Google+ Transpessoal e Fenomenologia Existencial: 21 de jan. de 2007

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Dominio Perinatal do Inconsciente

Perinatal

O prefixo "peri" significa próximo ou ao redor, enquanto que "natal" quer dizer nascimento. Assim, perinatal diz respeito ao período que vai desde que o bebê se encontra no útero até a sua saída completa pelo canal de nascimento para o mundo. O domínio perinatal do inconsciente é um intermediário entre o inconsciente individual e o inconsciente transpessoal. Isso significa que podemos entrar em contato com emoções, arquétipos, e vivências que ultrapassam o limite do individual, e abrangem toda a humanidade, e até mesmo toda a natureza. Observa-se que esse tipo de experiência caracteriza-se por uma revivência e regressão a um estado intra-uterino, porém, não se restringe a uma simples regressão ao estado fetal.
Através do perinatal é possível acessar toda uma gama de sensações, emoções intensas, reações instintivas que não nos são compreendidas, mas nos são muito familiares. Toda essa quantidade de energia que nos permeia, e se mantém em nosso organismo, fica armazenada, influenciando nossa visão de mundo, de nós mesmos e da realidade como um todo. Os estados ampliados de consciência, mais especificamente, os holotrópicos, tem um enorme potencial heurístico, de cura e de transformação. Assim, quando estamos sentindo e nos conectando com nossa história pessoal, com a história coletiva e transpessoal de uma e de várias emoções, existe um movimento em direção à totalidade (Holo-do grego,Holos=totalidade, e Tropico, do grego trepein=ir em direção, orientar-se à), e um movimento de cura e transformação.

O nascimento pode ser dividido, a nível didático, em 4 etapas ou "matrizes", cada uma com características próprias, imagens, fenomenologia, sensações físicas relacionadas, e se relacionam a zonas erógenas freudianas e várias formas de psicopatologia.

Primeira Matriz Perinatal Básica (MBP-I) - O universo amniótico

O feto encontra-se em perfeita simbiose com a mãe. A vida no útero materno é imperturbada, as condições do feto são próximas do ideal. Os elementos do estado intra-uterino imperturbado podem ser acompanhados por experiências que compartilham a falta de limites e de obstruções. Pode sentir-se no meio do oceano, se identificar com algumas espécies aquáticas, ou com o cosmos, espaço, a galáxia, ou ainda numa nave em órbita. Imagens da natureza no seu melhor aspecto, bonita, segura e incondicionalmente alimentadora (Mãe Natureza). Visões do paraíso.

Caso a gravidez tenha sido de alguma maneira perturbada por doenças maternas, fumo, bebidas, drogas, desequíbrios químicos dentro do útero, a vivência não será tão positiva e alimentadora. Perigos submarinos, poluição de rios, mares ou oceanos, natureza contaminada e inóspita. Identificação com pessoas ou animais envenenados, em câmaras de gás em campos de concentração. Forças metafísicas malignas, influências astrais maléficas. Terror e paranóia.

O principal elemento dessa matriz é a falta de limites, uma vez que não existe diferenciação entre o feto e a mãe. Assim, qualquer coisa boa ou ruim será vivenciada como algo amplo, indiferenciado. A paranóia também diz respeito à falta de limites e indiferenciação entre sujeito e objeto.
Quadro I - (do livro "Além do Cérebro", de S. Grof)

Síndromes psicopatológicas: Psicoses esquizofrênicas (sintomatologia paranóide, sentimentos de união mística, encontros com forças maléficas metafísicas); hipocondrialgia (baseada em sensações físicas estranhas e bizarras); alucinações histéricas e devaneios confusos com a realidade.

Atividades correspondentes nas zonas erógenas freudianas:Satisfação libidinal em todas as zonas erógenas; sensações libidinais durante o banho ou balanço; aproximação parcial a esta condição após satisfação oral, anal, uretral ou genital após o parto.

Memórias associadas da vida pós natal:Situações na vida nas quais todas as necessidades importantes são satisfeitas como: momentos felizes da infância (bons cuidados maternos, brincar com outras crianças, períodos harmoniosos na família,etc.); realização no amor, romances, férias ou viagens para lugares de beleza natural; contato com criações artísticas de alto-nível, natação no oceano ou em lagos límpidos etc.

