é realizado correndo, mesmo quando não existe uma demanda real, então é só uma questão de tempo, vamos ser obrigados a parar. E depois, recomeçar com um novo ritmo, talvez, mais adequado.

Como é o seu ritmo? É rápido, calmo, na maioria das vezes tem pressa, ou é devagar? Você costuma planejar todos os passos do que vai fazer, ou deixa as coisas seguirem o seu curso? Precisa controlar muitas coisas? São perguntas que ajudam a saber um pouco sobre o seu ritmo de lidar com as coisas.

Conseguimos fazer tudo que precisava naquele dia, ou só uma parte ? Será que não estamos nos iludindo, achando que temos tanta organização assim?

Podemos ter uma exigência grande demais, mais do que podemos. Queremos mostrar aos outros (ou a nós mesmos) que somos capazes de fazer milhares de coisas num mesmo dia, mesmo que isso sacrifique a nossa saúde.

Outra coisa que ajuda, é dar-se conta da velocidade e da quantidade de pensamentos durante o dia. Nossa mente é muito rápida, tem a velocidade da luz, nossa imaginação ultrapassa barreiras. Ficar ligado só na nossa cabeça, nos pensamentos, imaginação, só é bom até certo ponto. Deixando o corpo parado ou mal treinado é um risco, e não reconhecendo os limites físicos, não sabemos quando é hora de parar ou desacelerar.

Muita gente vive numa dualidade, onde ora a mente predomina, ora o corpo predomina. Fica complicado, o corpo faz parte de nós, tem uma sabedoria, não está errado ou atrasado. Ele exige atenção e cuidados, respeito e carinho do proprietário. Ele não é igual à mente, que já está a mil quilômetros de distância dele, ou no momento seguinte dali.

A questão principal é focar a atenção, a consciência, no momento presente, pois é aqui que nos encontramos. No presente temos a pressa, a antecipação do futuro, o coração acelerado, a respiração tensa e curta, as unhas roídas, a preocupação e exigência de nós mesmos.

Consciência do próprio corpo, e não apenas trabalhar o corpo, é o que conta. Não é simplesmente fazer ginástica, trabalhar os músculos, pedalar na ergométrica enquanto lemos o jornal. É preciso usar a percepção que temos de nós mesmos para incluir o corpo, conhecer o seu ritmo, as suas capacidades, os seus limites, o que ele quer nos mostrar. A psicoterapia pode ajudar a fazer essa integração dos sentimentos e sensações físicas à consciência, ela é um caminho. A meditação, buscar relações e interesses novos, ir contra os condicionamentos, evitando seguir sempre o mesmo “caminho” conhecido, entre outras práticas, podem ser bem úteis para que estejamos mais presentes no aqui-agora.

Podemos reconhecer que as situações onde estamos são abertas às nossas escolhas, em todos os momentos, e não somos meros espectadores da vida, nem escravos de uma vida homogênea e estática.

Feliz Páscoa

Nesse feriado de Páscoa, durante uma viagem, tive a sorte de encontrar uma senhora, que me disse algumas coisas bem importantes sobre relacionamentos, das quais não me esqueço, e que considero valiosas para compatilhar. Ei-las:
  • Disfrute da sua individualidade, tenha momentos só para você mesmo(a), de solidão. Respeite a necessidade do outro de também ficar sozinho, ou com os(as) amigos(as). 
  • Não deixe que sua felicidade dependa apenas da companhia da pessoa amada, ou da atenção do outro para você.
  • Seja parceiro(a), esteja junto, fique próximo, seja uma boa companhia. A chave para bons relacionamentos é a parceria.
  • Tenham planos para o futuro juntos, façam projetos juntos.
  • Sinta-se responsável pelo que você faz, com você e com o outro. 
  • Não faça promessas, simplesmente realize coisas.
  • Agradeça sempre, por tudo. 
  • Não seja preguiçoso.
  • Não critique o outro. 
  • Observe os seus pensamentos e sentimentos.

Sobre a Psicoterapia

Sobre a Psicoterapia – Antonio Vaszken

Muita gente quando ouve falar em psicoterapia pode imaginar erroneamente uma situação onde alguém está prestes a ficar desequilibrado mentalmente, ou alguém precisa ser controlado na agressividade, na desobediência, rebeldia, ou ainda tornar alguém capaz de seguir um tipo de padrão. Ninguém está na vida para ser controlado, dirigido, impedido de ser livre, ou posto num lugar onde não lhe pertence.

