Google+ Psicologia Transpessoal e Fenomenologia Existencial

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Transpessoal, Transcendente, Sagrado, Espiritual, Intencionalidade...

Glossário:
awareness = estado de consciência, percepção
consciência = substantivo

Trecho traduzido por Antonio Vaszken, do livro:
"Phenomenological Inquiry in Psychology - Existential and Transpersonal Dimensions"
Edited by Ron Valle. 1998, Plenum Press, New York.

Capítulo: Awareness Transpessoal
Sub-item: Awareness Transpessoal / Transcendente

(...) Existem experiências ou certos tipos de "awareness", entretanto, que não parecem ser capturadas pelas reflexões fenomenológicas nas descrições das nossas conceitualmente reconhecidas e/ou pré-reflexivas experiências das coisas. Frequentemente apontadas como transpessoal, transcendente, sagrado, ou experiências espiritual, estes tipos de "awareness" não são exatamente "experiências", na maneira que normalmente dizemos, e nem são o mesmo que nossas sensações pré-reflexivas. A noção fenomenológica-existencial de intencionalidade é util para entendermos essa distinção.

Perceba que as palavras "transpessoal", "transcendente", "sagrado" e "espiritual" apresentam sutis diferenças. Por exemplo, "transpessoal" costuma se referir a toda experiência que é trans-egóica, incluindo tanto as realidades arquetípicas do inconsciente coltetivo de Jung quanto awareness trancendentes radicais. Enquanto que as noções de inconsciente coletivo se referem a estados mentais mais profundos ou além de nossa consciência de ego, "transcendente" se refere a uma completa soberania ou awareness de alma sem a menor tendência de se auto-definir em termos de qualquer coisa fora de si-mesmo, incluindo conteúdos da mente, sejam conscientes ou insconscientes, pessoais ou coletivos (awareness não só trans-egóica, mas trans-mental). Esta distinção entre awareness transpessoal e transcendente pode, de fato levar à emergência de uma "Quinta força" ou mais puramente, Psicologia Espiritual.

Voltando à psicologia fenomenológica-existencial, intencionalidade se refere à própria natureza ou essência da consciência, como ela se apresenta. Se diz que a consciência é intencional, querendo dizer que a consciência sempre contém um objeto, ou seja um objeto físico, outra pessoa, ou uma idéia ou sentimento. Consciência é sempre uma consciência de "algo" que não seja a consciência em si. Essa descrição / definição particular de intencionalidade implica diretamente a profunda, implícita interelação entre percebedor e o que é percebido, que caracteriza a consciência nessa abordagem. É essa inseparabilidade que nos permite, através da reflexão disciplinada (rigorosa), iluminar o significado que estava antes implícito e sem-linguagem para nós na situação vivida.

Awareness transpessoal / transcendente, por outro lado, parece de alguma maneira "a priori" desse domínio reflexivo / pré-reflexivo, se apresentando mais como um espaço ou chão de onde emergem nossas experiências comuns e senso-perceptivas. Esse espaço ou contexto se apresenta nessa awareness, entretanto, e é desse modo conhecida para quem a experiencia. Implícita nessa awareness, além disso, está a direta e inegável realização que este fundamental espaço não é do campo fenomenal do percebedor e do percebido. Ao invés disso, é numinoso, espaço unitivo de / para onde a consciência intencional e a experiência fenomenal, ambas se manifestam.

Pessoalmente, vim a reconhecer as seguintes 6 qualidades ou características da awareness transpessoal / transcendente (frequentemente através da meditação). (de "A Beggining Phenomenology of Transpersonal Experience"; Valle, 1989, pp 258-259)

1) Existe uma quietude e paz que sinto existirem como tais e, ao mesmo tempo, como "fundo" de todos os pensamentos, emoções ou sensações (corporais e outras) que podem surgir / emergir ou cristalizarem-se em ou vindo dessa quietude. Experiencio isto como um "é" (isness) ou "sou" (amness), o invés de um estado de "coisa" (whatness) ou "Eu sou isto ou aquilo". Esta paz é, pela sua própria natureza, nem ativa nem corporal. E é assim, anterior aos níveis pré-reflexivos e reflexivos da consciência.

