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Sobre a Psicoterapia

Sobre a Psicoterapia – Antonio Vaszken

Muita gente quando ouve falar em psicoterapia pode imaginar erroneamente uma situação onde alguém está prestes a ficar desequilibrado mentalmente, ou alguém precisa ser controlado na agressividade, na desobediência, rebeldia, ou ainda tornar alguém capaz de seguir um tipo de padrão. Ninguém está na vida para ser controlado, dirigido, impedido de ser livre, ou posto num lugar onde não lhe pertence.

Na verdade, vivemos nossas vidas durante muito tempo sem ter a noção daquilo que estamos sentindo, de quais coisas gostamos, do por quê precisamos de algumas relações, ou por quê não nos sentimos do jeito que achamos que deveríamos.

Isso acontece por estarmos olhando para nós mesmos a partir de um referencial comparativo, e meramente externo, onde esperamos encontrar respostas sobre essas perguntas em outras pessoas – nos amigos, pais, família, colegas – ou na cultura, quer seja observando comportamentos de outros grupos, ouvindo falar como deveriam ser as coisas, etc.

Essa maneira de ver é baseada no senso comum, onde as pessoas devem se comportar de uma maneira correta ou normal. Em geral, vemos que não somos nós quem temos problema, são os outros que não atendem às nossas expectativas.

A psicologia tem várias linhas de pensamento e métodos de trabalho como a Psicanálise, Cognitivo Comportamental, Existencialista, Transpessoal. De uma maneira geral, são baseadas em visões de ser-humano e de saúde. Essas visões, que podem ser parecidas ou distintas entre si, formam a base que o psicólogo se utiliza para tratar os pacientes. Tais fundamentos, e mais o treinamento que se tem para lidar com o discurso e as questões da vida dos pacientes, já servem como auxílio para que possa ocorrer um processo de auto-conhecimento.

Apesar disso, muitos pacientes (ou clientes, como alguns costumam chamar) ainda questionam os psicólogos quando estes são ou parecem ser muito novos, e portanto, segundo o senso comum, inexperientes na vida e supostamente incapazes de cumprirem com a função de ajuda.

Trata-se de compreender que tal situação de profissional jovem não necessariamente implica em incapacidade, pois a competência profissional não depende exclusivamente da experiência de vida pessoal, mas sim do treinamento e formação que se obtém durante a faculdade e cursos de aperfeiçoamento.

O senso comum não se aplica dentro do contexto terapêutico, ainda que ele esteja presente em questões pessoais do paciente. Porém, o psicólogo é treinado a não seguir esse senso comum, que diz aquilo que a estatística ou as médias populacionais dizem a respeito do que é normal ou do que não é normal.

Ele tem como base outros fundamentos que dizem respeito àquilo que mais se aproxima da realidade psíquica dos pacientes, ou seja, do ponto de vista dos pacientes a respeito da sua própria existência. De uma maneira resumida, o que faz com que nos comportemos de uma ou de outra maneira é como vemos e compreendemos a nós mesmos e o mundo que nos rodeia. O psicólogo tem uma função terapêutica de compreender como é a visão de mundo e de si mesmo do seu paciente, sem julgamentos, sem dizer se ele está certo ou errado.

Por exemplo, se uma paciente tem dificuldade de relacionamento com os pais, onde eles vivem criticando suas escolhas e atitudes, e ela vive se queixando da cobrança deles, etc, o senso comum diria o que? Que uma das pessoas está errada, que ou os pais devem mudar, ou a pessoa deve mudar, pois alguém ou alguma coisa está errada. Então, é preciso mudar o comportamento, ou dar alguns conselhos para fazer com que o paciente mude de atitude, mude de valores. Ou então ajuda-lo a conviver com os pais de uma maneira mais realista.