Na verdade, vivemos nossas vidas durante muito tempo sem ter a noção daquilo que estamos sentindo, de quais coisas gostamos, do por quê precisamos de algumas relações, ou por quê não nos sentimos do jeito que achamos que deveríamos.

Isso acontece por estarmos olhando para nós mesmos a partir de um referencial comparativo, e meramente externo, onde esperamos encontrar respostas sobre essas perguntas em outras pessoas – nos amigos, pais, família, colegas – ou na cultura, quer seja observando comportamentos de outros grupos, ouvindo falar como deveriam ser as coisas, etc.

Essa maneira de ver é baseada no senso comum, onde as pessoas devem se comportar de uma maneira correta ou normal. Em geral, vemos que não somos nós quem temos problema, são os outros que não atendem às nossas expectativas.

A psicologia tem várias linhas de pensamento e métodos de trabalho como a Psicanálise, Cognitivo Comportamental, Existencialista, Transpessoal. De uma maneira geral, são baseadas em visões de ser-humano e de saúde. Essas visões, que podem ser parecidas ou distintas entre si, formam a base que o psicólogo se utiliza para tratar os pacientes. Tais fundamentos, e mais o treinamento que se tem para lidar com o discurso e as questões da vida dos pacientes, já servem como auxílio para que possa ocorrer um processo de auto-conhecimento.

Apesar disso, muitos pacientes (ou clientes, como alguns costumam chamar) ainda questionam os psicólogos quando estes são ou parecem ser muito novos, e portanto, segundo o senso comum, inexperientes na vida e supostamente incapazes de cumprirem com a função de ajuda.

Trata-se de compreender que tal situação de profissional jovem não necessariamente implica em incapacidade, pois a competência profissional não depende exclusivamente da experiência de vida pessoal, mas sim do treinamento e formação que se obtém durante a faculdade e cursos de aperfeiçoamento.

O senso comum não se aplica dentro do contexto terapêutico, ainda que ele esteja presente em questões pessoais do paciente. Porém, o psicólogo é treinado a não seguir esse senso comum, que diz aquilo que a estatística ou as médias populacionais dizem a respeito do que é normal ou do que não é normal.

Ele tem como base outros fundamentos que dizem respeito àquilo que mais se aproxima da realidade psíquica dos pacientes, ou seja, do ponto de vista dos pacientes a respeito da sua própria existência. De uma maneira resumida, o que faz com que nos comportemos de uma ou de outra maneira é como vemos e compreendemos a nós mesmos e o mundo que nos rodeia. O psicólogo tem uma função terapêutica de compreender como é a visão de mundo e de si mesmo do seu paciente, sem julgamentos, sem dizer se ele está certo ou errado.

Por exemplo, se uma paciente tem dificuldade de relacionamento com os pais, onde eles vivem criticando suas escolhas e atitudes, e ela vive se queixando da cobrança deles, etc, o senso comum diria o que? Que uma das pessoas está errada, que ou os pais devem mudar, ou a pessoa deve mudar, pois alguém ou alguma coisa está errada. Então, é preciso mudar o comportamento, ou dar alguns conselhos para fazer com que o paciente mude de atitude, mude de valores. Ou então ajuda-lo a conviver com os pais de uma maneira mais realista.

Saindo do senso comum, o psicólogo não julga e não critica, e só isso já é uma grande coisa, pois o paciente não se sente cobrado, e pode perceber se ele mesmo não está se julgando e criticando, mais até do que os outros possam estar fazendo. Um dos objetivos mais importantes, senão o mais importante da psicoterapia, é fazer cada pessoa se sentir e saber que é responsável por sua própria existência. Nesse caso específico citado, o paciente precisa escolher o que ele quer fazer da sua vida, se ele vai continuar dependendo dos pais, da opinião deles, descobrir do que ele gosta e o que quer para que sua existência seja mais plena e completa. Por que, por exemplo, ele escolheu usar drogas? Será que as drogas são a única coisa boa na vida, ou existem outras maneiras de se sentir bem consigo mesmo? Será que suas relações não estão fazendo com que ele se afaste das pessoas, por motivos pessoais? É assim que costuma trabalhar um terapeuta em um caso como este. Fazer a própria pessoa perceber todos os aspectos da sua vida, de que maneira a pessoa se coloca nas diversas situações da vida.

A função de tentar controlar a vida dos outros não é saudável para nenhuma das partes. Talvez durante a fase onde a criança precisa de modelos a seguir, precisa que lhe digam o que é certo e errado, o que fazer em certas situações, isso possa ser um tipo de controle. Depois, o que acontece é que cada pessoa passa a ser controlada por seus próprios pensamentos, crenças, condicionamentos, e nem sempre percebe-se responsável por sua própria maneira de viver a vida.