2) Existe, penetrando em tudo, uma aura ou sentimento de amor por e contentamento com tudo o que existe, um sentimento que está simultaneamente na minha mente e no meu coração. Embora seja raramente forcada como um desejo específico por qualquer pessoa ou coisa, ele é em grande parte experienciada como uma energia interna intensa o "pressão" inspirada que anseia, e até "brada", por uma expressão criativa e apaixonada. Sinto uma inclusão de todos e de tudo do jeito que eles são, o que literalmente se funde numa paz profunda quando me vejo capaz de simplesmente "deixar tudo ser". Paz de espírito é, nesse caso, paz de coração.

3) Existindo como ou com a paz e amor, há uma diminuta e ausente sensação de Eu. O senso comum de "Eu estou pensando ou sentindo isso ou aquilo" se torna uma presença plena de "Eu sou", ou apenas, quando é numa forma mais intensa, um "Sou" (puro Ser no sentido Heideggeriano). O senso de "observador" e "aquilo que é observado" se dissolveu, pois já não há "aquele" para perceber como normalmente experienciamos essa identidade e relação.

4) Meu senso normal de espaço parece transformado. Não existe mais a sensação de "estar ali", de se estender e ocupar um espaço, mas, parecido ao item anterior, apenas Ser. Também, há uma perda da consciência do meu corpo enquanto uma coisa ou recipiente espacial. Esta perda alcança desde a experiência de distância das entradas sensoriais, até um esquecimento da existência do próprio corpo. É aqui que a minha sensação limitada de espaço corporal toca a sensação de infinito.

5) O tempo também é um pouco diferente do meu senso cotidiano de tempo linear. Tanto quanto o corpo é esquecido, não há pensamentos lutando no passado, nem indo para o futuro, horas de tempo linear são vividas como um momento, como o eterno Agora.

6) Explosões ou flashes de insights são partes frequentes dessa consciência, insights que não têm percebedor ou antecedentes conhecidos, mas que emergem como "total-emergente". Esses insights ou "visões" intuitivas contém algumas qualidades das experiências comuns (embora "mais leves", têm um senso de peso ou "conteúdo sutil"), mas inicialmente tem uma qualidade "outro que não eu" sobre elas.

Conforme fui reconhecendo tais qualidades ou dimensões no decorrer dos anos, passei a recontextualizar o conceito de intencionalidade da fenomenologia-existencial, ao incluir um campo de awareness que parecem ser inclusivos da naturueza intencional da mente, mas ao mesmo tempo, não o são. Pareceu-me necessário colocar uma "trans-intencionalidade" que aponta para essa consciência sem um objeto (Merrel-Wolff,1973). Percebi logo, como minha colega Steen Halling (comunicadora social) corretamente me apontou, que a consciência sem objeto é também consciência sem sujeito, e que consciência trans-intencional representa uma maneira de ser onde a separação de um observador e aquilo que é observado se dissolve, uma realidade de não (ou de algum modo, além) tempo, espaço e causalidade como normalmente a conhecemos.

Essa, para mim, é a ponte entre as abordagens humanistica/existencial e transcendente/transpessoal na psicologia, pois é aqui que se é chamado a reconhecer a distinção radical entre o campo reflexivo/pre-reflexivo e a pura consciência, entre processo racional/emotivo e awareness transcendente/espiritual, entre conhecimento intencional do finito e ser o infinito. Assim, a mente, e não a consciência por si, que se caracteriza pela intencionalidade, e é a nosso reconhecimento da natureza trans-intencional do Ser que nos chama a investigar essas experiências que claramente refletem ou apresentam essas dimensões transpessoais/transcendentes no explícito contexto dos métodos de pesquisa fenomenológicos.

Awareness não é compreensão, mas estar consciente de algo. Terapia Gestalt : o método e objetivo de sua terapia é a awareness.