Saindo do senso comum, o psicólogo não julga e não critica, e só isso já é uma grande coisa, pois o paciente não se sente cobrado, e pode perceber se ele mesmo não está se julgando e criticando, mais até do que os outros possam estar fazendo. Um dos objetivos mais importantes, senão o mais importante da psicoterapia, é fazer cada pessoa se sentir e saber que é responsável por sua própria existência. Nesse caso específico citado, o paciente precisa escolher o que ele quer fazer da sua vida, se ele vai continuar dependendo dos pais, da opinião deles, descobrir do que ele gosta e o que quer para que sua existência seja mais plena e completa. Por que, por exemplo, ele escolheu usar drogas? Será que as drogas são a única coisa boa na vida, ou existem outras maneiras de se sentir bem consigo mesmo? Será que suas relações não estão fazendo com que ele se afaste das pessoas, por motivos pessoais? É assim que costuma trabalhar um terapeuta em um caso como este. Fazer a própria pessoa perceber todos os aspectos da sua vida, de que maneira a pessoa se coloca nas diversas situações da vida.

A função de tentar controlar a vida dos outros não é saudável para nenhuma das partes. Talvez durante a fase onde a criança precisa de modelos a seguir, precisa que lhe digam o que é certo e errado, o que fazer em certas situações, isso possa ser um tipo de controle. Depois, o que acontece é que cada pessoa passa a ser controlada por seus próprios pensamentos, crenças, condicionamentos, e nem sempre percebe-se responsável por sua própria maneira de viver a vida.

O paradigma, ou modelo que se tem no senso comum é o de controle: controle de si mesmo, controle da vida, controle dos outros, em alguns casos. Os pais querem controlar os filhos, fazer com que eles sejam mais educados e inteligentes, que estudem mais, e prestem atenção na escola. Alguém que nunca fez terapia antes quando criança, e chega num consultório de psicologia em idade adulta, cheio de dúvidas e questionamentos, pode sentir em algum momento que será controlado pelo terapeuta, ou sem perceber pode tentar controla-lo. Ou então quem chega com um problema específico, quer uma resposta e solução rápidas, quer saber como controlar o próprio comportamento, os sentimentos, as ações.

Essa visão de controle que existe no senso comum e na vida cotidiana não se aplica dentro dos consultórios, mesmo nos casos onde seja exigido um rigoroso acompanhamento do paciente, em casos de álcool e drogas, ou em compulsões e estados emocionais patológicos graves. O que existe é um acompanhamento rigoroso, que leva em conta cada movimento, comportamento, pensamento, para que assim o paciente possa perceber clara e mais facilmente tudo o que acontece com ele, e tenha mais oportunidade de escolher mudar.

Finalizando, gostaria de deixar clara a distinção entre a maneira pela qual se vive no dia a dia, que é uma maneira onde o controle, o julgamento, o medo e o engano podem estar presentes. E a maneira de estar presente no consultório de um psicólogo ou terapeuta, que não julga, não controla o comportamento do paciente, não usa o medo ou o engano como motivação para o paciente. Busca a autenticidade, ser verdadeiro consigo e com este, tentando esclarecer tudo o que se passa dentro de cada pessoa que está na sua frente.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ESPIRITUALIDADE

Ser-Humano e Robôs

Hoje em dia não usamos muito o termo "robô". Tal palavra era usada nos anos 60 ou 70, e acredito que até um pouco depois. Hoje em dia ouvimos "ciborgue", que significa "cybernetic organism" ou organismo cibernético, no caso de filmes como "Exterminador do Futuro". Atualmente já se trabalha com o conceito de Inteligência Artificial, que é uma realidade concreta, cada vez mais avançada. O quociente de inteligência de tais máquinas vai aumentando a cada ano. Enquanto os cérebros eletrônicos não forem construídos e montados de maneira semelhante ao nosso cérebro humano, principalmente levando em conta a estrutura neuronal, parece que não temos muito com o que se preocupar. O sistema binário de zeros e uns ainda é distante do sistema neuronal e de redes com o qual nosso cérebro parece funcionar.