O paradigma, ou modelo que se tem no senso comum é o de controle: controle de si mesmo, controle da vida, controle dos outros, em alguns casos. Os pais querem controlar os filhos, fazer com que eles sejam mais educados e inteligentes, que estudem mais, e prestem atenção na escola. Alguém que nunca fez terapia antes quando criança, e chega num consultório de psicologia em idade adulta, cheio de dúvidas e questionamentos, pode sentir em algum momento que será controlado pelo terapeuta, ou sem perceber pode tentar controla-lo. Ou então quem chega com um problema específico, quer uma resposta e solução rápidas, quer saber como controlar o próprio comportamento, os sentimentos, as ações.

Essa visão de controle que existe no senso comum e na vida cotidiana não se aplica dentro dos consultórios, mesmo nos casos onde seja exigido um rigoroso acompanhamento do paciente, em casos de álcool e drogas, ou em compulsões e estados emocionais patológicos graves. O que existe é um acompanhamento rigoroso, que leva em conta cada movimento, comportamento, pensamento, para que assim o paciente possa perceber clara e mais facilmente tudo o que acontece com ele, e tenha mais oportunidade de escolher mudar.

Finalizando, gostaria de deixar clara a distinção entre a maneira pela qual se vive no dia a dia, que é uma maneira onde o controle, o julgamento, o medo e o engano podem estar presentes. E a maneira de estar presente no consultório de um psicólogo ou terapeuta, que não julga, não controla o comportamento do paciente, não usa o medo ou o engano como motivação para o paciente. Busca a autenticidade, ser verdadeiro consigo e com este, tentando esclarecer tudo o que se passa dentro de cada pessoa que está na sua frente.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ESPIRITUALIDADE

Ser-Humano e Robôs

Hoje em dia não usamos muito o termo "robô". Tal palavra era usada nos anos 60 ou 70, e acredito que até um pouco depois. Hoje em dia ouvimos "ciborgue", que significa "cybernetic organism" ou organismo cibernético, no caso de filmes como "Exterminador do Futuro". Atualmente já se trabalha com o conceito de Inteligência Artificial, que é uma realidade concreta, cada vez mais avançada. O quociente de inteligência de tais máquinas vai aumentando a cada ano. Enquanto os cérebros eletrônicos não forem construídos e montados de maneira semelhante ao nosso cérebro humano, principalmente levando em conta a estrutura neuronal, parece que não temos muito com o que se preocupar. O sistema binário de zeros e uns ainda é distante do sistema neuronal e de redes com o qual nosso cérebro parece funcionar.

Conforme a visão a respeito do futuro e da própria realidade social e tecnológica vai mudando, menos otimista é a perspectiva. Fazemos os robôs e cérebros eletrônicos à nossa imagem, ou seja, procuramos replicar a nossa maneira de pensar, perceber e compreender o mundo aplicada às criaturas robóticas e às criações de inteligência artificial. O computador é uma tecnologia atualmente interativa, e mesmo que não tenha inteligência do mesmo grau da humana, é uma tentativa de criar um espaço interativo e inteligível sem a necessidade da presença de outro ser humano.

Sendo a inteligência artificial (IA) uma criação humana, projetamos nela as nossas inseguranças, pensamentos e maneiras de perceber o mundo. No caso específico da relação IA x Homem, o que percebemos? A IA é vista pela ficção científica e pela ciência de cunho mais crítico uma grande ameaça à própria humanidade. Já estamos esperando que chegue o dia em que as máquinas e robôs substituam os humanos nas decisões corporativas. Já se observa uma subtituição de trabalho humano braçal por trabalho robótico em fábricas e em processos de produção em série, por exemplo. O ser humano não é mais páreo para o computador no xadrez, o campeão mundial de xadrez perdeu várias partidas para um supercomputador. Será que teremos também uma revolução dos robôs contra os humanos, como visto no filme “Exterminador do Futuro” ou “Eu, Robô”?

Se continuarmos a nos relacionar com a natureza, nosso criador, seja ele o que for, de uma maneira destruidora, é altamente provável que também estaremos criando seres que sejam capazes de nos destruir, como máquinas altamente inteligentes e perigosas.