AWARENESS

Na psicologia biológica, awareness descreve uma percepção de humanos ou de animais, assim como uma reação cognitiva a uma condição ou a um evento. Awareness não implica em compreensão, mas apenas na habilidade de se estar consciente de algo, sentir ou perceber. É um conceito relativo. Um animal pode ser parcialmente consciente, pode ser subconsciente, ou ser extrememente consciente de um evento. 

Awareness pode ser focada em um estado interno, como sensação visceral, ou em eventos externos através da percepção sensorial. Awareness fornece o material basal a partir do qual os animais extraem "qualia", ou idéias subjetivas sobre suas próprias experiências. Pesquisadores têm discutido quais os componentes mínimos para que se considerem os animais conscientes dos estímulos ambientais, sendo que todos os animais tem alguma capacidade de comportamento reativo preciso, o que indica a faculdade de awareness. Idéias populares sobre a consciência sugerem que o fenômeno descreve a condição de se estar cônscio da própria consciência. 

Esforços em se descrever a consciência em termos neurológicos efocaram-se na descrição de redes neurais no cérebro, que desenvolvem awareness de qualia produzidos por outras redes. Sistemas neurais que controlam a atenção servem para atenuar a awareness em animais complexos cujos sistemas nervosos central e periférico fornecem mais informações do que as áreas cognitivas do cérebro podem assimilar. 

Através de um sistema atenuado de awareness, uma mente pode ter consciência de muito mais daquilo que é contemplado numa consciência extendida focada. Quando um paciente vai fazer uma cirurgia é recomendável deixá-lo temporariamente inconsciente. Anestesistas se especializaram nisso, e a maior responsabilidade é evitar a consciência durante a operação. Isso se consegue através do uso de drogas anestésicas via venosa e pulmonar. Awareness também é um conceito usado em CSCW. Ainda não existem consensos na comunidade científica, nessa área.


Terapia Gestalt
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A terapia gestalt é uma psicoterapia baseada no ideal experimental do "aqui-agora" e nas relações com os outros e com o mundo, e foi co-fundada por Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman nos anos 40-50. Está relacionada com, mas não é a mesma coisa que, a psicologia gestalt e a psicoterapia teórica gestalt de Hans-Juergen Walter, baseada na psicologia gestalt. Inicialmente baseada nas ideias da psicologia gestalt e na psicoterapia tradicional, a terapia gestalt foi desenvolvida como modelo psicoterapéutico, com uma teoria bem desenvolvida que combina abordagens fenomenológicas, existencialistas, dialógicas e de campo ao processo de transformação e crescimento dos seres humanos. O método e objetivo de sua terapia é a awareness. Awareness refere-se a capacidade de aperceber-se do que se passa dentro de si e fora de si no momento presente, em nível corporal, mental e emocional.


AWARENESS
Awareness From Wikipedia, the free encyclopedia

In biological psychology, awareness describes a human or animal's perception and cognitive reaction to a condition or event. Awareness does not necessarily imply understanding, just an ability to be conscious of, feel or perceive. Awareness is a relative concept. An animal may be partially aware, may be subconsciously aware, or may be acutely aware of an event. Awareness may be focused on an internal state, such as a visceral feeling, or on external events by way of sensory perception. Awareness provides the raw material from which animals develop qualia, or subjective ideas about their experience. Researchers have debated what minimal components are necessary for animals to be aware of environmental stimuli, though all animals have some capacity for acute reactive behavior that implies a faculty for awareness. Popular ideas about consciousness suggest the phenomenon describes a condition of being aware of one's awareness. Efforts to describe consciousness in neurological terms have focused on describing networks in the brain that develop awareness of the qualia developed by other networks. Neural systems that regulate attention serve to attenuate awareness among complex animals whose central and peripheral nervous system provides more information than cognitive areas of the brain can assimilate. Within an attenuated system of awareness, a mind might be aware of much more than is being contemplated in a focused extended consciousness. When a patient goes for a surgical operation, it is desirable to temporarily make the patient unaware. Anaesthesiologists specialise in this and a major responsibility is to prevent awareness during the operation. This is achieved by giving anesthetic drugs through the veins and through the lungs. Awareness is also a concept used in CSCW. Its definition has not yet reached a consensus in the scientific community.