Fenomenologia da Primeira Matriz:Vida intra-uterina tranquila: lembranças realísticas de experiências do "útero agradável";tipo de êxtase "oceânico", natureza sob seu melhor aspecto (Mãe Natureza);experiências de unidade cósmica;visões de Céu e Paraíso.

Distúrbios da vida intra-uterina: lembranças realísticas do "útero desagradável" (crises fetais, doenças, revolta materna, situação do gêmeo, tentativas de aborto); ameaça universal; idealização paranóide, desagradáveis sensações físicas ("porre", arrepios e espasmos, gostos desagradáveis, desgosto, sensação de evenenamento); encontro com entidades demoníacas e outras formas metafísicas e maléficas.


Segunda Matriz Perinatal Básica (MPB II) - Antagonismo com a mãe



Contrações em um sistema uterino fechado. O inferno sem saída. Neste estágio do parto, a cérvice (o canal vaginal) ainda não está aberta, e o bebê não pode sair, enquanto enormes pressões atuam sobre ele. O conforto do estágio anterior não existe mais, a temperatura costuma estar mais fria, a pressão sobre o corpo do bebê pode estar atrapalhando a circulação e o fornecimento de sangue e de calor para ele. É uma das piores situações que se pode reviver. Paradoxalmente, a única saída é aceitar completamente e render-se à situação sem saída.
Os sentimentos relacionados são: ausência de saída, ausência de sentido da vida, estar em uma situação sem solução possível, tais como prisioneiros em campos de concentração, internos em hospícios, enterrados vivos, isolamento, solidão existencial, medo, vitimização completa, medo de enlouquecer ou de nunca mais voltar. O mito de Sísifo, condenado a levar uma pedra que cairá indefinidamente depois que ele conseguir colocá-la no topo da montanha. Identificar-se com Cristo preso à cruz perguntando por que Deus o abandonou. Danação eterna.
Quando se está sobre influência dessa matriz perinatal, a pessoa está seletivamente cega aos aspectos positivos da vida, e tudo lhe parece sem sentido, a vida parece um teatro encenado por atores que não agem com sinceridade. A inevitabilidade da morte se revela presente em todos os momentos, tornando a vida sem sentido. Se vivenciado em toda a sua profundidade, pode ser extremamente libertador e promover uma importante abertura espiritual.

Terceira Matriz Perinatal Básica (MPB III)
Luta de morte-renascimento

Inferno com saída. Nesse estágio do parto ainda existem pressões sobre o bebê, porém o canal de parto encontra-se com alguma abertura. Costumamos dizer "Uma luz no fim do túnel." O papel de vítima não é o único presente, mas também o de agressor, assim como o de um terceiro observador que se identifica com os dois outros papéis. Os três papéis são vividos ao mesmo tempo. O bebê não é uma mera vítima, presa em um ambiente sem saída como antes, mas agora também se esforça para sobreviver e sair do canal de parto. Envolve pressões mecânicas esmagadorasm dores e muitas vezes um alto grau de anoxia e asfixia. Intensa ansiedade é um elemento concomitante natural de tal situação.

Pode haver interrupção da circulação sanguínea em função das contrações uterinas e da compressão das artérias uterinas. Pode haver enrolamento do cordão embilical em torno do pescoço ou o cordão pode estar esmagado. A placenta pode se soltar e bloquear a passagem (placenta prévia). Em alguns casos o feto pode inalar vários tipos de materiais biológicos. Pode haver a necessidade de intervenção mecânica, como o uso de fórceps ou mesmo cesariana. Sentimentos de separação tipo "eu e os outros". Elementos sadomasoquistas (inflingir e receber sofrimento) , escatológicos (tanto fezes e excrementos quanto imagens do fim-do-mundo), comportamento sexual anormal, depressão agitada, desvios sexuais (sadomasoquismo, beber urina e comer fezes). Fogo purificador e consumidor dos aspectos negativos da psique.