Conforme a visão a respeito do futuro e da própria realidade social e tecnológica vai mudando, menos otimista é a perspectiva. Fazemos os robôs e cérebros eletrônicos à nossa imagem, ou seja, procuramos replicar a nossa maneira de pensar, perceber e compreender o mundo aplicada às criaturas robóticas e às criações de inteligência artificial. O computador é uma tecnologia atualmente interativa, e mesmo que não tenha inteligência do mesmo grau da humana, é uma tentativa de criar um espaço interativo e inteligível sem a necessidade da presença de outro ser humano.

Sendo a inteligência artificial (IA) uma criação humana, projetamos nela as nossas inseguranças, pensamentos e maneiras de perceber o mundo. No caso específico da relação IA x Homem, o que percebemos? A IA é vista pela ficção científica e pela ciência de cunho mais crítico uma grande ameaça à própria humanidade. Já estamos esperando que chegue o dia em que as máquinas e robôs substituam os humanos nas decisões corporativas. Já se observa uma subtituição de trabalho humano braçal por trabalho robótico em fábricas e em processos de produção em série, por exemplo. O ser humano não é mais páreo para o computador no xadrez, o campeão mundial de xadrez perdeu várias partidas para um supercomputador. Será que teremos também uma revolução dos robôs contra os humanos, como visto no filme “Exterminador do Futuro” ou “Eu, Robô”?

Se continuarmos a nos relacionar com a natureza, nosso criador, seja ele o que for, de uma maneira destruidora, é altamente provável que também estaremos criando seres que sejam capazes de nos destruir, como máquinas altamente inteligentes e perigosas.

Alguma alternativa menos ameaçadora à vista? Sugiro uma mudança na consciência humana. Se cada vez mais pessoas puderem enxergar que somos criaturas criadas por uma força criativa, e pararem de tentar controlar e lutar contra tal força, de uma maneira imatura e mesquinha, é possível que, além de melhorar a condição do nosso planeta, também enxerguemos a IA de uma maneira bem menos ameaçadora, dando a ela uma finalidade cooperativa e não meramente competitiva. Para isso é preciso enxergar o mundo, os outros e a natureza de uma forma diferente da que é vista agora pela ciência contemporânea.

Da mesma forma que a espiritualidade assume que existe uma forma de consciência superior presente em todas as formas de vida, e que o ser humano é uma criatura de tal forma superior, e nem por isso precisa controlar totalmente todas as características e qualidades manifestas e potenciais, mas sim respeitar o vasto campo de habitantes mundanos; então podemos construir, programar inteligências artificiais com leis semelhantes.

As 3 leis da robótica, de Isaac Asimov já deu uma grande contribuição nesse campo.

Abaixo, as 3 Leis da Robótica, da Wikipedia:
" As Três Leis da Robótica são leis que foram elaboradas pelo escritor Isaac Asimov em seu livro de ficção I, Robot ("Eu, Robô") que dirigem o comportamento dos robôs. São elas:
  • 1ª lei: um robô não pode fazer mal a um ser humano e nem, por inacção, permitir que algum mal lhe aconteça.
  • 2ª lei: um robô deve obedecer às ordens dos seres humanos, excepto quando estas contrariarem a primeira lei.
  • 3ª lei: um robô deve proteger a sua integridade física, desde que com isto não contrarie as duas primeiras leis.
Mais tarde foi introduzida uma "lei zero": um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inacção, permitir que ela sofra algum mal. Desse modo, o bem da humanidade é primordial ao dos indivíduos.
A chamada lei zero, porém, tem o sério problema de transferir ao robô o poder (possibilidade) de avaliar, diante das situações concretas, se o interesse da humanidade se sobrepõe ao interesse individual. Tal possibilidade abre uma perigosa brecha para a ditadura das máquinas, que elegeriam por si qual é o bem maior, sendo-lhe permitido, inclusive, fazer o mal a um ser humano (indivíduo), caso entendam que isso é melhor para a humanidade. Por essa razão, a chamada lei zero da robótica é questionada e sua existência não é um consenso."

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Psicologia Transpessoal e Stanislav Grof

A Psicologia Transpessoal visa integrar os conceitos da ciência ocidental com as filosofias orientais. Considera a espiritualidade um aspecto fundamental do humano, sem a qual pode-se viver de uma maneira bastante doente, tanto individual quanto coletivamente.