Alguma alternativa menos ameaçadora à vista? Sugiro uma mudança na consciência humana. Se cada vez mais pessoas puderem enxergar que somos criaturas criadas por uma força criativa, e pararem de tentar controlar e lutar contra tal força, de uma maneira imatura e mesquinha, é possível que, além de melhorar a condição do nosso planeta, também enxerguemos a IA de uma maneira bem menos ameaçadora, dando a ela uma finalidade cooperativa e não meramente competitiva. Para isso é preciso enxergar o mundo, os outros e a natureza de uma forma diferente da que é vista agora pela ciência contemporânea.

Da mesma forma que a espiritualidade assume que existe uma forma de consciência superior presente em todas as formas de vida, e que o ser humano é uma criatura de tal forma superior, e nem por isso precisa controlar totalmente todas as características e qualidades manifestas e potenciais, mas sim respeitar o vasto campo de habitantes mundanos; então podemos construir, programar inteligências artificiais com leis semelhantes.

As 3 leis da robótica, de Isaac Asimov já deu uma grande contribuição nesse campo.

Abaixo, as 3 Leis da Robótica, da Wikipedia:
" As Três Leis da Robótica são leis que foram elaboradas pelo escritor Isaac Asimov em seu livro de ficção I, Robot ("Eu, Robô") que dirigem o comportamento dos robôs. São elas:
  • 1ª lei: um robô não pode fazer mal a um ser humano e nem, por inacção, permitir que algum mal lhe aconteça.
  • 2ª lei: um robô deve obedecer às ordens dos seres humanos, excepto quando estas contrariarem a primeira lei.
  • 3ª lei: um robô deve proteger a sua integridade física, desde que com isto não contrarie as duas primeiras leis.
Mais tarde foi introduzida uma "lei zero": um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inacção, permitir que ela sofra algum mal. Desse modo, o bem da humanidade é primordial ao dos indivíduos.
A chamada lei zero, porém, tem o sério problema de transferir ao robô o poder (possibilidade) de avaliar, diante das situações concretas, se o interesse da humanidade se sobrepõe ao interesse individual. Tal possibilidade abre uma perigosa brecha para a ditadura das máquinas, que elegeriam por si qual é o bem maior, sendo-lhe permitido, inclusive, fazer o mal a um ser humano (indivíduo), caso entendam que isso é melhor para a humanidade. Por essa razão, a chamada lei zero da robótica é questionada e sua existência não é um consenso."

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Experiências Holotrópicas

O termo "holotrópico" foi criado por Stanislav Grof para diferenciar os estados alterados de consciência comumente conhecidos pela medicina e psiquiatria acadêmicas, dos estados ampliados de consciência. Esses últimos, objetos de suas pesquisas, podem ser denominados holotrópicos, quando apresentam uma alteração qualitativa de consciência, no sentido de disponibilizar conhecimentos intuitivos e de arquétipos do inconsciente coletivo, que proporcionem auto-conhecimento genuíno e transformador.

No modo holotrópico, ao contrário dos estados simplesmente alterados, não ocorre desorientação espaço-temporal. A pessoa sabe exatamente quem ela é, onde está, e além disso tem acesso a conteúdos simbólicos e não-verbais, dos tipos biográficos, perinatais e transpessoais, com riqueza de detalhes, físicos e emocionais. É capaz de reviver as experiências do seu passado ou mesmo se transportar para uma outra dimensão, sem perder o contato com a realidade concensual.
Os estados alterados (tais como embriaguez alcoólica, intoxicação neurológica e/ou química por drogas e doenças degenerativas), nem sempre são estados ampliados de consciência (tais como estados meditativos profundos com o uso ou não de drogas psicoativas, experiências de pico, exp. de quase morte, transes hipnóticos, transes xamânicos, emergências espirituais espontâneas ou provocadas, etc.).
Em função de as experiências e os estados holotrópicos não serem encarados como "normais" pela medicina ortodoxa, muitas vezes são confundidos com psicoses ou surtos. Se faz necessária uma experiência pessoal daquele profissional de saúde que tenha a intenção de compreender e trabalhar com os estados alterados de consciência, para que possa reconhecer e diferenciar imediatamente um surto psicótico de uma experiência holotrópica ou espiritual genuína. Muitas vezes quando mal diagnosticados, tais tipos de experiências holotrópicas ou espirituais, talvez possam se tornar psicoses, caso não se permita a manifestação e vivência plenas dos conteúdos inconscientes.
As experiências holotrópicas em geral, ocorrem em estados alterados de consciência, seguindo uma ordem ou prioridade. Conforme vamos nos aprofundando e avançando no processo de auto-conhecimento, mais nos aproximamos das experiências transpessoais.