Aspecto titânico - face à enormidade de forças mecânicas envolvidas no estágio final do nascimento. É comum experimentarmos correntes de energia, de intensidade avassaladora, precorrendo todo o corpo. Podemos nos identificar com forças da natureza: vulcões, tempestades elétricas, terremotos, ondas gigantes e furacões. Ou também vivenciarmos elementos da tecnologia que envolvam muita energia, tais como tanques, foguetes, bombas atômicas e reatores termonucleares. Batalhas de proporções gigantescas e arquetípicas, entre o Bem e o Mal, Luz e Trevas, anjos e demônios, deuses e os Titâs.

Aspecto agressivo e sadomasoquista - Reflexos da fúria biológica do organismo cuja sobrevivência é ameaçada pela asfixia e pelas contrações uterinas podem ser: crueldades avassaladoras, assassinatos e suicídios violentos (morrer debaixo das rodas de veículos ou com armas de fogo), mutilações e auto-mutilações, massacres variados, tortura, execução, sacrifício, rituais, auto-sacrifício, combates sangrentos homem-a-homem, e prática sadomasoquista. Excitação sexual e extase sexual, em função de um mecanismo fisiológico que converte sofrimento biológico em prazer e excitação. Experiências sexuais no contexto dessa Matriz caracterizam-se por uma enorme intensidade do impulso sexual, qualidade mecânica não seletiva, natureza exploradora, pornográfica e desviada. Cenas de bordéis, submundo sexual, práticas sexuais extravagantes, sequências sadomasoquistas, incesto, abuso sexual ou estupro. Algumas poucas vezes podem aparecer crimes sexuais, como desmembramento, canibalismo e necrofilia. Esse nível da psique é uma base natural para disfunções, variações, desvios e perversões sexuais, em função da combinação de excitação sexual exacerbada conectada e elementos problemáticos, de ameaça à vida, perigo extremo, ansiedade, agressividade, impulsos auto-destrutivos, dor fisica e materiais biológicos.

Aspecto demoníaco - Quando aparece esse aspecto, costuma ser encarado com relutância tanto pelos terapeutas quanto por quem o experimenta. Temas comuns são Sabá das Feiticeiras, orgias satânicas, rituais de Missa Negra, e a tentação por forças malévolas. O encontro com o lado obscuro da nossa personalidade, a Sombra, pode ser encarada como demoníaco ou malévolo. Quando se consegue integrar adequadamente esse aspecto sombrio, o resultado costuma ser muito bom, mas pode ser difícil de se alcançar, dependendo da formação e das crenças de quem encara tais aspectos.

Aspecto escatológico - Tem sua base biológica porque durante o parto o bebê pode entrar em contato com sangue, secreções vaginais, urina e até fezes. Porém a experiência costuma exceder em muito o que o feto realmente experienciou durante o nascimento. Cenas de arrastar-se no lixo, em esgotos, chafurdar em pilhas de escremento, beber sangue ou urina, imagens repulsivas de putrefação. Escatologia também se refere ao fim de alguma coisa. Próximo do término, a experiência fica menos violenta e perturbadora. Imagens de conquistas de novos territórios, caças de animais selvagens, esportes perigosos e aventuras em parques de diversão, ondas de adrenalina, corridas de carro, saltos de pára-quedas ou com elástico, performances perigosas de circo ou mergulhos acrobáticos.

Encontro com o fogo - Logo antes do renascimento espiritual podemos encontrar o elemento fogo, tanto em suua forma comum diária, como em forma arquetípica do fogo do purgatório. Sensações que estamos com o corpo pegando fogo, visões de cidades e florestas em chamas, identificação com vítimas de imolação. O fogo parece queimar tudo o que há de impuro e corrompido em nós, e preparar-nos para o renascimento espiritual. Símbolo clássico é a Fênix, pássaro lendário que morre no fogo e renasce das cinzas.


Desordens emocionais e psicossomáticas relacionadas:

Agorafobia - medo de lugares abertos ou da transição de um para o outro. No nível perinatal está relacionada ao final da Matriz III, quando a liberação repentina, após muitas horas de confinamento extremo, é acompanhada do medo de perder todas as fronteiras, de explodir e de deixar de existir.