De uma maneira geral, o que a Transpessoal tem a trazer de novo é uma noção de que o ser humano é multi-determinado. Não somos apenas aquilo que a nossa história pessoal nos moldou , nem somos apenas o que o ambiente nos condicionou. Também não somos apenas seres que tem instintos, valores, crenças, razão e emoção, e que vivem numa luta constante em busca de equilíbrio. Somos tudo isso, sem dúvida!

Somos também seres que estão ligados a uma inteligência ou consciência muito maior e mais complexa do que a humana. O que também nos determina ou influencia é uma ligação com essa consciência. Tal conexão não é condicionada por nossa criação ou educação. A ausência de sentimento de tal conexão pode levar uma pessoa a se tornar viciada em substâncias tóxicas, em comportamentos obsessivos, a ser extremamente ansiosa, entre outras coisas.

Fazemos parte de um contexto maior do que o humano. Somos parte de um ecossistema de seres que também são dotados de consciência, como os animais, plantas, processos físicos e químicos dos quais muitas vezes não temos o conhecimento de como ou por quê acontecem. 


Essa visão ampliada está cada vez mais se mostrando verdadeira e cientificamente comprovada, ao mesmo tempo que modifica ligeiramente aquilo que se entende por rigor científico. Aquilo que antes era considerado impossível de ser replicado, atualmente é mais aceito de ser incluído na lista do que se compreende como Ciência. Por exemplo, experiências místicas ou religiosas com potencial curativo, e integrador. Estudos sobre paranormalidade, levando em conta aspectos qualitativos, que ultrapassam e ampliam a zona de normalidade previamente estabelecida.

Espiritualidade não é o mesmo que religião, não segue doutrinas e não necessita de templos. Seus parâmetros de saúde e bem-estar são ampliados, no sentido de ver o ser humano um ser capaz de se auto-realizar e ter acesso a experiências transcendentes, profundas e transformadoras.


A seguir alguns conceitos da visão transpessoal de Stanislav Grof: 
 
A consciência não se restringe ao Ego e ao inconsciente individual, não é restrito as experiências pessoais e fantasias inconscientes. Existem também os Domínios Perinatal e Transpessoal. Todos esses domínios são acessíveis a qualquer pessoa sem o uso de drogas, a partir de técnicas de meditação, de práticas de alteração de consciência. 


Tais domínios não seguem uma ordem linear rígida. Metaforicamente, cada nível representa uma oitava musical de causalidades, daquilo influencia o modo de estar no mundo. Nem todas as causas se restringem ao dominio biográfico, à história pessoal. Existem também causas perinatais e transpessoais, que operam ao mesmo tempo que as causas biográficas, a todo momento na vida das pessoas, não apenas em estados ampliados de consciência. Porém, a transformação e cura da consciência só acontece em estados ampliados da categoria holotrópica.

Há dois modos de consciência: Hilotrópico e o Holotrópico. Ambos são importantes e essenciais, nenhum é preferível em detrimento de outro.

O hilotrópico é o modo orientado para a matéria, a realidade material, tempo e espaço determinados na ordem cronológica, espaço tridimensional, corpo físico biológico. É a realidade vivida no cotidiano.

O modo holotrópico é um modo orientado para a totalidade, transcendência dos limites espaciais, temporais, de identidade individual. É a realidade experimentada nos estados ampliados de consciência, onde pode se vivenciar alteração da temporalidade (alteração da duração do tempo, expansão ou retração, voltar ou avançar no tempo), da espacialidade (expansão ou retração, perda de limites) e da identidade (identificação com outras pessoas, parentes próximos ou distantes, pessoas em outras épocas e lugares, identificação com arquétipos, entidades e seres de outras realidades, identificação com outros seres vivos - animais, vegetais e minerais, identificação com fenômenos da natureza, processos biológicos, consciência dos processos biológicos do próprio corpo de maneira precisa). 