Cartografia Ampliada da Psique Humana: Repensando a maneira de compreender o ser humano

Stanislav Grof conduziu pessoalmente mais de 4.000 sessões psicodélicas, e teve acesso a mais de 2.000 sessões conduzidas por colegas seus. Também supervisionou mais de 30.000 sessões holotrópicas, junto com sua esposa Christina Grof, e além disso trabalhou também com pessoas que sofriam de crises psico-espirituais espontâneas.

Diante desta vasta experiência em estados ampliados de consciência, categorizou 3 tipos de experiências disponíveis: as Biográficas-Rememorativas, Perinatais e Transpessoais.
Nivel biográfico-rememorativo: Inclui o inconsciente individual e acontecimentos importantes na sua história individual. É o domínio mais facilmente acessível da psique.

Nivel Perinatal: O prefixo "peri" significa próximo ou ao redor, enquanto que "natal" quer dizer nascimento. Diz respeito ao período que vai desde que o bebê se encontra no útero até a sua saída completa pelo canal de nascimento para o mundo.É um intermediário entre o inconsciente individual e o inconsciente transpessoal ou coletivo. Significa que podemos entrar em contato com emoções, arquétipos, e vivências que ultrapassam o limite do individual, e abrangem toda a humanidade, e até mesmo toda a natureza.

Observa-se que esse tipo de experiência caracteriza-se por uma revivência e regressão a um estado intra-uterino, porém, não se restringe a uma simples regressão ao estado fetal. As matrizes perinatais se relacionam com as memórias do parto biológico, assim como com arquétipos do inconsciente coletivo. Nem sempre uma experiência perinatal é uma regressão ou revivência do próprio parto biológico, mas costuma ser uma experiência arquetípica, ou seja, um padrão ou modelo que contém uma série de emoções, sensações e imagens que são coletivas, e por isso, não fazem parte da história individual.

Através do perinatal é possível acessar toda uma gama de sensações, emoções intensas, reações instintivas que não nos são compreendidas, mas podem ser familiares. Toda essa quantidade de energia que nos permeia, e se mantém em nosso organismo, fica armazenada, influenciando nossa visão de mundo, de nós mesmos e da realidade como um todo.

Os estados ampliados de consciência, mais especificamente, os holotrópicos, tem um enorme potencial heurístico, de cura e de transformação. Assim, quando estamos sentindo e nos conectando com nossa história pessoal, com a história coletiva e transpessoal de uma e de várias emoções, existe um movimento em direção à totalidade (Holo-do grego,Holos=totalidade, e Tropico, do grego trepein=ir em direção, orientar-se à), e um movimento de cura e transformação.
O perinatal pode ser dividido, didáticamente, em 4 etapas ou "Matrizes".
Matriz Perinatal Básica I (MPB I)
Matriz Perinatal Básica II (MPB II)
Matriz Perinatal Básica III (MPB III)
Matriz Perinatal Básica IV (MPB IV)

Nivel Transpessoal: As experiências transpessoais se caracterizam por uma ampliação dos limites usuais e comuns a que estamos acostumados a perceber a nós mesmos na vida cotidiana. Quando entramos em contato com os estados holotrópicos e com experiências transpessoais, percebemos que estamos identificados com uma pequenina parcela daquilo que realmente somos.

O nosso corpo, ego, e consciência individuais são uma pequena parte da nossa identidade maior, transcendente e divina, com os quais estamos tão adaptados e restringidos. Nos sentimos separados de tudo e de todos, as barreiras e limites são bem delimitados, o tempo é linear, o espaço é tridimensional, e a nossa mente se restringe às nossas memórias, fantasias e dados da realidade consensual, tais como dentro é diferente de fora, acima não é o mesmo que abaixo, e etc.