Holotrópico vem do grego "holos" e "trepein", que quer dizer em direção à totalidade, orientado à totalidade. É um tipo de alteração de consciência onde se alcança uma ampliação das capacidades de percepção, pensamento, intuição, memória. Através dessa ampliação é possível acessar um modo onde uma sabedoria ou "radar interno" guia um processo de cura pessoal.
De uma maneira resumida e sintética, temos cinco tipos de experiências, a partir de observações de sessões de Respiração Holotrópica (MR):

0. Experiências estéticas e de padrões geométricos, com os olhos abertos ou fechados, visualização de cores. Tais padrões visuais e estéticos não contém nenhum significado ou sentido, servem apenas para sinalizar a entrada da consciência em um estado ampliado.
1. Experiências físicas, vivências de traumas físicos (operações, cirurgias, acidentes), tensões físicas, couraças musculares. O corpo é o meio mais facilmente acessado, em primeiro lugar, através dessa e de outras práticas com a respiração. Através do contato com os traumas, tensões e couraças musculares, ocorre uma auto-consciência corporal, e a partir daí, consciência de si mesmo, das emoções e pensamentos, que se podem (ou não) se manifestar em conjunto com as experiências físicas.

2. Experiências da vida após o nascimento, traumas psicológicos, experiências de infância até os dias atuais, fantasias inconscientes. Não são apenas lembranças, mas revivências, onde todos os dados sensoriais podem ser revividos: sensações físicas (cores, cheiros, gostos, sons), além dos sentimentos e emoções. A revivências dessas experiências permite uma compreensão da totalidade, até então incompleta para o sujeito.

3. Experiências perinatais, relacionadas com a gestação até o nascimento biológico. São alguns dos tipos de experiências mais ricas, intensas e fascinantes que se pode experienciar. Podem ser extremamente agradáveis ou intensamente desagradáveis, ou intermediárias; mexem profundamente com a nossa compreensão a respeito de quem somos, de onde viemos, para onde vamos, e onde estamos, pois lidam com as questões fundamentais da existência (vida, morte, finitude, dor, culpa, sexualidade, agressividade, amor).

Experiências perinatais (peri = ao redor, próximo) e (natal = relativo ao nascimento): revivência do nascimento biológico, sensações, sentimentos, impressões, alterações na percepção do ambiente, do próprio corpo e da realidade. Não limitam-se a uma mera regressão ao estado fetal. Em geral, a identificação com o feto é acompanhada de fortes emoções, muito mais intensas do que aquelas vividas na vida cotidiana, ainda que sejam bem conhecidas. Tais emoções atraem imagens de outras situações, verídicas e/ou fantasiosas, e arquetípicas, onde existe a identificação simultânea com outros grupos, em situações semelhantes às dificuldades enfrentadas pelo feto dentro do canal de parto. Revivendo tais detalhes, sob a nova perspectiva adulta, podemos compreender não só o nosso nascimento e vinda ao mundo, mas também as sensações e sentimentos mais instintivos que não são muito bem compreendidos pela mente racional, por possivelmente serem resquícios daquilo que experienciamos durante o nascimento, e que durante muito tempo ficaram sem o nosso conhecimento. Medo irracional e sem sentido, raiva, ansiedade, são alguns dos sentimentos que podemos reviver. Quando bebês, não temos linguagem para interpretar o que sentimos pela primeira vez durante o nosso parto, mas revivendo esses momentos primitivos, sob a perspectiva adulta, podemos compreender melhor o que sentimos.

4. Experiências transpessoais, de identificação com outras pessoas, outras espécies (animais, vegetais, minerais, processos da natureza), transcendência dos limites temporais e espaciais. Fazem parte do inconsciente coletivo. Não se restringem a imagens individuais ou pessoais, mas a símbolos coletivos, arquétipos, além de acesso a conhecimentos intuitivos a respeito de processos naturais, biológicos, modos de percepção de outras gerações, civilizações, espécies. O acesso a essas experiências não faz com que a pessoa fique permanentemente identificada com o aspecto coletivo, muito menos que ela deixe de ser ela mesma, por assim dizer. A percepção de uma expansão da própria identidade, de um campo mais individual para um campo mais vasto e coletivo, é em geral, muito positivo e libertador.
Pode-se concluir que segundo essa categorização, os traumas psicológicos são menos importantes do que traumas físicos. As experiências de infância, adolescência e da vida adulta são revividas, tanto experiências boas quanto as ruins. Temos uma tendência a focar em experiências ruins e negativas, mas as experiências boas também podem ser revividas, e assim, serem revisitadas sob uma nova perspectiva.