Uma característica dos estados holotrópicos de consciência é que podemos experienciar do ponto de vista subjetivo aquilo que, no estado hilotrópico, são percebidos de maneira objetiva. Por exemplo, somos capazes de termos a experiência de sermos um animal, algum tipo de planta, um membro de outra cultura distante no tempo e no espaço, do ponto de vista deles. Nos tornamos e nos identificamos, sabemos e sentimos exatamente como é ser tal ente do mundo. 



Uma vida exclusivamente holotrópica pode ser um problema, as barreiras individuais podem se mostrar ilusórias, podemos nos identificar com outras coisas e pessoas (que no modo hilotrópico são vistas como objetos, mas no holotrópico são vivenciadas como sujeito), podemos perceber o tempo expandido ou retraído, o espaço alterado, podemos ficar muito mais sensíveis às situações e às outras pessoas. Ficamos incapazes de nos concentrarmos nas preocupações materiais, nas responsabilidades cotidianas, na rotina, até mesmo em nos alimentarmos ou nos lavarmos.

Viver apenas no modo hilotrópico significa viver uma vida sem muito sentido, pois nos vemos como seres que nascem, vivem, se alimentam, relacionam, trabalham e se reproduzem e morrem. Vivemos num mundo exclusivamente material, a consciência é mero produto do cérebro, de reações químicas e alterações de substâncias no corpo. Podemos lembrar do passado com relativa facilidade, planejar e fantasiar sobre o futuro, e estarmos presentes. Mas o tempo costuma ser uma mudança constante: o presente se tornando passado e do futuro se tornando presente. 

O importante é haver um equilíbrio entre os dois modos, saber estar com um pé em cada modo, alternar entre eles. Ficar preso ou estático em apenas um dos modos é estar doente. Estar preocupado apenas com as coisas materiais, possuir, consumir, arrumar, organizar, ganhar e acumular, por exemplo, pode fazer uma pessoa ser extremamente materialista, neurótica e incapaz de ver um sentido na vida sem possuir ou fazer as coisas que existem no mundo. Por outro lado, estar imerso no holotrópico, na dimensão numinosa da vida, sem conseguir lidar com os aspectos práticos da vida é complicado, e dificulta a continuidade da mesma.

O Eu: Processo ou Ilusão? - James F.T. Bugental (trechos)

Em Busca da Própria Identidade
 
Para muitos de nós, a experiência da perda de todos os o que de nossas vidas é equivalente à morte. O que fazemos é a expressão do nosso ser, a qual pode facilmente tornar-se a medida e a soma do nosso ser.
Vou esclarecer este ponto em poucas palavras. O "eu", que é o processo ativo da pessoa, é muito diferente do "me" ou "mim", que se compôe dos atributos que a pessoa possui. Por uma questão de conveniência, referir-me-ei ao Eu-processo, por um lado, e ao Eu-atributo (isto é, "me", "mim" ou "a mim"), por outro lado, que acredito serem aspectos muito distintos de cada um de nós (Bugental, 1965, Capítulos 11 e 12).
O Eu-processo é puro sujeito, puro processo e não tem qualidades substantivas intrínsecas. O eu-processo é o "fazedor" ativo e cônscio. O Eu-atributo é puro objeto, exclusivamente atributivo e substantivo. Não tem consciência, pois trata-se, simplesmente, de um construto por nós criado a partir das nossas experiências. Falamos impensadamente do "eu" e do "mim" como se fossem idênticos. Isto é uma falácia do mesmo tipo que confunde o motorista com seu carro.