Quando entramos no dominio transpessoal, somos capazes de nos identificarmos com toda a espécie humana, todo um povo, uma determinada cultura, sem que tenhamos conhecimento intelectual prévio. Podemos vir a conhecer em detalhes as características, os modos de vida, de gerações inteiras. Animais, plantas, processos biológicos, minerais, moléculas, átomos, sistemas planetários, o Vazio originário, Deus, a Criação. Pode haver ou não, a perda temporária da identidade pessoal, podemos nos sentir fundidos mas ainda conscientes da nossa própria, podemos sentir que existe uma única consciência que habita todos.

Além da Psicanálise - Stanislav Grof

Além da Psicanálise - Stanislav Grof
O Futuro da Psiquiatria:
Desafios conceituais para a Psiquiatria, Psicologia e Psicoterapia

O trabalho clínico com formas variadas de poderosas psicoterapias experienciais e com substâncias psicodélicas trouxe incontestáveis evidências que a imagem freudiana da psique é extremamente superficial. Pessoas experienciando profunda regressão experiencial com o uso destas novas técnicas rapidamente se movem para além das memórias da infância e alcançam o nível da sua psique que contém os arquivos de memórias traumáticas do nascimento biológico.

Nesse ponto, se encontram com emoções e sensações físicas de extrema intensidade, frequentemente ultrapassando qualquer outra coisa considerada como possibilidade humana. As experiências originadas nesse nível da psique representam uma estranha mistura de um encontro destrutivo com a morte e a luta para nascer.

-- Stanislav Grof, M.D., H. R. Giger and the Soul of the Twentieth Century

Resumo

Pesquisas modernas de estados holotrópicos (um grande sub-grupo de estados incomuns de consciência), como psicoterapia experiencial, trabalho clínico e laboratorial com substâncias psicodélicas, antropologia de campo, tanatologia e terapia com indivíduos passando por crises psico-espirituais ("emergências espirituais"), gerou uma gama de extraordinárias observações que minaram algumas hipóteses muito fundamentais da moderna psiquiatria, psicologia e psicoterapia. Algumas dessas descobertas desafiam seriamente os princípios filosóficos da ciência ocidental, no que diz respeito à relação entre matéria, vida e consciência. Este artigo resume as mais importantes e grandes revisões que teremos de revisar a respeito do nosso entendimento de consciência e de psique humana, na saúde e na doença, para acomodar tais desafios conceituais:

1. Ao contrário da ciência acadêmica, o "programa" da psique humana não se limita à biografia pós-natal e ao inconsciente individual freudiano. A psique humana individual inclui duas importantes dimensões adicionais - o domínio perinatal, estreitamente relacionado ao trauma do nascimento, e o domínio transpessoal, a fonte das experiências que transcendem o ego-corporal - e essencialmente se iguala à toda a existência.

2. As desordens emocionais e psicossomáticas de origem psicogênica não podem ser explicadas adequadamente a partir de eventos pós-natais traumáticos; elas têm importantes raízes perinatais e transpessoais. Por essas razões, uma psicoterapia efetiva precisa incluir estes domínios trans-biográficos, e não pode se limitar ao trabalho do material da vida pós-natal.

3. Além de lidar com o material biográfico, que é de costume nas variadas escolas psicoterápicas do Ocidente, os estados holotrópicos oferecem poderosos mecanismos de cura que estão disponíveis nos níveis perinatal e transpessoal da psique humana, tais como o reviver do nascimento biológico e a experiência de morte e renascimento psico-espiritual, experiências de vidas passadas, sequências arquetípicas, episódios de unidade cósmica, e outros.

4. Estados holotrópicos, espontâneos ou induzidos mobilizam forças curativas intrínsecas ao organismo. Se adequadamente suportadas e apoiadas, podem resultar em cura emocional e psicossomática, tranformação positiva da personalidade e evolução da consciência. Elas oferecem possibilidades terapêuticas radicalmente diferentes e superiores dos esforços convencionais, de racionalmente entender as dinâmicas das desordens, e tratá-las através de intervenções da psicoterapia verbal, que refletem a crenças de variadas escolas de psicoterapia.

5. Espiritualidade na forma genuína é uma legítima e importante dimensão da existência, e é incorreto dispensá-la como um produto da ignorância, superstição, pensamento mágico primitivo ou patologia. Experiências místicas não devem ser vistas como indicação de doenças mentais, mas como manifestações normais e muito desejáveis da psique humana, com extraordinários potenciais de cura e transformação.