Bacilofobia e misofobia - medo patológico de materiais biológicos, odores corporais e sujeira. Medo não apenas de ser contaminado, mas de contaminar os outros também, e isso está estritamente relacionado com a agressividade orientada tanto para dentro quanto para fora, o que é exatamente a situação característica dos últimos estágios do nascimento. Os determinantes biográficos costumam envolver memórias da época do treinamento dos esfíncteres, mas suas raízes vão mais fundo e alcançam os aspectos escatológicos da Matriz III, na conexão que existe entre morte, agressividade, excitação sexual e material biológico.
Medo de viajar de trem ou metrô, medo de avião ou de viajar de carro - A falta de controle parece ser um elemento de grande importância nas fobias que envolvem movimento. A excessiva necessidade de estarem no controle da situação é típica dos indivíduos que estão sob forte influência da Matriz III e sistemas COEX relacionados, enquanto a capacidade de se render ao fluxo dos eventos demonstra forte conexão com as Matrizes I e IV.

A sensação de estar preso e a experiência de forças e energias enormes em movimento, sem ter qualquer controle sobre o processo, são elementos em comum dessas fobias, e tais elementos tem fortes conexões com o nascimento. Passar em túneis e passagens subterrêneas também apresentam similaridades com o processo de nascimento experimentado durante a Matriz III. Para que tais situações desencadeiem a fobia, as memórias perinatais têm de estar facilmente disponíveis à consciência.
Acrofobia ou medo de alturas, quereunofobia ou medo patológico de tempestades, pirofobia ou medo do fogo.

Histeria de conversão - transformação simbólica de conflitos inconscientes e de impulsos instintivos em sintomas físicos.

Neurose Obsessivo-Compulsiva

Depressão Agitada

Quarta Matriz Perinatal Básica (MPB IV)
Experiência de morte-renascimento
Essa última matriz está relacionada com os momentos que se sucedem à saída do canal de parto, e aos cuidados imediatamente recebidos pela mãe, por médicos e enfermeiras. Como em todas as matrizes, como existem fortes sentimentos envolvidos, sempre podemos experienciar arquétipos e experiências coletivas concomitantes ao nascimento biológico.

Se o parto real foi sem problemas, sem muita anestesia e os cuidados foram os ideais, então as memórias e experiências arquetípicas associadas são as melhores possíveis: bem-aventurança, sentir-se vitorioso e merecedor da vida, sentir-se amado e querido, sentir-se amado incondicionalmente, sentir-se livre após um grande esforço, sensação de ter deixado tudo o que passou para trás e novo em folha.

Muitas vezes o parto é feito com uma dose alta de anestesia, ou então, o parto é controlado a tal ponto de postergar ao máximo a saída do bebê até que o médico possa realizar o trabalho, ou ainda o parto é programado e a cesárea é o tipo de parto que se realiza. Muitas variáveis podem interferir. Pode ser necessário o uso de fórceps, o cordão pode estar enrolado no pescoço, a criança pode ter nascido quase-morta, sem conseguir respirar, ou na melhor das hipóteses, muito dopada pela anestesia e desorientada.

Caso tenham existido essas inteferências, a experiência de reviver o próprio nascimento e o contato com os aspectos arquetípicos também são diferentes.

Sabe-se que o parto com cesárea programada costuma facilitar que as crianças tenham um acesso mais imediato à espiritualidade, podendo esta ser tanto manifestada com religião ou espiritualidade sem dogmas. A explicação para isso se deve ao fato de o bebê não entrar em contato com as Matrizes II e III, ou pular apenas a Matriz III e encontrar os aspectos da Matriz IV.

No caso da cesárea de emergência, quando o bebê necessita de ajuda para nascer por alguma complicação física durante o parto, isso pode implicar num parto menos ativo da parte dele, e como consequência, não passar pela Matriz III, que refere-se ao momento de confronto, luta pela sobrevivência e uso da força física.
A tendência de nascidos com parto de emergência, pode ser uma atitude mais passiva frente a dificuldades, e a esperança de uma ajuda superior ou divina, como resultado de um registro biológico de ajuda externa por parte da equipe médica que realizou o parto.