Razões Para Distinguir o Eu-Processo do Eu-Atributo

A distinção é de enorme importância por muitas razões. Primeiro, quando as nossas identidades dependem do "mim" ou Eu-Atributo, somos passíveis de acabar vinculados ao passado. Segundo, o quadro objetivo de referência, que é o quadro do Eu-Atributo, é muito vulneável e, portanto, o nosso bem-estar pode correr perigo ou até ser derrubado pelas circunstâncias. Finalmente, a confusão dos aspectos subjetivos e objetivos do nosso ser tende a criar dificuldades nas relações interpessoais e a acarretar sentimentos de autoconfiança e amor-próprio diminuídos. Examinemos cada uma dessas considerações em maior detalhe.
Ao aspecto objetivo da pessoa chamamos o Eu-Atributo (self). Possivelmente, seríamos mais precisos se falássemos de um Eu-conceptual ou eu-Construto. É o Eu tal como o observamos. Assim como acabamos por formar um "conceito de mesa" pelo fato de vermos muitas mesas diferentes, também desenvolvemos um conceito de mim através de muitos anos de observação de eu mesmo.
Formamos gradualmente os nossos conceitos sobre que espécie de pessoa somos e, irrefletidamente, pressupomos ser essa a única maneira em que podemos ser. Assim, estar "dependente" de si mesmo é viver pelo seu passado em vez de viver a sua vida presente. O que é fresco passa despercebido ou, pior, é convertido no que é cediço e rançoso ; o que oferece nova oportunidade só é visto em termos familiares e rotineiros e o que liberta é confundido com mais outra restrição.
Em resumo, o Eu-Atributo é uma espécie de album de recortes onde guardamos tudo o que vimos de nossas vidas. Dota-nos com um sentimento de continuidade. É frequentemente útil quando se procede a escolhas automáticas e sem importância. É certamente bem recompensado pelas pessoas que nos cercam, porquanto constitui a base da coerência de comportamento que nos torna mais estáveis e compreensíveis aos olhos dos outros. (...)

O Eu-Atributo é valioso, mas só tem utilidade quanto a o que é, um registro de o que foi. Quando permitimos que se torne a base de determinação do presente, perdemos a nossa vitalidade e tornamo-nos enfadonhos, sem criatividade. Há um aforismo que diz "A estrutura é a secreção do processo." Eu gostaria de parafraseá-lo dizendo: "O Eu-atributo é a secreção do Eu-processo." (...)
Cumpre-me esclarecer aqui um assunto. Expressamos o nosso ser e as nossas identidades, por certo, através das nossas ações, mas essa expressão não é a mesma coisa que o nosso ser ou identidade. Sou eu quem está escrevendo este capítulo. Entretanto, o que escrevo aqui não é a minha identidade. Sou o processo de escrever - isto é, o processo de pensar, sentir, escrever, rever. Mas não sou apenas essas coisas nem sou o conteúdo específico de qualquer ou todas elas. isto não significa que não tenha responsabilidade pelo conteúdo do que digo. Tenho essa responsabilidade, mas, repito, essa responsabilidade não me define. Assim, se o processo de escrever estas palavras e de ver-me depois diante delas desafia algumas das minhas idéias, como espero que aconteça, poderei escrever algo diferente na próxima semana sem sentir por isso que a minha identidade está ameaçada. A razão reside no fato de eu ser um processo em desenvolvimento constante, não um processo que acontece uma vez e depois se imobiliza numa estrutura.
(trechos retirados do livro: Psicologia Existencial-Humanista - Thomas C. Greening, 1975, Rio de Janeiro, ZAHAR ED.)

Extraido de "Ken Wilber´s Spectrum Psychology - Stanislav Grof"

Neste trecho, Stanislav Grof rebate algumas críticas de Ken Wilber a respeito do conceito de perinatal. Ele explica que o perinatal não é uma mera revivência de um estado fetal em si mesmo, mas uma regressão de um adulto com todas as faculdades mentais, e personalidade, que passou por todos os estágios do desenvolvimento, e uma re-conexão com o cosmos. É um olhar adulto para as experiências fetais, que juntos formam um todo integrado.

Versão em português

(...) Ridicularizando a idéia de que a regressão ao útero promove insights místicos, Ken usa a imagem de um carvalho e de sua semente original. Ele argumenta que a regressão ao estado fetal não pode mediar um estado místico verdadeiro de união com o mundo, mais do que a união de um carvalho com suas folhas e raízes ou tornar-se um com a floresta, ao identificar-se com a semente original. De acordo com ele, a "união original", vista como o útero ou como a participação pré-histórica de culturas primitivas não é uma união, mas uma indiferenciação.(...)