6. Muitas das experiências em estados incomuns de consciência desafiam seriamente não apenas as teorias atuais da psiquiatria, mas também suposições filosóficas básicas da ciência ocidental materialista, no que diz respeito à natureza da realidade e a relação entre matéria e consciência. Sob a luz das novas descobertas, a consciência não é um produto de processos neurofisiolóicos do cérebro, mas um aspecto fundamental da existência, mediado pelo cérebro, mas não produzido por ele.

Potenciais curativos e heurísticos das experiências holotrópicas

A fonte das observações exploradas nesse artigo foi um estudo sistemático de longa-duração do que a psiquiatria acadêmica chama estados “alterados” ou “estados incomuns de consciência.” O foco principal dessa pesquisa foram as experiências que representam uma fonte útil de dados sobre a psique humana e as que tem um potencial transformador e evolucionário. Para esse objetivo, o termo “estado incomum de consciência” é genérico demais; pode incluir um grande espectro de condições que não nos interessam ou são irrelevantes nesse ponto.

A consciência pode ser profundamente alterada por uma variedade de processos patológicos – traumas cerebrais, intoxicações por venenos, infecções, ou processos degenerativos e circulatórios no cérebro. Tais condições pode resultar em profundas alterações mentais que seriam incluídas em uma categoria de “estados incomuns de consciência”. Entretanto, eles causam “delíros triviais” ou “psicoses orgânicas”, estados associados a desorientação geral, suas funções intelectuais ficam significativamente danificadas e tipicamente sofrem de amnésia após suas experiências. Essas condilções são muito importantes clinicamente, mas são irrelevantes para nossa discussão.

Esse artigo sintetiza observações enfocando um grande e importante sub-grupo de estados incomuns de consciência, para o qual a psiquiatria contemporânea não tem um termo específico. Cheguei à conclusão que, pelas suas características próprias, merecem serem diferenciadas do resto e colocadas numa categoria especial. Por essa razão, criei o nome holotrópico. Essa combinação literalmente significa “orientado para a totalidade / inteireza” ou “indo em direção à totalidade / inteireza” (do grego holos = totalidade / inteireza e trepein = indo em direção a algo). O sentido completo desse termo e a justificativa para tal uso ficarão claros em breve nesse artigo. O nome sugere que em nosso estado comum de consciência estamos fragmentados e identificados com uma pequena fração do que realmente somos.

Nos estados holotrópicos, a consciência se altera qualitativamente de uma maneira profunda e fundamental, mas não da mesma maneira que as psicoses orgânicas ou delírios triviais. Nosso campo de consciência pode ser invadido por conteúdos de outras dimensões da existência, que podem ser muito intensas e até mesmo avassaladores. Ao mesmo tempo não perdemos contato com a realidade diária. Estados holotrópicos se caracterizam por uma mudança específica na consciência associada à mudanças dramáticas em todas as áreas sensoriais, emoções intensas e incomuns, profundas alterações nos processos de pensamento. São também acompanhadas de uma variedade de manifestações psicossomáticas intensas, e formas incomuns de comportamento.

O conteúdo dos estados holotrópicos costuma ser espiritual ou místico. Podemos experienciar sequências de morte e renascimento e um variado espectro de fenômenos transpessoais, como sentimentos de união e identificação com outras pessoas, natureza, universo, e Deus. Podemos desvendar o que parecem ser memórias de outras encarnações, encontros poderosos com figuras arquetípicas, nos comunicarmos com seres desencarnados e visitar numerosas paisagens mitológicas. Nossa consciência pode se separar do nosso corpo e ainda assim reter sua capacidade de perceber o ambiente imediato e locações remotas.
A psiquiatria ocidental está ciente da existência dos estados holotrópicos mas, por causa do seu estreito quadro referencial limitado à biografia pós-natal e ao inconsciente individual freudiano, eles não têm explicações coerentes para eles. Eles vêm tais estados como patológicos produtos do cérebro, sintomas de doença mental severa, psicose. Essa conclusão não se sustenta em descobertas clínicas e é no mínimo, altamente problemática. Ao se referir a tais condições como “psicoses endógenas” pode parecer impressionante para alguém leigo, mas demonstra ignorância profissional no que diz respeito à etiologia de tais condições.