(...) Expondo de uma maneira mais adequada a natureza das experiências perinatais e dos insights que eles mediam, o carvalho do exemplo de Ken teria de regredir até a sua semente original, e enquanto experienciar sua identidade carvalho/semente, tornar-se simultaneamente consciente de seu contexto inteiro que envolve o cosmos, natureza, o sol, o ar e a chuva. Também estaria associado com um senso de "imersão social" na floresta, descendo na linhagem de todos os carvalhos e sementes anteriores a ele, assim como seu desenvolvimento da semente até a forma do carvalho atual. Um importante aspecto de tal experiência seria a conexão com os arquétipos de Mãe Natureza ou Mãe Terra com a energia criativa e divina que permeia todas as formas.(...)

(...) De qualquer forma, Ken não compreende a natureza das experiências perinatais se ele as vê como nada além de uma repetição da experiência do feto. Sua principal crítica é que a regressão ao pre- e perinatal não podem trazer revelações sobre a existência, porque “o feto no útero não tem consciência do mundo total, da moral inter-subjetiva, artes, lógica, poesia, história e economia” (Wilber 1995, 775). Eu não vejo, porém, como isso pode fazer alguma diferença, uma vez que ao discutir as experiências perinatais, não estamos falando sobre o feto, mas de um adulto revivendo as experiências do feto. Tal regressão é vivida por uma pessoa com personalidade diferenciada e faculdades intelectuais que incluem e integram o desenvolvimento através dos fulcruns pós-natais. Essa quantidade enorme de informação não se perde durante a experiência regressiva, mas se torna parte integral dela. Certamente podemos conceber que os ENOC (estados não-ordinarios de consciência) facilitam uma nova integração criativa, de todas as estruturas com o domínio transpessoal, facilitando o desvelamento de novas estruturas. Mecanismos semelhantes exerceram um papel importante para revelações religiosas, assim como para descobertas científicas e inspirações artísticas.(Harman 1984)

English version

(...) To ridicule the idea that regression to the womb could convey genuine mystical insights, Ken uses the image of an oak and the acorn from which it came. He argues that the regression to the fetal state cannot any more mediate a true mystical union with the word than an oak can unify its leaves and branches or become one with the forest by identifying with the original acorn. According to him, the "original union," whether conceived as the actual womb or as the prehistorical participation mystique of primitive cultures is not a union, but an undifferentiation.(...)


(...) To more adequately portray the nature of perinatal experiences and the insights that they mediate, the oak of Ken's simile would have to regress to the original acorn and, while experiencing its oak/ acorn identity, become simultaneously aware of its entire (acorn and oak) environmental context involving the cosmos, nature, the sun, the air, the soil, and the rain. This would also be associated with a sense of its imbeddedhess in the forest and its descent from a line of preceding oak trees and acorns, as well as its entire development from the acorn to its present form. And an important aspect of such an experience would be its connection with the archetypes of Mother Nature or Mother Earth and with the creative divine energy that underlies all of the above forms.(...)

(...) In any case, Ken severely misunderstands the nature of perinatal experiences if he sees them as nothing but a replay of the actual experience of the fetus. His main objection is that regression to the pre- and perinatal state cannot convey any revelations about existence, because "the fetus in the womb is not aware of the whole world of inter-subjective morals, art, logic, poetry, history, and economics" (Wilber 1995, 755). I do not see, however, how this makes any difference, since in discussing perinatal experiences, we are not talking about the fetus, but about an adult who is reliving the experiences of the fetus. This regression is experienced by an individual with differentiated personality and intellectual faculties that include and integrate the development through all the postnatal fulcrums. This vast amount of information is not lost during the regressive experience and forms an integral part of it. It certainly is conceivable that the NOSC facilitates an entirely new creative integration of all structures with the transpersonal domain, thus facilitating the unfolding of still new structures. Similar mechanisms have played an important role not only in religious revelations, but also in many scientific discoveries and artistic inspirations (Harman 1984).