É difícil imaginar como um processo patológico afetando o cérebro poderia produzir um rico e intrincado processo de experiências holotrópicas, envolvendo fenômenos de sequência de morte e renascimento espiritual, encontros com seres arquetípicos, visitas a campos mitológicos, sequencias de vidas passadas de outras culturas, ou visões de discos voadores e sequestros (abduções) por alienígenas. Além disso, um estudo cuidadoso da natureza dessas experiêncis e as informações que elas trazem contradizem diretamente tal intepretação patológica. Uma das funções desse texto é explorar o estado ontológico das experiências holotrópicas e demonstrar que são fenômenos sui generis – manifestações normais da psique humana com um enorme potencial de heurístico e de cura.

Culturas antigas e aborígenes passaram muito tempo e usaram muita energia desenvolvendo técnicas poderosas de alteração da mente que induzem estados holotrópicos. Essas “tecnologias do sagrado” agregam de várias maneiras canto, respiração, tambores, dança rítmica, isolamento social e sensorial, dor física extrema, e outros elementos (Eliade 1964, Campbell 1984). Muitas culturas usaram plantas contendo alcalóides psicodélicos (Stafford 1977, Schultes e Hofman 1979).
ltes and Hofmann 1979).
Famosos exemplos dessas plantas são variedades de maconha, cogumelos “mágicos”, o cacto mexicano peyote, pós caribenhos e sul-ammericanos, planta africana eboga, e Banisteriopsis caapi da selva amazônica, fonte do yagé ou ayahuasca. Secreções da pele de alguns animais e a carne do peixe do pacífico Kyphosus fuscus.

Facilitadores adicionais de experiências holotrópicas são variadas formas de prática espiritual envolvendo exercícios de meditação, concentração, respiração e movimentos usados em diferentes sistemas de yoga, Vipassana ou Zen Budista, Vajrayana Tibetana, Taoismo, misticismo cristão, sufismo, ou cabala. Outras técnicas usadas em mistérios antigos de morte e renascimento, como iniciações do templo egípcio de Isis e Osiris e o Grego Bacchanalia, ritos de Attis e Adonis, e os mistérios Elêusios. As especificidades dos ritos secretos continuam desconhecidos, mas é possível que preparações psicodélicas tenham tido uma participação importante nesses ritos (Wasson, Hofmann, e Ruck 1978).

Meios modernos de indução de estados holotrópicos de consciência são os princípios ativos de plantas psicodélicas (mescalina, psilocibina, derivados da triptamina, harmalina, ibogaína, cannabinóis, e outros), substâncias sintéticas (LSD, anfetaminas e quetamina) (Shulgin e Shulgin 1991), e formas poderosas de psicoterapia, como hipnose, técnicas neo-reichianas, terapia primal e renascimento. Minha esposa Christina e eu desenvolvemos a respiração holotrópica, um método poderoso de facilitar estados holotrópicos de maneiras muito simples – respiração consciente, música evocatica e trabalho corporal focalizado (Grof 1988).

Existem meios eficientes de alteração de consciência em laboratório. Uma destas é isolamento sensorial, que envolve a redução de estímulos sensoriais básicos. Nessa forma de privação sensorial, ocorre a submersão do corpo em um tanque escuro onde o corpo flutua em água com temperatura corporal (Lilly 1977). Outra técnica conhecida de laboratório de alteração de consciência é o biofeedback, onde o indivíduo é guiado por sinais eletrônicos a estados incomuns de consciência, levando em conta certas frequencias de ondas cerebrais (Green e Green 1978). Podemos citar também as técnicas de sono e privação de sonhos e sonhos lúcidos (LaBerge 1985).

Vale apontar que estados holotrópicos de duração variada podem ocorrer também espontaneamente, sem uma causa aparente, e normalmente contra a vontade da pessoa envolvida. Como a psiquiatria moderna não diferencia os estados místicos e espirituais das doenças mentais, muitas pessoas nesses estados são muitas vezes consideradas psicóticas, são hospitalizadas e recebem tratamento com remédios supressores farmacológicos. Minha esposa e eu vemos esses estados como crises psicoespirituais ou “emegências espirituais”. Acreditamos que quando são adequadamente apoiadas e tratadas, podem resultar em cura emocional e psicossomática, transformação positiva da personalidade e evolução da consciência. (Grof e Grof 1989, 1990).

Culturas antigas e pré-industriais consideravam os estados holotrópicos como de alta importância, praticavam eles regularmente em contextos socialmente regrados, e dispendiam muito tempo e energia desenvolvendo técnicas seguras e eficazes de induzir tais estados. Foram os veículos principais das suas vidas rituais e espirituais, como uma comunicação direta com os domínios arquetípicos de deidades e demônios, forças da natureza, reino animal, e o cosmos. Outros usos envolviam diagnósticos e curas de doenças, desenvolvimento da intuição e percepção extra-sensorial, obtenção de inspiração artística, e com objetivos práticos, como encontrar objetos e pessoas perdidas. De acordo com o antropólogo Victor Turner, o compartilhar em grupo ajuda também na união da tribo e tende a criar um senso de profunda conexão (communitas).

A psiquiatria e psicologia ocidentais não enxergam os estados holotrópicos (exceto os sonhos que não são recorrentes ou assustadores) como potenciais fontes de valiosas informações sobre a psique humana e sobre cura, mas basicamente como fenômenos patológicos. Clínicos tradicionais usam indiscriminadamente nomes patológicos e medicação supressiva sempre que tais estados ocorrem espontaneamente. Michael Harner, antropólogo de boa base acadêmica, que passou por uma iniciação e prática xamânica durante o seu trabalho de campo na selva amazônica, sugere que a psiquiatria ocidental se divide em pelo menos dois significativos modos (Harner 1980).

É etnocêntrica, o que significa que se considera como a única correta e superior forma de ver a psique humana e a realidade, em comparação a todos os outros grupos. Dessa perspectiva, experiências e comportamentos de onde não existe explicação psicanalítica ou comportamentalista, são vistas como doença mental. De acordo com Harner, a psiquiatria ocidental também é “cognocêntrica” (uma palavra mais precisa seria “pragmacêntrica”), indicando que leva em consideração apenas experiências e observações dos estados comuns de consciência. O desinteresse da psiquiatria pelo estados holotrópicos resultou em uma visão de mundo insensível e com tendência a patologizar todas as atividades que não sejam compreendidas no estreito contexto do paradigma materialista monista. A vida ritual e espiritual das culturas antigas e pré-industriais e a história espiritual da humanidade inteira estão incluídas nessas atividades patologizadas.

Se estudarmos sistematicamente as experiências e resultados associados com os estados holotópicos, passamos a ter, inevitavelmente uma revisão radical de nossas idéias mais básicas sobre a consciência e a psique humana, assim como uma nova visão da psiquiatria, psicologia e psicoterapia. As mudanças que teremos de fazer em nossa maneira de pensar se abrem em grandes categorias:

1. Nova compreensão e cartografia da psique humana.
2. A natureza e arquitetura das desordens emocionais e psicossomáticas.
3. Mecanismos terapêuticos e o processo de cura.
4. Estratégias de psicoterapia e auto-exploração.
5. A natureza da realidade.

Bibliografia_1

Grof, S. :Psicologia do Futuro, lições das pesquisas modernas da consciência - Niterói, RJ : Heresis, 2000
Grof, S. :A aventura da autodescoberta. São Paulo : Summus,1997
Grof, S. :A mente holotrópica:novos conhecimentos sobre psicologia e pesquisa da consciência. Rio de Janeiro : Rocco, 1994
Grof, S. :Além do Cérebro: nascimento, morte e transcendência em psicoterapia. São Paulo: McGraw-Hill, 1987